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Câmera Cinerama

A história nos prova que é muito mais fácil destruir do que construir! Países arrasados e saídos da segunda grande guerra mundial levaram anos para se reerguer, sem falar no esforço financeiro que permitisse reconstruir tudo.

E porque seria diferente com os chamados cinemas de rua ou palácios da cidade, dotados de projeção em 70 mm?

E o que dizer do desaparecimento das grandes telas curvas, que tanto prazer visual nos proporcionaram anos a fio, e que, lamentavelmente, as novas gerações dificilmente terão o mesmo prazer em ver?

Quando 2001, Uma Odisseia No Espaço foi exibido na tela gigantesca do cinema Roxy, Rio de Janeiro, a sensação do ambiente e do espaço mostrado no filme são até hoje insuperáveis.

Tratava-se de uma cinematografia propositalmente realizada em Cinerama 70 mm, formato que veio substituir com vantagens o Cinerama original de 3 películas. O logotipo original aparece nos créditos finais de 2001:

image001

 

Fotografado em Super Panavision, relação de aspecto 2.20:1, para ser apresentado em Cinerama o negativo em 65 mm teve que ser transformado em cópia retificada. A retificação foi inicialmente adotada no processo Todd-AO, que se propôs a ser o substituto do Cinerama, mas com apenas um fotograma.

Impacto auditivo

E não foi só na imagem que o formato foi vencedor. No Cinerama original nada menos do que 7 canais de som foram produzidos, uma novidade em 1952. No Todd-AO e seus similares, o padrão foi de 6 canais, cinco na tela e um surround, porém a gravação do áudio está embutida na película, em pistas magnéticas de alta fidelidade, correndo rápido no projetor, devido à extensão de 5 perfurações por fotograma.

Em 2001, versão em Cinerama 70, até hoje a mixagem do som não encontrou paralelo nem na versão de alta qualidade em Blu-Ray. Na cena em que os astronautas ficam zonzos na presença do monólito e ecoa um som de média frequência de alta amplitude, o que se viu na época foi a plateia colocar as mãos nos ouvidos, tal qual os astronautas na tela.

O impacto auditivo não é percebido na versão em 70 mm plana (tela sem a mesma curvatura), muito menos na versão em 35 mm, esta com som mono.

Muitos filmes em 70 mm desta época almejaram o mesmo objetivo, e nos créditos o logotipo do formato Cinerama, idêntico ao da fachada do Roxy, continuou a ser exibido:

image003

 

Um monte de filmes em 35 mm foi naquela época ampliado para 70 mm e exibidos como tal, mas todos aqueles, seja Todd-AO ou Super Panavision, encontraram na tela curva do Cinerama o seu maior alcance visual. No Roxy, a tela ia até o teto. Quando o Cinerama acabou, a sala ainda era a mesma, mas com uma tela Panavision convencional, e a imagem ficou pífia em comparação.

Restauradores recentes, como David Strohmaier, recuperaram uma câmera de 3 películas, para filmar um curta de nome “In The Picture”, e apresentado no formato original para alguns poucos privilegiados.

Tal empreitada não é feita somente com o objetivo de resgatar memória ou a tecnologia daquela época. E não é à toa que ainda existem cinemas em outros países capazes de projetar películas de tela curva.

A recuperação de memória vem acompanhada do resgate do formato, de maneira a que as novas gerações entendam e vejam por si próprias o que ficou em jogo e o que foi perdido.

Cineastas em Hollywood têm se aproveitado do 70 mm, mas não do 70 mm em tela ultra curva. O filme de Tarantino recente foi projetado em tela Ultra Panavision plana, e assim mesmo em um número reduzido de salas.

Claro, se dependesse só de mim, eu gostaria de ver de novo os palácios em pé, com tela 70 mm ultra curva, mas isso é querer demais. IMAX é bom, eu diria ótimo, mas não se compara.

Chato é ter isso na memória, e confiar nela para não esquecer o que foi insuperável um dia. Pior será para as novas gerações brasileiras, que não aprenderam a sair dos cinemas multiplex do bairro, na procura de novas emoções de som e imagem. [Webinsider]

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Leia também:

http://br74.teste.website/~webins22/2014/11/16/isto-e-cinerama/

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Paulo, falando em Cinerama, lembro-me além do 2001, Grand Prix, visto no mesmo cinema em S.Paulo, no Majestic, na rua Augusta, esquina com a Av.Paulista, em 1966. Também de encher os olhos e ouvidos. Grande John Frankhermen.
    Abraço.

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