Durante uma das últimas visitas ao shopping eu acho na prateleira da loja a cópia da edição em lançamento do Blu-Ray do filme “A Invocação do Mal 2”, com trilha sonora Dolby Atmos/Dolby TrueHD 7.1 canais.
Não fazia tanto tempo assim que se viu o lançamento aqui de “A Colina Escarlate”, estreando uma trilha em DTS:X, por coincidência com requintes de filmes de terror, embora predominantemente em estilo gótico.
Não tendo visto sequer “A Invocação do Mal” versão 1, eu fiquei na dúvida se devia levar para a casa ou não. Acontece que a reputação que a trilha sonora da versão 2 havia ganho já era notória entre críticos e fãs. E desta vez, ao contrário da edição em DTS:X, que só ganhou trilha 3D no Blu-Ray, o filme foi rodado e apresentado em alguns cinemas com Dolby Atmos. Portanto, intencionalmente mixado no ainda novo formato.
Existem especulações de que a edição em Blu-Ray teria tido a trilha sonora otimizada para home theater, mas sem conseguir até hoje entrar em uma sala de cinema com Atmos, fica difícil sequer pensar em uma comparação. Seria interessante, se fosse possível, mas não essencial.
O importante é saber até onde se pode chegar na reprodução de uma trilha sonora em um ambiente instalado propositalmente com o Dolby Atmos em mente. E a partir daí, até que ponto cineastas e técnicos conseguiriam explorar as virtudes do formato.
Pois bem: depois de realizadas pilhas de testes na minha instalação, incluindo diversas configurações e caixas acústicas, eu posso agora afirmar com segurança que esta foi, sem questionamentos da minha parte, a melhor trilha sonora com Dolby Atmos em disco que eu ouvi até agora.
Bem verdade que o assunto em tela (sem trocadilho) favorece o estabelecimento de uma mixagem criativa. Mas, o filme vai além disso: o Dolby Atmos se propõe, desde o seu início, em aumentar a ambiência na sala onde o som é reproduzido. A ideia por trás de uma segunda camada de alto-falantes na parte superior da sala é a de aumentar o campo de áudio em todo o arredor do ouvinte, sem que a imagem virtual do som entre as diversas caixas acústicas seja perdida.
Na prática, significa que todo e qualquer som (chamado no formato de “objeto”) pode se deslocar para qualquer lugar, mudar de plano ou girar 360º sem que o ouvinte perceba em que caixa acústica ele está sendo reproduzido!
Esta virtualização tridimensional tem méritos na apreciação de um filme, se feita corretamente. No caso deste roteiro em particular, bastam apenas alguns minutos do filme rodando para se ter uma exata noção do que se pode ser feito em termos da ambiência.
O cliché sonoro maior de todo filme de terror ou suspense é mixar um som de amplitude elevada nas cenas onde o diretor e a sua equipe querem que o espectador leve um susto e pule da poltrona.
Mas, em Invocação 2 foi tomado o que aparenta ser um enorme cuidado no estabelecimento dos sons, tanto os de alto volume quanto os de baixo. São esses últimos que trazem ao filme a sensação de estar lá.
É inevitável também nos filmes de terror que as cenas mais dramáticas sejam apresentadas em meio a chuvas e trovoadas. Até agora, todos os trailers com Dolby Atmos que eu assisti não passam nem de perto pela ambiência conseguida neste filme quando as tempestades, raios e trovões começam a aparecer.
Há uma fortíssima evidência de que os padrões originais do Dolby Digital foram rigorosamente observados. Desde a sua origem o codec estabelecia a possibilidade de mixar efeitos sonoplásticos com a ajuda de um reforço na faixa de 120 Hz para baixo, em separado, o conhecido LFE (Low Frequency Effects Channel). Notem que já se passaram mais de vinte anos, e muitos dos filmes e discos de vídeo usaram indiscriminadamente o LFE sem suporte importante à trilha sonora ou às vezes com a contribuição de uma distorção desagradável.
Os efeitos de som de baixa frequência neste filme são recorrentes e impecáveis! Não só nas cenas de horror como nas cenas onde pipocam os ruídos da casa.
O uso de violinos na trilha sonora também não é novidade em filmes de suspense. Principalmente depois que Bernard Hermann o fez com notável brilho na cena do chuveiro onde Janet Leigh é assassinada em Psicose, dirigido por Alfred Hitchcock.
O uso de violinos, contrabaixos e demais instrumentos de corda, por acaso, não é tão proeminente neste filme, mas no geral o clima de suspense é muito bem amparado pela música.
Apreciação
Eu li gente escrevendo e afirmando que “Invocação do Mal” era um filme de terror “moderno”. Se de fato o é, eu sou um que gostaria de saber aonde e como aparecem coisas diferentes daquelas que já foram feitas dezenas de vezes em filmes anteriores.
A começar por “O Exorcista”, filmado por William Friedkin na década de 1970. Em várias cenas de “Invocação do Mal 2” a impressão que me passou for estar vendo uma refilmagem do filme de Friedkin.
A sensação de “déja vu” desmente o suposto espírito inovador do cineasta James Wan. Pensando bem, as fórmulas deste tipo de filme sempre funcionaram muito bem com o público em geral, porque mudar agora?
James Wan ganhou reputação no repugnante “Jogos Mortais”, e a partir daí não parou de fazer a mesma coisa dezenas de vezes. Para os fãs do diretor provavelmente foi ótimo, para os demais fãs de cinema eu tenho cá as minhas dúvidas.
Eu levei para casa Invocação 2 com um pé para trás por conta das razões expostas acima. O primeiro filme, eu confesso, não me agradou. Surpreendentemente, Invocação 2 é muito mais “assistível”, o que para mim já foi um alívio.
James Wan rodou ambos os filmes Invocação 1 e 2 com câmeras Alexa dotadas de lentes Leica de alta resolução. O resultado deu para ver no Blu-Ray da segunda versão, o único a que tive acesso. A imagem mostrada no filme é algo em torno do espetacular. Sinceramente, não saberia dizer se um novo disco em 4K iria acrescentar alguma coisa em contraste ou detalhe.
É possível que “A Invocação do Mal 2” produza os mesmos efeitos do que o primeiro, principalmente entre aqueles que gostam de saltar de susto de vez em quando. Em seu mérito, foram evitados personagens criados por computador. Todos os fantasmas e demônios são criados por atores, e muito bem, diga-se de passagem.
Como demonstração do que é possível se fazer com uma trilha Dolby Atmos moderna, o filme, a meu juízo, vale muito mais do que tudo que eu consegui assistir, filmes e trailers, com este tipo de trilha.
Em resumo, o disco pode ser usado para demonstração na frente de qualquer pessoa, e se não deixar o espectador irrequieto na cadeira, pode pelo menos deixa-lo imerso em um universo paralelo, por conta da brilhante trilha sonora.
[Webinsider]
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Leia também:
- 55 anos de Spartacus, um dos maiores épicos do cinema
- 50 anos de My Fair Lady no cinema
- O primeiro filme em CinemaScope
- 2001, Uma Odisseia No Espaço
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http://br74.teste.website/~webins22/2016/12/21/esta-dificil-ir-ao-cinema-e-nao-e-por-causa-da-idade/
http://br74.teste.website/~webins22/2016/12/05/sequencias-refilmagens-cinema-norte-americano-erram-acertam/
http://br74.teste.website/~webins22/2016/11/23/inafundavel-molly-brown/
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
17 respostas
Alguém sabe dizer se há existe algum título em Dolby Atmos dublado?
Invocação do mal 2 em Dolby Atmos é dublado?
Achamos muito interessante este post.
Olá, boa noite!
A primeira sala Dolby Atmos no Brasil foi inaugurada em Fevereiro de 2013, na cidade de Florianópolis, no Iguatemi Shopping (Cinesystem Cinépic -Sala 4).
Saí daqui do Rio e fui lá pra conhecer na prática, o que já havia lido bastante. E na sexta-feira, 01 de março, assisti a estréia do filme Duro de Matar 5 que, apesar de ser “duro de assistir”, mostrou todo o poder da sala, com uma sequência de diálogo sem imagens com um aproveitamento perfeito da tridimensionalidade do som. Dando a impressão de que aqueles indivíduos estavam dentro da sala com a platéia. Afora os tiros de armas pesadas que soavam detalhados e viscerais ao mesmo tempo.
Após ter tido esta excelente primeira impressão, retornei ao Rio e por ironia, a rede Uci, na surdina, lançou a sua própria sala Dolby Atmos (de nome XPLUS). E logo após, a Cinesystem lançou duas salas Dolby Atmos também, em terras cariocas.
Então Paulo, para que fique informado (caso ainda não saiba onde ficam as salas Atmos do Rio), seguem as seguintes informações:
1 – Salas Atmos da rede Cinesystem (Rio de Janeiro):
* Parque Shopping Sulacap ( Cinépic – sala 1): esta sala me decepcionou, pois, apesar de Dolby Atmos no nome, não possui caixas no teto. Quase pedi o dinheiro de volta, pois a diferença, pelo menos pra mim foi gritante. Acho incrível um vacilo desses, já que todas deveriam possuir o mesmo padrão.
* Américas Shopping – Recreio (Cinépic – Sala 6): esta sala possui corretamente as caixas de teto e ali sim, você tem toda a tridimensionalidade do som. E é fácil perceber isto na vinheta de abertura das sessões. Aliás, de todas as que já visitei, esta é a que melhor tem a reprodução dos graves, inclusive, muito próximos dos de uma sala IMAX bem calibrada (como a IMAX de Campinas, que visitei no ano passado, também na inauguração).
* Park Shopping Campo Grande (Uci Xplus – sala 1)
* New York City Center – Barra (Uci Xplus -sala 13): gostei muito da calibração do som desta sala, pois nada sobra, ou falta, em termos de frequências, o que torna muito bom o envolvimento. Mas como nem tudo são flores, o maior problema desta sala tem sido o excesso de filmes dublados, o que me desanima profundamente, já que, se o sistema é gerenciado de forma digital, é perfeitamente possível intercalar as sessões entre dubladas e legendadas.
Não falei sobre as imagens para não estender ainda mais o texto, mas no geral são muito boas, em termos de resolução. Mas até pelo formato, a razão de aspecto muitas vezes vai pro espaço.
Espero que as informações sejam úteis.
Ops!
Esqueci de colocar o item 2 (Salas Atmos da rede UCI).
Olá Renato,
Parabéns pela pesquisa e desbravamento. Muito obrigado por postar estas informações aqui na coluna, tenho certeza que serão úteis a todos, inclusive a mim.
Não fiquei surpreso com a ausência de instalação completa nas salas que você citou. Quando o Dolby Atmos foi lançado foi a própria Dolby quem indicou salas no Brasil com o sistema instalado, e uma delas fica perto de um onde eu moro. Eu fui lá falar com o técnico e ele me disse que nunca tinha ouvido falar em Dolby Atmos e desconhecia a intenção do exibidor em instalar uma sala deste tipo.
Eu soube dessa sala de Campo Grande, mas não me senti animado em ir lá, entre outros motivos, porque fica muito longe de onde eu moro, passando por um tráfego complicado e moroso, que com a minha idade fica duro de aturar. E neste ponto, fui acompanhado por amigos, que me disseram a mesma coisa, infelizmente.
Por essas e outras, eu fui deixando o assunto de lado. E por isso agradeço a você a iniciativa de corrigir o meu descaso com a pesquisa.
Eu sinceramente espero que os exibidores venham dar mais atenção ao formato e à instalação de salas em áreas mais centrais da cidade.
Isso que você citou a respeito do “técnico” desconhecer o formato tem sido muito comum. A impressão que tenho em algumas salas de projeção, é que, dada a automatização quase completa do sistema, as cabeças pensantes, aos poucos vão parando de pensar.
Agora, na contramão do que tem acontecido, pelo menos aqui no Rio neste sentido, o gerente da Cinesystem (Iguatemi Shopping, em Floripa) deu um verdadeiro show de conhecimento na época, inclusive, inclusive falando sobre as impressões dele próprio em relação à sala inaugurada. Tudo de maneira técnica e detalhada.
Isto é raríssimo hoje em dia. Inclusive, é comum que gerentes sequer entrem na sala de projeção ou na de exibição. Tanto que já passeio pela bizarra de situação de explicar pra um gerente da UCi, o que é multicanal, pois havia um mal funcionamento em uma das salas e os canais surround não reproduziam som algum. Daí ele me sai com a pérola de que era assim mesmo.
Inacreditável.
É verdade, Renato. Nos moldes antigos os grandes exibidores trabalhavam com uma equipe de técnicos que rodavam as salas para calibração e ajuste, e este povo sabia muito bem o que eles estavam fazendo.
Nos últimos anos do projetor de película o descaso com a manutenção nas salas que eu frequento chegou às raias do absurdo. Salas que antes exibiam o filme com Dolby Digital passaram para Dolby SR analógico, com os ruídos que o caraterizam. Qualquer um que tenha feito emendas em película sabe que o corte arranha a banda ótica e provoca um estalo no som. Então, não há como esconder esta limitação. Ficaram até o fim sem consertar nada. Em uma sala Cinemark eu ouvi um flutter durante a projeção toda, denunciando falta de alinhamento da película no bloco ótico. Fui falar com um funcionário, que olhou para mim como se eu fosse um marciano!
Paulo, mais uma vez, excelente artigo. Desculpe levar adiante o assunto fora do tópico, mas a pergunta da colega me intrigou e mais ainda a tua resposta. Um projetor full HD é um sonho antigo meu. Vc desencorajaria esse investimento?
Fábio, não recomendo mesmo, mas acho que se a pessoa está disposta a arcar com as despesas principalmente de manutenção, e conseguir arrumar tudo em uma sala com a obscuridade necessária, porque não?
Caro Paulo, sou apreciador de um bom filme de terror/suspense e não vi o “Invocação do Mal 1”. Também não tenho aparelho blu-ray. Possuo um Home Sony, daqueles antigos com receiver e DTS. Estou pensando em ver o “Invocação do Mal 2”, depois de suas ótimas considerações. Será que o DVD convencional valerá a pena?
Grato
Prezado Daniel,
Seria errado da minha parte tecer comentários sobre a edição em DVD porque eu não a vi. Não creio, entretanto, que possa se equiparar em qualidade de som ao Blu-Ray, mesmo desconsiderando a trilha em Dolby Atmos. Digo isso porque o Dolby TrueHD é um dos melhores codecs de áudio que eu ouvi até hoje.
Grato, Paulo. Vou arriscar ver o DVD. Aproveitando, li em algum lugar que o filme “Rogue One” possui algumas sequências fotografadas em “Ultrapanavision 70”. Entretanto, hoje não é tudo digital? Para um ex-projecionista das antigas fica dificil de entender.
Abraço.
Não me surpreende nem um pouco. A fidelidade da fotografia (câmera + lentes) deste processo é muito difícil de ser superada. E vários cinemas em vários países que tiveram o bom senso de conservar seus projetores de 70 mm estão agora tirando vantagem disso.
O site do Thomas (http://www.in70mm.com/) tem sempre novidades do formato, e eu te sugiro a leitura.
No site, sobre este filme:
http://www.in70mm.com/news/2016/science/index.htm
Apresentação em IMAX 70 mm. Não dá inveja???
Só dá inveja, Paulo. Eu que peregrinei em S.Paulo nos anos 60 e 70. Cine Comodoro, Regina e Majestic, meus preferidos, todos com projetores 70mm. Grandes espetáculos de encher os olhos e ouvidos, literalmente. Sou setentão e creio que não verei mais tudo aquilo. Como cinéfilo tenho que me contentar com os Imax Bourbon e JK Iguatemi.
Uma pergunta meio sem pé nem cabeça, mas tá valendo:
Entre uma TV de 100″ e um projetor para projetar numa tela de 100″, qual você preferiria? Considerando ambos top de linha, é claro.
Olá, Ruth,
Há muitos anos atrás eu teria preferido montar um sistema com projetor, mas dei para trás por uma série de motivos.
Se eu tivesse que tomar uma decisão hoje, levando em conta todos os aspectos técnicos, ficaria com a TV. Se você observar bem, uma TV LCD é fisicamente um retroprojetor. A camada de cristal líquido apenas permite a passagem ou não da luz que vem de trás.
Só que a TV leva vantagem porque a formação do pixel independe de lentes, de tipo de tela, de distância e de condições ambientais para formar uma imagem. Ou seja, para montar um sistema com projetores é preciso uma sala dedicada e muito bem arquitetada, para evitar falta de rendimento na projeção.
Espero ter satisfeito a sua dúvida.