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Sem ainda ter acesso a uma instalação de cinema com som 3D e sem esperança de ver uma tão cedo (um porta voz do grupo Severiano Ribeiro diz haver somente uma sala Atmos em Manaus e sem previsão de outras no resto do país), nas últimas semanas eu me lancei em um projeto de colocar a mão em alguma edição em Blu-Ray contendo este tipo de trilha. Eu sei, e olhem que já passei por isso, que não dando bola à qualidade do filme e desviando o interesse para a novidade técnica depois de algum tempo a gente acaba se arrependendo de ter jogado dinheiro fora.

Mas, o lado positivo deste tipo de empreitada é o aprendizado da tecnologia que nos interessa. Com isso, deixa-se de lado o filme, para analisar como soa a trilha sonora.

Montar o som de cinema dentro de casa sem ter como parâmetro a reprodução na sala de cinema é uma tarefa quase que inglória. E eu sei disso porque, junto com outros desta época, eu quebrei lanças no momento da instalação do Dolby Digital 5.1 a partir do Laserdisc com trilha AC-3. Não foram poucos os contatos com conhecidos, junto com o calhamaço de papel impresso, para estudo “off-line” do codec. Depois de algum tempo, as paredes da minha sala de estar mais pareciam um queijo suíço, de tanto buraco que foi feito para localizar a posição ideal das caixas surround. Eventualmente, aprendi a reconhecer limitações e tolerância, importante para quem tenta adaptar o som para a sala e não vice-versa. Em uma sala de estar como a minha eu dificilmente conseguiria a instalação ideal, mas com um critério do que é tolerável foi possível atingir um nível de qualidade de reprodução bastante satisfatório. Quando, há oito anos atrás, eu publiquei um texto sobre este tipo de montagem, durante um longo período de tempo os leitores postaram comentários com solicitações de ajuda, uma prova inequívoca que na maioria dos casos a adaptação do som é feita em um espaço que se acha em casa e que não é inicialmente construído para esta finalidade, que seria o ideal.

A animação entra no som tridimensional dentro de casa

Saíram aqui bem antes da América pela Universal as edições 2D e 3D em Blu-Ray do filme de animação “Minions” que eu entendo ter sido o primeiro título de filme de animação com som tridimensional em mídia ótica. Na verdade, o filme originalmente é feito com duas mixagens tridimensionais: Dolby Atmos e Auro-3D 11.1 canais, como mostram os créditos do fim do filme:

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Como o Auro-3D ainda não se lançou em filmes autorados para Blu-Ray o que está disponível no mercado é a versão com Dolby Atmos, cujo logo é agora proeminente visível na contracapa do disco. Ótimo, por sinal, porque nos discos anteriores as informações sobre as trilhas estão todas na letra miúda, impossíveis de ler mesmo por aqueles que têm visão perfeita.

O leitor mais atento poderá se perguntar porque o som Auro tem especificação do número de canais. Um texto anterior aqui da coluna mostra alguns dos aspectos que diferenciam o Auro dos demais codecs 3D, mas sucintamente eu esclareço que o Auro é mixado por canais, enquanto que no Dolby Atmos e no DTS-X a mixagem é por objetos (sons) dentro do espaço tridimensional, não importando o número de canais reproduzidos. O som destas duas trilhas é adaptado (renderizado) de acordo com o número de canais existentes em uma dada instalação.

Filosofia de mixagem

O que este disco traz de bom, em termos de trilha sonora, é a correta alternância de mixagem entre o 2D (leito) e o 3D (atmosfera). Já foram explicados aqui na coluna os principais fundamentos sobre o Dolby Atmos, não sendo, portanto, necessários repeti-los. Basta dizer que o som multicanal 2D é somente reproduzido pelos canais convencionais, indo até 7.1 canais. O som 3D é renderizado de forma adaptativa e por isso depende do número de caixas “Height” ou Atmos instaladas. O técnico que faz a mixagem coloca o som na forma de um “objeto” em qualquer posição do espaço, seja do leito seja da atmosfera, e o resultado é depois renderizado adaptativamente a partir do número de caixas instaladas no sistema.

Para efeito desta apreciação, o disco foi reproduzido com layout 7.1.2 com duas caixas do tipo Dolby Enabled “up-firing”, na forma de um módulo “Add-on” instalado em cima dos canais frontais esquerdo e direito.

A trilha sonora de Minions não abusa do efeito tridimensional, ao contrário da maioria das que eu ouvi anteriormente, que fizeram o oposto. No caso da trilha de San Andreas, por exemplo, o som chega a ser entulhado e às vezes confuso. Na minha opinião, a trilha sonora deve acompanhar a cena dando ênfase à dramaticidade, e não ser usada para ensurdecer a plateia.

Em Minions, o som elevado é usado de forma inteligente e em alguns momentos os efeitos sonoplásticos envolvem completamente o ambiente. Mesmo sem a referência dos cinemas, eu entendo, salvo melhor juízo, que o som tridimensional deve envolver o ouvinte de uma forma que todas as informações de ambiência possam cerca-lo em toda a extensão da sala, o que é quase que impossível sem a ajuda dos canais elevados.

Instalação e reprodução corretas, sempre que possível

Na época do Dolby Stereo a recomendação era exatamente a de aumentar a difusão de som no ambiente. Daí o laboratório Dolby ter sistematicamente recomendado aos hobbyistas de sempre prestarem atenção à direcionalidade das caixas surround: se fosse possível localizar o som surround no espaço a instalação e o ajuste das caixas estavam errados!

Com o advento do Dolby Digital foi preciso criar um meio termo entre a direcionalidade (localização) do som e o seu espalhamento no ambiente, porque uma vez as caixas instaladas corretamente, elas deveriam ser capazes de espalhar som sem uma localização precisa no espaço, para serem retro compatíveis com as trilhas Dolby Stereo antigas.

Em tempos de Dolby Atmos, a mesma preocupação existe, só que com as instalações de caixas no teto (“in ceiling speakers”): quando localizadas muito próximas ao ouvinte, o som direcional poderá ter prevalência, e o efeito Atmos 3D correndo o risco de ser destruído na origem. Esta é, pelo menos, a recomendação da Dolby para o Atmos, com a qual em tese eu concordo plenamente, mas como eu não testei este tipo de instalação nada posso afirmar a respeito.

Convenhamos, é muita falta de imaginação

Se o leitor me permite, eu sinceramente não consigo perceber, por mais que me esforce, porque os tradutores brasileiros se escusam na própria função ao não traduzir palavras de termos conhecidos. Eles preferiram usar Minions como título, dando a entender que a palavra não tem tradução. Ao evitar traduzir um material dirigido à plateia infantil, corre-se o risco de que a palavra seja entendida com parte do vernáculo e, portanto, deseducando o público-alvo. Eu até entenderia que colocar o título do filme com o uso de uma palavra depreciativa, como servente ou serviçal, possa induzir um raciocínio racista. Então, algum outro termo teria que ser achado, mas nunca de maneira a depreciar a intenção dos autores do filme, porque eles na verdade associaram Minions ao serviçal subserviente.

Minions, como cinema, mistura sentimentos. Os personagens na tela falam uma língua que compreende, segundo os autores, uma reunião de palavras de línguas diversas, inclusive o português. Não existem, por isso mesmo, legendas no decorrer do filme todo. É possível que uma parcela da plateia possa achar tudo isso muito divertido, enquanto que outros se sentirão cansados de ouvir tanta besteira.

Pessoalmente, eu não me sinto mais adepto da animação CGI, que começou com a Pixar de forma inteligente. Há uma constante massificação na elaboração dos designs e personagens, esta sim que cansa depois de um certo ponto. Eu já li queixas na Internet daqueles que vêm nos personagens animados a falta de personalidade ou caráter, sem aprofundamento no contexto da trama dos filmes. Um ou outro filme com animação computadorizada se salva sem este tipo de defeito.

Em Minions o ambiente que predomina é focado na década de 1960, o que me leva a questionar se alguém que não tenha vivido de fato esta época conseguiria se situar no contexto do filme sem ter tido prévia noção daqueles eventos mostrados na tela. Desnecessário dizer que para o público infantil a dúvida é legítima, nem com os pais sentando do lado e explicando tudo!

O que sobra então para a criançada e porque não dizer para os adultos é a comédia pastelão. É fato que os Minions foram criados pelo estafe de roteiristas do estúdio Illuminations. Acontece que o cinema mudo cansou de mostrar personagens similares, como por exemplo, na série “Os Batutinhas” (The Little Rascals), que por acaso foi refilmado há alguns anos atrás.

Para o público experimentado e vivido, as citações sobre a década de 1960 são previsíveis. Os cineastas, por outro lado, não conseguem explicar como a arquivilã Scarlet aparece na tela com um monte de equipamentos que nunca existiram nesta época.

Claro que tudo isto se desculpa em se tratando de animação, e esta é feita com notável competência. O filme tem vários momentos de bom humor, todos capitaneados pelo comportamento levado dos Minions.

No geral, Minions pode agradar a muitos e pouco a outros. Como som e trilha sonora, o filme é, na minha modesta opinião, exemplar! Não há um traço sequer de compressão, a ambiência é fantástica e a trilha como um todo encarcera tudo aquilo que o audiófilo quer atingir na sua sala de estar.

O leitor deve levar ainda em consideração que as salas de cinemas atuais migraram para a projeção digital. Sendo assim, a trilha sonora pode ser escolhida em função dos equipamentos e do layout de caixas instaladas no auditório. Nada de muito diferente do que já acontece no cinema em casa há muito tempo! [Webinsider]

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Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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