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La La Land, musical de Hollywood à moda antiga

Poderia estar enganado, mas bastaram os primeiros minutos assistindo o ultra indicado ao Oscar La La Land no cinema e eu já comecei com aquela sensação de “déja vu”, como dizem os franceses.

Tinha visto sim algo parecido e, por coincidência, vindo daquela área. A cena inicial em tela (sem trocadilho) me lembrou a obra de Jacques Demy “Les Demoiselles de Rochefort”, filmado na década de 1960, como um tributo aos musicais de Hollywood, que exerciam um fascínio no aclamado diretor.

Aquela sensação inicial começou a tomar corpo com a introdução do tema musical, mais parecendo vindo de uma trilha composta por Michel Legrand.

Exagero? Talvez…

Eis uma cena do início de La-La Land:

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E a de Jacques Demy, também no início do filme:

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Pode ser que eu ainda esteja enganado. Não tenho a trilha do novo filme comigo, mas eis aí uma captura de “La Chanson de Maxence”, tirada da trilha de Michel Legrand:

Se os temas não são estranhamente parecidos, então eu acho que estou ficando surdo!

Eu juro que entrei no cinema para ver La-La Land sem nenhuma expectativa de achar ressuscitado qualquer um dos musicais clássicos produzidos em Hollywood. Tinha lido várias críticas de usuários do IMDb, algumas das quais muito cáusticas, torpedeadas em direção a Ryan Gosling e Emma Stone, com o veredito de que ambos não sabem dançar nem cantar.

Seria, a meu juízo, injusto e eu diria até cruel fazer uma comparação de Gosling e Stone com atores do tempo de outrora.

É imperativo levar em consideração que os esquemas de produção são completamente diferentes, a estrutura dos estúdios daquela época idem, com departamentos inteiros dedicados ao treinamento e aperfeiçoamento de atores para se tornarem dançarinos e cantores.

Só a M-G-M, por exemplo, tinha uma profissional com dedicação integral para achar o melhor tom de voz para cada ator, impedindo que os mesmos, que não eram cantores profissionais, fizessem feio quando escutados nos cinemas.

Hollywood se preparou para os filmes musicais de forma radical. Quando o ator não mostrava uma voz capaz de convencer a plateia ele/ela eram dublados. Marni Nixon, por exemplo, dublou Natalie Wood em West Side Story e Audrey Hepburn em My Fair Lady, no caso desta última que ficou chateada, mas o estúdio (Warner) não abriu mão de tê-lo feito, e ponto!

Apreciação

Eu não tenho intenção de fazer uma crítica formal, que é extensa e trabalhosa. Basta dizer que se a trilha jazzística de La-La Land não reflete o pensamento do roteiro do diretor, então eu não sei mais o que é.

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Há um discurso libertário falando sobre a “morte do jazz”, assunto este que permeou revistas americanas durante a década de 1960, e provavelmente continua sendo ventilado em rodas musicais alienígenas.

O personagem fala do jazz com paixão, e explica didaticamente os sentimentos dos músicos quando a música é executada. Tem tudo a haver com o impulso criador, característica essa com a qual a namorada candidata a atriz se identifica.

Esta última mostra na tela a frustração dos atores desconhecidos perante uma profissão excludente e ao mesmo tempo oportunista. É fato histórico a montoeira de desmazelos pelos quais aspirantes da profissão de ator/atriz passaram em solo Hollywoodiano, com destinos depois distintos da carreira de cinema. O fato foi ironizado no musical Cantando na Chuva, da M-G-M, portanto um problema antigo que aparentemente continua crônico.

Neste sentido, aposto as minhas fichas que muita gente talvez não saiba o que vem a ser La-La Land. Depois de anos vendo Hollywood se tornar uma verdadeira fábrica de sonhos, um belo dia (alguns atribuem a jornalistas) o famoso espaço Californiano foi batizado com esta expressão, fazendo trocadilho com a cidade que abriga o bairro: Los Angeles!

No novo filme, o título me parece ter sido intencionalmente colocado como uma terra de fantasia, com ambiente surrealista, e com a ironia de ter pessoas com carreiras difíceis ou até destruídas, fama que Hollywood ganhou ao longo dos anos.

Não creio que o diretor, uma pessoa jovem e eloquente, possa ter outra visão. Mas, em todo o caso, razões não faltam para que ele o tenha feito assim. [Webinsider]

. . . . .

Leia também:

http://br74.teste.website/~webins22/2017/01/06/no-esplendor-do-70-mm/

http://br74.teste.website/~webins22/2016/12/21/esta-dificil-ir-ao-cinema-e-nao-e-por-causa-da-idade/

http://br74.teste.website/~webins22/2016/12/31/tudo-sobre-o-dolby-atmos-o-som-3d-em-um-so-filme/

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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3 respostas

  1. Olá, Paulo!

    Não sou fã de musicais. Na verdade o único que me conquistou foi The Sound of Music (chamado de A Noviça Rebelde de forma criminosa no Brasil). A forma como cada filho representava uma nota musical, me fez ir às lágrimas nas canções.

    Conforme você mesmo citou, antes havia dedicação e departamentos exclusivos ao tema. Assim como não é possível ser um excelente condutor de um automóvel, dividindo atenções ao longo caminho, é virtualmente impossível fazer algo memorável no cinema, se a alma dos envolvidos não estiver inteiramente ali,naquele projeto em específico.

    E já que você citou a clássica frase, sobre o jazz estar morrendo, sugiro, se é que ainda não o fez, assistir ao filme “Whiplash” , com J. K. Simmons e Miles Teller.

    As atuações são soberbas e a trilha um espetáculo à parte, se reproduzida corretamente. Pois é possível ouvir cada detalhe, transportando o telespectador para as salas de ensaio e apresentação.

    Se possível, depois comente o que achou.

    1. Oi, Renato,

      Obrigado pelo seu comentário.

      Eu não assisti Whiplash, por conta da sinopse que não me agradou, mas vou aceitar sim a sua sugestão, somente lembrando que para se assistir como se deve é preciso faze-lo fora dos alto-falantes da TV, ou seja, através do meu home theater, e isso pode demorar um pouco, porque eu não tenho nenhuma media ou streaming com este filme.

  2. Se você assistir ao tipo de filme que vem sido produzido ultimamente,teremos uma verdadeira carnificina de gente e bom gosto.
    LaLaLand é apenas…sensacional.A trilha e os arranjos soberbos.
    Na minha opinião,temos um novo Burt Bacharach.
    E ninguém morreu!!!!!!!!!!

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