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O Dirigível Hindenburg

Existem alguns desses momentos em que eu tenho a sensação de que não vou poder colecionar os filmes que eu quero se não me decidir imediatamente a importa-los! E assim foi com o filme de Robert Wise “The Hindenburg” (“O Dirigível Hindenburg”), exibido no Cinema Palácio em glorioso 70 mm, na década de 1970.

O filme abre com a exibição do jornal da tela da época do Hindenburg, precedido pelo logo da Universal Films de 1936, em mono com o som característico da banda ótica daqueles tempos. E cita de passagem Alberto Santos Dumont, o que é inacreditável, visto que os norte-americanos insistem até hoje que os verdadeiros pioneiros dos aeroplanos foram os irmãos Wright.

O Dirigível Hindenburg

Terminado o jornal da tela, a imagem se abre para a tela Super Panavision, seguida da introdução do filme em som estereofônico. O impacto da abertura é duradouro, foi encantador no cinema e faz o mesmo efeito nas nossas telas de TV, simplesmente incrível.

O Dirigível Hindenburg

No entanto, The Hindenburg foi fotografado em Panavision convencional e depois ampliado para 70 mm 2.20:1. Mas, no DVD e no Blu-Ray a imagem é scope 2.35:1, sem cortes.

A diferença na imagem entre as duas edições em vídeo é que a edição em DVD R1 que eu tenho é um dos piores discos da minha coleção. Com o filme transferido em 4:3 letterbox, os artefatos da imagem tornam a visualização insuportável, mesmo com todos os recursos de ampliação e upscaling modernos disponíveis. A edição em Blu-Ray finalmente corrige este desastre!

Sabotagem

Não existe uma interpretação precisa mas evidências de que houve sabotagem no desastre do Hindenburg em Lakehurst. Desde a sua idealização como dirigível, essas máquinas voadoras eram movidas com suspensão de hidrogênio, altamente combustível, portanto uma verdadeira bomba voadora.

Os americanos detinham as patentes para a obtenção de hélio, e depois de alguns desastres, fizeram a substituição definitiva, salvando assim muitas vidas. Entretanto, o governo americano baniu a exportação do hélio e com isso os europeus se viram obrigados a continuar usando hidrogênio.

Nem todos os dirigíveis explodiram ou pegaram fogo. O Graf Zeppelin (LZ 127) rodou o mundo todo, com passagem por várias cidades brasileiras, e com destino final na cidade do Rio de Janeiro. Existem detalhes desta viagem no site Airway.

A construção do Hindenburg foi diferente: na sua cauda a suástica nazista demonstrava a finalidade política do credo de hegemonia germânica sobre o resto do mundo. Daí a terem sido levantadas suspeitas sobre a participação da resistência alemã ao nazismo na sua destruição.

No filme, há um momento com um diálogo precioso, quando o coronel Ritter, responsável pela segurança faz alusão à resistência ao nazismo na frente de Goebbels, ministro da propaganda. Diz Goebbels, reagindo: “Não existe movimento de resistência Coronel”! e Ritter, com um sorriso sarcástico, responde: “Isto é reconfortante, vindo do Ministro da Propaganda”.

Sabotagem ou não, todo mundo sabia que o Hindenburg seria uma presa fácil. A proposta na obra de Robert Wise de incluir personagens que lidaram com a segurança da nave não é absurda!

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O Zeppelin foi construído com sensatez, uma obra que se iniciou com uma iniciativa do General alemão Ferdinand von Zeppelin, obcecado com a ideia de construir dirigíveis. Após a sua aposentadoria ele se dedicaria à manufatura do que foi chamado depois de Zeppelin. A ideia por trás do projeto era fazer uma espécie de transatlântico voador, no qual os passageiros sequer sentiriam a falta de estabilidade da nave perante o percurso. E ainda mais importante, com um mínimo de poluição atmosférica!

O filme

O Dirigível Hindenburg foi escrito para ser um thriller de espionagem, passado em uma época onde as forças nazistas começaram a impor um regime ditatorial na Alemanha. Mais ou menos nesta época, ainda havia vozes dissidentes, contrárias ao regime nazista. O país parecia dividido entre os que não se conformavam com o regime de exceção (ditadura dentro da democracia) e o restante da população, que via em Hitler o ícone que justificava a euforia de engrandecimento da raça e do país.

O filme, entretanto, não se detém exageradamente nos aspectos político-sociais do roteiro. E o seu grande mérito é, sem dúvida, o detalhamento e a impecabilidade técnica dos aspectos formais não só da história como do tratamento cinematográfico do desenvolvimento do roteiro. Os efeitos especiais são impecáveis e a montagem exemplar, nada que surpreenda muito o cinéfilo, que reconhece no diretor Robert Wise o editor do clássico Cidadão Kane, ícone de perfeição em montagem de cenas.

As tomadas do interior da nave são surpreendentes, o espectador voa junto com o Hindenburg. Não se nota a costura de cenas superpostas, e a imagem como um todo é uma exposição gráfica da grandiosidade do formato em bitola larga e dos ângulos de câmera bem planejados.

Uma das proezas dos cineastas foi ter aproveitado a filmagem original do desastre, acompanhada da famosa narrativa no rádio do jornalista Herbert Morrison, que acompanhou o drama do incêndio e da tentativa de escape dos passageiros e da tripulação. Um evento que durou apenas alguns minutos foi esticado no roteiro por cerca de uns vinte minutos, misturando-se cenas reais com cenas do filme.

A edição em Blu-Ray

Sinceramente, é uma vergonha a gente ter sido aquinhoado com um DVD de última qualidade, ter ficado com ele anos a fio, e se contentar com um disco Blu-Ray que no máximo vem acompanhado de uma legenda para surdos (close captioned), e mais nada. O tema em si justificaria a presença de historiadores comentaristas ou de documentários mostrando o evento real.

Uma vez reproduzido o filme roda em loop, que é uma autoração arcaica e sem sentido. O usuário tem que acionar as legendas manualmente.

A imagem, felizmente, é razoável, mas o som nem tanto. Em uma das cenas a bordo da parte interna das fuselagens da nave o diálogo é abafado pelo ruído do motor, uma falha clara de mixagem.

Não é possível saber se a trilha foi recuperada de uma fonte de segunda geração ou da remixagem para Dolby Stereo. Acho pouco provável ter sido usada a master de 6 canais feita originalmente para a versão em 70 mm. Felizmente, a maior parte dos diálogos passa incólume, e a qualidade do som da trilha musical não chega da dar vexame.

Melhor do que nada, diriam os colecionadores mais arraigados. E eu, infelizmente, concordo. Só lamento vir tão tarde e sem sombra de esperança de ser lançado neste país. [Webinsider]

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http://br74.teste.website/~webins22/2017/07/04/fase-britanica-do-cineasta-roman-polanski/

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Leia também:

http://br74.teste.website/~webins22/2017/01/06/no-esplendor-do-70-mm/

http://br74.teste.website/~webins22/2016/12/21/esta-dificil-ir-ao-cinema-e-nao-e-por-causa-da-idade/

http://br74.teste.website/~webins22/2016/12/31/tudo-sobre-o-dolby-atmos-o-som-3d-em-um-so-filme/

http://br74.teste.website/~webins22/2013/03/17/cinavia/

http://br74.teste.website/~webins22/2017/03/24/filme-miles-ahead-e-uma-homenagem-miles-davis/

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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