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EL PRE$IDENTE, seriado exibido pelo Amazon Prime, mostra os bastidores sujos do futebol sul americano e dentro da FIFA. O diretor não poupa ninguém e dá crédito ao torcedor apaixonado como inocente útil neste processo.

 

O cineasta argentino Armando Bo, criador do seriado Narcos, volta agora com o roteiro de “EL PRESIDENTE”, baseado naquilo que ficou conhecido na imprensa como “FIFA Gate”, episódio no qual foram presos pelo FBI diversos dirigentes, inclusive o brasileiro José Maria Marin, ligado à CBF.

O assunto Narcotráfico se tornou repetitivo, na minha opinião, cansativo e chato, mas o tema futebol é muito mais interessante, por se tratar de um esporte que arrebata milhões no mundo inteiro. A exibição do seriado faz parte do serviço Amazon Prime:

 

 

Segundo a lenda, teria sido João Havelange que, uma vez respaldado no prestígio alcançado pelo futebol brasileiro (Seleção Nacional e Fluminense), criou uma maneira rentável de explorar comercialmente o futebol.

Ligado ou não à máfia que dominou este esporte, Havelange é citado em diversas cenas como o homem que iniciou tudo. Seu genro, Ricardo Teixeira, investigado pelo FBI, acabou banido por suspeita de suborno e corrupção.

O futebol como ponte segura para os negócios ilícitos

O seriado de Armando Bo deixa claro que o torcedor é o bocó que abraça o futebol de forma apaixonada, sem se importar com as consequências. Esta paixão desenfreada, às vezes violenta e racista, é o que, em última análise, dá a abertura para as grandes negociatas, que começam com o tráfego humano de jogadores, e tem continuidade com grandes esquemas envolvendo empresas de diversos tipos.

Bem verdade que se esta paixão não existisse nada disso seria possível. Os antigos grandes jogadores nem sempre terminaram as suas carreiras com suporte financeiro adequado. E com essa desculpa, a chamada “Lei Pelé”, ou Lei do Passe Livre, publicada em 1998, teria como finalidade tirar dos clubes o direito da compra e venda do passe na saída dos jogadores para outros clubes. Mas no final a lei criou a possibilidade de enxertar no futebol brasileiro a figura nefasta do empresário. Este se tornou um parasita que se aproveita das escolas de formação dos clubes para fazer contratos com as famílias e oferecimento de vantagens, alcançando depois lucros bilhardários. Ou seja, na prática, o jogador continua um escravo, mas mudou de dono. Cada vez que um deles é negociado com os clubes, o empresário ganha sem ter feito nada a não ser a negociação do contrato.

Empresários criam clubes de pequeno porte e através deles impõem regras inaceitáveis ao clubes de maior investimento. Casos como o da Traffic, agência brasileira, cujo dono foi investigado, são didaticamente exibidos neste seriado.

Mas, não é só o jogador que se torna moeda de troca, os dirigentes negociam direitos de transmissão das partidas e torneios, criando monopólios difíceis de serem quebrados!

A corrupção e a volúpia dos empresários pelo dinheiro, segundo o autor

O seriado EL PRESIDENTE se propõe a mostrar uma imagem clara com HDR de como é possível faturar horrores, esconder dinheiro em paraísos fiscais, lavar o excesso em empresas de fachada, etc. Foi por conta desta estranha movimentação financeira que o FBI se envolveu no assunto e começou a investigar subornos de todos os tipos.

O nível de corrupção é profundo, e envolve todo tipo de escândalo nos bastidores. A CONMEBOL passa a ser vista como um antro de ladrões, com imunidade total a seus participantes, uma espécie de máfia onde a polícia não entra. Dirigentes dos vários países próximos entram lá e discutem a maneira como torneios serão jogados e de que maneira eles irão abiscoitar mais grana para as suas já desproporcionais grandes fortunas.

A narração dos eventos no seriado coloca o ponto de vista do outrora ultra poderoso Julio Grondona, morto por problemas cardíacos em 2014, se livrando assim do escândalo investigado pelo FBI em anos subsequentes.

 

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Parte dessa narrativa é fictícia, mas os personagens são reais. Um deles, o dirigente chileno Sergio Jadue, oriundo de um clube modesto de futebol em La Calera, foi guindado a mandatário da Associação Nacional de Futebol Profissional de Chile (ANFP), de modo a servir os interesses de outros mandatários, ocultos nos bastidores.

Jadue aprende rápido e se envolve nas trapaças, com o objetivo de ganhar poder e dinheiro, que ele rapidamente esconde em algum lugar. Sua mulher, gananciosa e autoritária, se aproveita de tudo isso e passa a ser eminência parda dentro da ANFP.

Mas, Sergio Jadue é abordado pelo FBI e é forçado a se tornar informante. Nas prisões posteriores em Zurich ele escapa pela porta dos fundos. O final desse drama, é claro, eu não vou contar, para não prejudicar a quem ainda vai assistir, mas posso dizer que o roteiro traz à cena oito episódios e somente ao fim do último é que tudo fica mais claro quanto às consequências das prisões pelo FBI, porém sem muitos detalhes.

A minha visão pessoal disso tudo

Eu faço parte de uma geração de meninos que jogava futebol em tudo quanto é tipo de campo. Comigo, foi até os 17 anos de idade, quando parei por causa de uma cirurgia que me impediu de fazer esforço. Menos mal, porque só assim eu dei atenção aos estudos, com os quais fui negligente durante muitos anos.

As teorias da psicologia de massa mostram que o futebol se torna uma paixão irracional quando as pessoas o abraçam de forma passional. Ele serve como uma espécie de vingança perante as frustrações da rotina de vida do dia a dia e principalmente da incapacidade de um indivíduo de aumentar a renda pessoal ou da família.

A conquista de um título é um sinal psicológico de triunfo do torcedor na luta contra as suas vicissitudes pessoais, decorrentes das diferenças sociais entre as classes.

Os clubes sabem disso e usam armas de manipulação de massa, divulgando termos como “manto sagrado”, em referência à camisa usada pelo time, ou então o termo “nação”, em referência à magnitude do tamanho da torcida. Desta forma, o torcedor se sente parte de uma sociedade fictícia, criada pelo clube e/ou pela mídia, que passa a formar uma estrutura mental de poder, que só existe na imaginação dele.

O futebol como jogo é envolvente e viciante, mas é um jogo como outro qualquer, e como tal pode perfeitamente se prestar a ser uma diversão sadia e nada mais do que isso.

Os dirigentes se nutrem da paixão sem limites do torcedor fanático. Eles são políticos que se deram conta do imenso poder financeiro que se ganha por causa de um esporte. Não é à toa que os clubes estão super endividados, mas a briga pela presidência dos mesmos continua feroz.

Este seriado tem um mérito indiscutível, que é o de mostrar esta briga pelo poder nos bastidores. Dirigentes poderosos se perpetuam na direção das federações, amparados pelos seus pares mais fracos economicamente, que os apoiam para ganhar benefícios. Se os clubes de maior investimento percebem o golpe e reagem, eles perdem o poder nas eleições, e eis aí um exemplo como a democracia pode ser distorcida em favor de uma pessoa ou de um grupo.

Combater este poder é virtualmente impossível, a não ser que um escândalo eventual como este venha à tona em algum momento. Caso contrário, o poder fica décadas nas mesmas mãos, e ninguém sabe se algum dia a transparência irá acontecer, a ponto de expor os corruptos e as negociatas na calada da noite.

O curioso é que em momentos de uma pandemia como a atual a ponta do iceberg fica exposta, com clubes querendo voltar de qualquer maneira, dane-se a saúde dos outros. Ninguém sabe de onde o dinheiro deles vem, nem onde ele vai parar. Mas, basta um pouco de bom senso na observação da contratação milionária de atletas para pelo menos desconfiar que alguma coisa está muito errada!  Outrolado_

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O que mudou na terra onde nasci

Fluminense Football Club

 

A irresponsabilidade civil nas notícias falsas

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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