Em novembro do ano passado, esta coluna fez menção ao primeiro lançamento em Blu-Ray contendo trilha sonora Dolby Atmos, com o título “Transformers: A Era da Extinção”.
Em janeiro deste ano, atualizações em receivers começaram a estar disponíveis, e o meu foi o primeiro deles, contemplando a decodificação do concorrente DTS:X. Curiosamente, o DTS:X em Blu-Ray já havia saído na América, por iniciativa da Lionsgate, ao lançar o título “Ex Machina”, até hoje indisponível no Brasil.
A ausência de software é um fator que tradicionalmente mata sistemas operacionais usados na microinformática e continuaria a produzir o mesmo efeito para os novos codecs usados nas trilhas sonoras do cinema, uma vez lançados no mercado de home vídeo.
Tanto assim que o Auro-3D, com poucos títulos de filmes, e estes poucos lançados exclusivamente no mercado Europeu, desestimulou usuários a gastar dinheiro na atualização dos equipamentos capazes de decodificá-lo.
Quase cinco meses depois, a atualização para o DTS:X começa a fazer sentido. Na minha opinião foi providencial que a DTS disponibilizasse o software decodificador sem nenhum custo para os equipamentos preparados, previamente dotados do decodificador para Dolby Atmos.
O DTS:X nunca chegou, pelo menos que se saiba, às salas de cinema. No ambiente doméstico, ele é apenas uma alternativa aos seus concorrentes Auro-3D e Dolby Atmos, e teoricamente adaptado ao layout de caixas acústicas de qualquer um deles.
Coube à Universal o lançamento recente de “A Colina Escarlate” (“Crimson Peak”, no seu título original) em Blu-Ray, com trilhas DTS:X, uma delas para Headphone, como mostra a parte inferior da contracapa do disco:
Da mesma maneira como o Dolby Atmos, que é uma extensão do Dolby TrueHD, o DTS:X é uma extensão do DTS HD MA, ambos estrategicamente codificados no formato de 7.1 canais. Na ausência do decodificador, o sistema opera com a decodificação do codec HD MA correspondente, e na ausência deste com o “core” do DTS chamado de “Legacy”.
No computador, falta software para decodificar o DTS:X. Um dos meus players identificou a trilha como “HD Audio Plus XLL, 6 canais”, seja lá o que for isso. Outros players conseguem identificar a trilha como DTS ou então DTS HD.
O interessante é que o filme propriamente dito foi mixado e codificado para os cinemas em Dolby Digital, como mostram os créditos de encerramento:
O IMDb fala também de Dolby Surround 7.1, mas ao que eu saiba são poucas as salas equipadas para este formato.
Tudo faz crer, portanto, de que o filme foi inteiramente remixado para som 3D, neste caso apresentado em Blu-Ray como DTS:X.
Apreciação
O filme de Guillermo del Toro é reminiscente de obras antigas do cinema, a maioria vinda ou do cinema mudo ou do cinema de horror da década de 30, da própria Universal, diga-se de passagem, mas sem que o roteiro tenha sido propositalmente desenvolvido com esta intenção. Na verdade, os autores o chamam de “romance gótico”, rótulo com o qual eu concordo parcialmente. Existe um foco bastante evidente na fantasmagoria, e é o diretor quem diz em documentário incluso no disco que ele tinha medo de sair do quarto à noite e passar pelo longo corredor da casa da avó. No filme a cena é recorrente, desde o início da estória.
Como seria de se esperar o filme usa a mixagem da trilha sonora para criar ambiência e desta forma “assustar” a quem está assistindo. E, dependendo de quem seja, acho que consegue!
Na trilha sonora há uma generosa quantidade de efeitos espaciais em 3D, alguns dispersos lateralmente, e principalmente na parte do fundo da sala. Tais efeitos são produzidos com equilíbrio (sem exageros) e com bom gosto, podendo assim ser bem apreciado por fãs de trilhas sonoras e de filmes com temas sobrenaturais.
O lado técnico
A obra de del Toro e colaboradores foi filmada digitalmente com câmeras Alexa produzidas pela Arriflex (Arri Media), e cujo intermediário digital atinge 2K de resolução. A qualidade da imagem no Blu-Ray demonstra este nível de qualidade, mesmo que sem o uso de upscaling para 4K no player ou no processador/receiver.
Durante o filme os cineastas recorreram à dissolução de cena com o uso (simulado) da íris de câmera, lembrando assim os antigos filmes expressionistas da fase alemã do cinema mudo. Este mesmo recurso foi usado com frequência no cinema de horror antigo (décadas de 20 e 30) e parodiado mais recentemente na obra de Mel Books e Gene Wilder “O Jovem Frankenstein”, na década de 1970.
Com este disco é possível obter uma evidência conclusiva de que o DTS:X é totalmente compatível com o Dolby Atmos, em termos de arranjo e montagem de caixas acústicas. No meu sistema, eu uso um layout 7.1.4 com 4 caixas Height (frente e traseira) cuidadosamente instaladas.
Se o DTS:X produz o mesmo efeito com outros layouts ou com a ausência de caixas Atmos, como a DTS alega, eu não seria capaz de dizer.
A trilha especialmente codificada para o DTS:X Headphone, uma vez selecionada na reprodução, induz a escolha automática do receiver para decodificação DTS Neural:X, e os efeitos no sistema de caixas são parecidos, mas não iguais aos da decodificação DTS:X normal. A audição com fones de ouvido não foi tentada em nenhum momento.
No geral, a reprodução da trilha sonora agrada muito, com os diálogos nítidos e pouco direcionais, lembrando a origem Dolby da trilha.
Seja o leitor fã ou não da filmografia de Guillermo del Toro, acho que o lançamento tem qualidades de áudio suficientes para recomendá-lo, até mesmo e inclusive para os que ainda não se aventuraram na instalação do som 3D dentro de casa. [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
Uma resposta
Aos leitores,
Depois que este texto já estava na pauta do nosso editor-chefe, eu tomei conhecimento de que estava em pré-venda o título “A Grande Aposta”, pela Paramount. Se confirmado (o disco terá lançamento nos próximos dias), este será o segundo filme com DTS:X disponível aqui.
Lançamentos Lionsgate, até onde eu saiba, só importando.