A comunicação vem se tornando complexa, à medida que surgem mais e mais canais de interação, aplicativos e redes sociais.
Mas uma coisa é certa: políticos só associam comunicação à divulgação, seja pela imprensa ou pela publicidade oficial.
Um exemplo disso é o atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Fernando Haddad.
Em sabatina promovida por UOL, Folha de S.Paulo e SBT, Haddad afirmou que houve um déficit de comunicação durante sua gestão, devido à cobertura de temas nacionais pela imprensa e à redução da verba destinada à publicidade pelo seu governo.
No entanto, atribuir a má avaliação da gestão à pouca divulgação de suas realizações é confundir comunicação com publicidade. Explico o porquê.
Primeiro, a imprensa noticiou amplamente a implantação de ciclofaixas, a ampliação de corredores de ônibus, o fechamento da Av. Paulista para lazer aos domingos e a redução de velocidade nas marginais e principais vias da cidade.
Clareza
À época de cada uma dessas mudanças, o que faltou foi maior clareza sobre os motivos e impactos, além de ampla divulgação do planejamento dessas ações e tempo para efetiva implantação e aceitação.
Tudo pareceu ter sido feito sem um plano consistente, às pressas, sem diálogo e transparência.
Segundo, veicular propagandas em diferentes canais com as realizações da gestão é uma estratégia de comunicação – mas e as outras existentes?
Por que não usar mais as redes sociais para dialogar com a população? Esse, aliás, é um canal subutilizado por todos os políticos no Brasil, talvez pela abertura que dá aos usuários para se manifestar.
Publicidade oficial
A via de mão única da publicidade oficial impede que as reais e múltiplas opiniões apareçam, além de enfatizar apenas os feitos, os dados e as histórias que condizem com a imagem que se deseja passar aos eleitores.
Vale dizer: Haddad não está sozinho. É preciso que os políticos em geral assumam uma nova postura no mundo digital em que todos (inclusive eles) vivemos e que concebam a comunicação em sua complexidade, não apenas associando-a à divulgação, via imprensa ou publicidade.
Divulgar planos, ser transparente nas implantações de ações, usar redes sociais, participar de fóruns abertos e de audiências públicas durante todo o mandato – e não apenas em período pré-eleitoral – são atitudes fundamentais para que as demandas da população sejam ouvidas e (ao menos) discutidas – e para que os frutos da gestão sejam sentidos no cotidiano das pessoas, e não apenas publicizados. [Webinsider]
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Vivian Rio Stella
Vivian Rio Stella é doutora em Linguística pela Unicamp, pesquisadora de Pós-Doutorado no grupo Atelier da PUC-SP, consultora e diretora da empresa de treinamento executivo VRS Cursos.