Capitalismo, internet e a revisão da ética do lucro

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As empresas devem responder os ataques online com a verdade.

Barry Libert e Rick Faulk, da minha coleção de frases.

As empresas como a conhecemos hoje são o resultado de um longo processo, iniciado com a Revolução Industrial, depois da chegada do livro impresso, que proporcionou um ambiente de troca de informações, muito favorável a poderes centralizados.

Elas basicamente surgiram e evoluíram para oferecer produtos e serviços que nos ajudem a resolver problemas sociais.

Precisamos nos vestir, comer, beber, nos entreter? E as empresas vêm para solucionar estas demandas. Oferece-se algo ao mercado e consegue-se determinada remuneração pelo serviço/produto.

Estabeleceu-se, assim,  a lógica do lucro como necessidade para incentivar a alguém a trazer para a sociedade soluções para os problemas. Um estímulo para que os problemas fossem resolvidos e todos ficassem contentes na relação custo/benefício entre cliente/fornecedor.

Assim, é bom que se diga claramente:

Uma empresa originalmente veio resolver o problema da sociedade e DEPOIS ser remunerada por isso, o tal “dar lucro”.

Com o avanço do capitalismo, a partir da Revolução Francesa, os donos da empresa chegaram e passaram a influenciar  fortemente o poder central. E se sentiu à vontade para tornar o lucro o centro, a mola propulsora, do processo, deixando a resolução do problema para segundo plano.

Estimulando uma lei de mercado, na qual o cliente teria diversas escolhas, vencendo o mais forte. Empresa boa é a que dá lucro!

Resolver problemas é secundário, ou pelo menos, necessário para continuar dando lucro, em uma relação dialética.

E conseguia, de uma forma ou de outra, manter seus consumidores satisfeitos, dentro de um conjunto de informações parcialmente diponíveis.

Na verdade, era um satisfeito pouco informado e nada participativo.

Na verdade, usava-se como recurso padrão um tipo de marketing e propaganda baseados, muitas vezes,  na desinformação e na manipulação para colocar no biombo que o objetivo final não era o acionista, mas um consumidor iludido.

Isso, apesar do contra senso, se manteve intocado como a máxima principal do capitalismo. Os clientes sempre têm razão, depois dos acionistas, claro!

A empresa estava de um lado, com seus acionistas ávidos e seus governantes de plantão para garantir um certo controle, reforçado com a força da mídia. E o consumidor, do outro lado, passivo e manipulado.

O pagodeiro que bebe X  fazendo propaganda de Y.

Mas tudo isso se sustentava numa base de uma ambiente informacional controlado para que o consumidor se sentisse ilusoriamente rei, quando, na verdade, o acionista era a majestade de fato.

Fumaça, fumaça, fumaça. E mais: o produto chegava pronto para o consumo na mesinha do neném. Olha o aviãozinho? abre a boquinha?

Agora, há uma mudança.

Haverá uma revisão da lógica do lucro acima da solução de problemas, pois o que muda com a nova tecnologia informacional é o ambiente de troca de ideias, na qual não há mais a mesma regra de controle.

Não há mais silêncio, o vital silêncio entre os consumidores para a sustentação da ética anterior.

Há vozes discordantes que podem ser recuperadas pelo Google.

E agora? Quebra-se, como mágica, o ambiente controlado pela mídia, no qual as empresas tinham total controle do que circulava, pois eram elas que patrocinavam com seus anúncios seu funcionamento.

Claro que havia pequenas brechas, mas nada que não pudesse ser resolvido com um papo entre o presidente da empresa e o dono do jornal nas grandes crises.

Como não se tinha espaço para que as decisões que privilegiam o lucro em detrimento da solução do problema, pudessem estar claras, nítidas, havia um bom espaço para a manipulação.

Na televisão, a empresa diz que é o seu banco, a sua corretora de imóveis, o seu fabricante de eletrodoméstico, mas por trás dos panos, se fazia mil manobras para que o que você comprava tivesse um cavalo de tróia: antes o lucro, depois você.

Era a falsidade mantida por um sistema baseado no controle informacional da Idade Mídia.

Hoje, com a troca de informações entre os consumidores, via redes eletrônicas, o espaço para esse tipo de manipulação tende a se reduzir cada vez mais. E talvez mude a face da própria ideia do capitalismo.

Será cada vez mais fácil, para o consumidor, onde se inclui o cidadão diante do Estado,  acompanhar e saber o quanto realmente aquela empresa/governo está focada no problema do consumidor/cidadão ou no dos acionistas/amigos do governantes.

Mais:

Agora, até o problema a ser resolvido na ponta, no mercado, que justifica o produto e serviço, está mudando rapidamente!

É preciso, assim, fazer uma parceria de produção cooperativa com o consumidor para evoluir os produtos.

O que leva a empresa a trazer o seu antigo manipulado para dentro de sua corrente de decisões, cada vez mais para cima. O consumidor passa a ganhar status que antes só cabia ao acionista.

Isso tem ocorrido aos poucos, mas é uma tendência forte. O consumidor quer ver solucionado o problema e aceita o lucro, mas desde que haja uma lógica que o defenda.

O espaço para o cavalo de tróia é bem menor!

Isso não se dá na força, na marra, mas no convencimento, o que muda o DNA básico do conceito do lucro x problema.

Hoje, como vemos todos os dias, é cada vez mais difundido o quanto é fundamental criar redes de parceria com fornecedores, empregados e consumidores para acelerar a inovação.

Estas redes, entretanto, não podem se basear na manipulação, mas em um compromisso de todos para solucionar o problema de origem, (que agora, aliás, é cada vez mais mutante.)

Claro, que uma coisa não deve ir contra a outra, espera-se que quem presta um serviço seja remunerado por ele, mas não que coloque o lucro acima da solução do problema.

Esta é a mudança mais profunda que o capitalismo vai viver nesse novo ambiente informacional que estamos entrando.

Criar redes sociais é rever o conceito lá de trás.

Voltar a privilegiar o consumidor e seu problema, em primeiro plano e o acionista em segundo, pois se o consumidor migrar para o concorrente, que vai adotar a mesma rede, o acionista de lá será o beneficiado.

É um ambiente que revisa tudo. Portanto anote:

Criar redes sociais envolvendo consumidores, hoje um discurso predominante no mercado, pressupõe a revisão do conceito de lucro x solução de problemas.

Quantos estão realmente preparados para essa nova fase?

Uma nova ética vai se estabelecendo, na qual, o problema do consumidor está acima de tudo, pois procura-se garantir não mais apenas a fidelidade, mas o envolvimento e a colaboração para fazer pensar junto nas soluções.

Esta aliança não pode se basear na ética passada. Os acionistas devem ser os primeiros a acordar, pois o lucro vai caminhar para quem entender a nova ética primeiro.

Não, não é a internet que está mudando o capitalismo.

Ela trouxe apenas, e somente, uma nova tecnologia que permite um novo ambiente de troca e articulação de ações humanas a distância, na qual os reis e papas corporativos já não podem pedir que todos rezem em latim e ajoelhem em milho da mesma maneira.

O fiel hoje já não é mais o mesmo. Eles trocam entre si em escala global. E aprendem cada vez mais rápido sobre a mentira dos padres.

Querem outra Igreja para consumir na qual são pró-ativos precisam, antes de tudo, ter fé, que elas estão realmente a seu lado, mas com armas poderosas para descobrir quando mentem.

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Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.

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6 respostas

  1. Carlos,

    Meus parabéns pelo artigo, destaco aqui o ponto em que você nos diz que a internet é apenas um nova tecnologia, simples assim.

    É esse o pensamento que devemos ter, chega de bater na tecla web 2.0, isso não existe! O que existe é uma mudança na forma da comunicação de seus usuários.

    Abraço,
    Carlos

  2. Obrigado pela força, Nepomunceno!
    Eu já tinha lido essa sua história! Infelizmente, essa é uma triste realidade brasileira.
    O que eu me pergunto é: será que a culpa é só das empresas? Será que os consumidores não teriam que deixar de ser submissos e passivos?
    Toda vez que faço valer meus direitos de consumidor (ou cidadão), sempre ouço um cara ao lado dizer: “Como esse cara é chato!”.
    Chato? Exigir seus direitos é ser chato? Infelizmente, para muitos passivos acomodados, é!
    Eu também estou “contando uma história triste” através do blog “Ford Nunca Mais”:
    http://fordnuncamais.blogspot.com
    Será que um dia caras “chatos” com o você e eu seremos maioria? Isso eu não sei dizer, mas se acontecer, uma coisa é certa: As empresas terão que tratar o consumidor com mais respeito.
    As que não pensam assim, que torçam contra…

  3. Nepomuceno,
    Parabéns pelo post. Eu concordo com sua visão, e o fato de ver o que penso representado em seu post me dá energia para continuar acreditando.
    O que não é fácil, pois da porta prá fora, o que vemos são empresas que não estão nem aí para o consumidor (veja minha sina com a Ford: http://fordnuncamais.blogspot.com), e “agências de fantasia” como a Anatel, que permitem que a operadora dê baixa nas reclamações mesmo com o cliente dizendo em alto em bom tom que o problema nao foi resolvido (já ocorreu com TIM e Telefónica).
    Espero que essa mudança aconteça logo no Brasil (que é um dos lanternas em termos de respeito pelo cliente). A sociedade precisa disso. E merece!

  4. Sensacional artigo. Parabéns.

    Há muito tempo que eu espero que as empresas larguem mão de pensar principalmente no lucro para pensar na resolução de problemas que a sociedade tem.

    Essa mudança é ótima e muito desejável. Haverá um filtro, em que somente as empresas que se preocupam de verdade com o cliente, vão permanecer. As empresas deve se preocupar com isso? Somente aquelas que não estão nem aí para o consumidor, fabricando produtos de plástico que dão problema em menos de um ano de uso.

    Mudança já! Estou dentro.

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