O pioneiro dos sistemas de projeção em 70 mm no Brasil, Orion Jardim de Faria, foi homenageado no 4º Festival Cinemúsica de 2010, graças à iniciativa do seu Presidente Ivo Raposo. A entrevista, conduzida pelo Curador do Festival Hernani Heffner, aconteceu no dia 04 de setembro de 2010.
No ano de 2010 eu ainda andava com imensa dificuldade de conseguir informações sobre instalações de cinema no Rio de Janeiro, inclusive com passagens por bibliotecas públicas, onde não me deixaram fotocopiar páginas de artigos ou de livros. Imagens, nem pensar, e por um longo período de tempo eu fiquei me indagando como é que alguém, que faça pesquisa seriamente, consegue se virar diante de tantos obstáculos.
Mas, aconteceu que, através de um leitor da coluna, Olegário Frossard de Faria, alguns dos meus dados pessoais irem parar no conhecimento do seu pai, Orion Jardim de Faria, pioneiro da fabricação de projetores desenvolvidos aqui, capazes de exibir películas 35 e 70 mm.
Eu recebi uma ligação do Orion, fui a São Paulo, e fiz com ele uma entrevista improvisada, gravada por mim e com uma meia-dúzia de anotações em papel, que me ajudaram a elaborar um texto para o site in70mm, editado por Thomas Hauerslev na Dinamarca, fanático por 70 mm. Depois eu editei um texto para o Webinsider, que será em breve republicado no Outro Lado.
A homenagem e o depoimento
Coube à iniciativa do Ivo Raposo, igualmente apaixonado por cinema e ex-operador (cines Santo Afonso e Bruni Saens Peña), na época Presidente do Festival Cinemúsica, realizado todo ano em Conservatória, Rio de Janeiro, convidar o Orion para uma homenagem.
Eu posso até estar enganado, mas esta foi a primeira vez que o Orion Jardim de Faria foi publicamente reconhecido como o grande inovador na área de cinema deste país. Se tributo semelhante lhe fora prestado, eu nunca soube por ele ou por qualquer outra fonte.
Em 10 de Outubro de 2007, ele tinha sido chamado para uma entrevista no Programa do Jô, mas a conversa foi relativamente rápida, apenas abordando alguns aspectos da trajetória de vida dele, o que é compreensível por se tratar de um show de televisão. Nesta ocasião eu ainda não o conhecia, mas no nosso primeiro encontro ele me deu uma cópia deste trecho do programa.
Eis o depoimento que ele prestou, no 4º Festival Cinemúsica de 2010:
De lá para cá, o Orion e eu nos tornamos amigos. E por motivos óbvios: ele era um profundo conhecedor de cinema, conhecia o seu histórico, gostava de áudio e entendia com profundidade tudo sobre a eletrônica dos amplificadores e as caixas acústicas com as quais ele havia lidado ou construído a vida toda. Eu não precisaria prova disso, porque frequentei durante anos os cinemas nos quais o Orion instalou seus equipamentos.
A entrevista do evento teve a participação de Hernani Heffner, Curador do Festival, e com significativo corpo de trabalho preservacionista no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ocupando o cargo de Conservador-chefe do Arquivo de Filmes daquela instituição.
O Ivo Raposo, criador da réplica do Metro-Tijuca, instalada na cidade de Conservatória, foi o grande responsável pela presença do Orion no Festival. O evento aconteceu em 04 de Setembro de 2010.
Infelizmente, eu só conheci o Orion em uma fase tardia da vida dele e desejei diversas vezes tê-lo conhecido bem antes. Em 25 de dezembro de 2012 ele nos deixou, depois de passar anos convivendo com problemas cardiovasculares crônicos.
A minha última visita a ele aconteceu no meio daquele mesmo ano, em Massaguaçu, litoral de São Paulo, para onde ele havia se mudado. Na época, e até por ter feito pesquisa científica nesta área, eu fiquei muito preocupado de vê-lo sozinho e lhe encareci que conseguisse alguém para o acompanhar. Não sei se ele fez isso. Soube da sua morte por e-mail, enviado por um de seus filhos.
Para mim, foi uma perda de uma alma gêmea, que até hoje ainda sinto muito. Achei por bem desarquivar o seu último depoimento e a justa homenagem da qual ele foi recipiente ainda em vida.
Agradeço ao Ivo Raposo pela autorização de postagem do vídeo do evento, guardado comigo todos esses anos! Outrolado_
. . .
Inauguração do velho novo Cinema Pathé e o resgate da memória
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
0 resposta
Excelente sua abordagem sobre os cinemas situados no trecho entre o Estácio e a Praça Saenz Peña, início dos anos 60. Naquela época cinema era o meu grande programa do final de semana, sempre depois do banho. O acompanhante vigia da minha irmã que só poderia sair se me levasse junto. Grandes lembranças. Obrigado
De nada, todos esses cinemas fizeram parte das vidas de todos nós.
De nada, todos esses cinemas foram parte integrante das nossas vidas.
Excelente sua abordagem sobre os cinemas situados no trecho entre o Estácio e a Praça Saenz Peña, início dos anos 60. Naquela época cinema era o meu grande programa do final de semana, sempre depois do banho. O acompanhante vigia da minha irmã que só poderia sair se me levasse junto. Grandes lembranças. Obrigado
De nada, todos esses cinemas fizeram parte das vidas de todos nós.
De nada, todos esses cinemas foram parte integrante das nossas vidas.
Realmente Paulo esses Profissionais da área técnica de Cinema nunca tiveram seu merecido destaque, mas a sua experiência e conhecimento nos trazem relatos que podem ser considerados como bibliotecas vivas, pena que sua profissão foi mitigada, mas que tiveram um importante papel na estória do Cinema, pois eram o elo final que começavam nas produções e filmagem e edição, e finalmente todo aquele trabalho finalizado merecia todo cuidado na sua exibição. Pena que com a digitalização do Cinema, o trabalho desses profissionais foi perdendo espaço, pois agora qualquer um carrega um arquivo de hd digital e exibe em projetores digitais. Nada mais sendo preciso de ajustes finos ou calibragens. São as consequências futurísticas dessa digitalização que não sabemos ainda até onde vai.
Oi, Rogério,
Eu larguei a bioquímica e ciência, depois de mais de 30 anos de uma luta danada. A universidade pública que eu vivi tem altos e baixos, e uma quantidade enorme de barreiras a serem puladas o tempo todo, qualquer que seja o projeto de pesquisa que se quer fazer. Em contrapartida, eu tenho no Vicente Tardin, que acompanho desde o Webinsider, uma pessoa que me compreende e nunca, note bem, me fez qualquer tipo de censura. Que mais poderia querer eu?
Recentemente, eu mandei uma lista ao Vicente com todos os trabalhos no Webinsider, e até ele ficou surpreso, mas acontece que a gente não se dá conta do número de manuscritos publicados ao longo dos anos. Se depender de mim, eu não quero deixar aquilo tudo morrer.
A minha pesquisa em cinema foi penosa, mas deu alguns frutos. Um deles foi conhecer o Orion, não só pela sua estatura nesta indústria, mas principalmente porque ele era dono de um conhecimento amplo nas áreas cuja tecnologia sempre me fascinou desde os meus tempo de menino. Eu amadoristicamente só não projetei 70 mm, mas conheço a estrutura desta película desde os meus tempos de cineclubista, e portanto soube valorizar uma pessoa como ele.
Mas, o que importa não sou eu, mas aqueles que desbravaram o cinema como um todo, e que, como você mesmo diz, merecem os devidos créditos. Se a perda desses depoimentos se concretizar, vai ser um desastre para a memória de todos os homenageados!
Realmente Paulo esses Profissionais da área técnica de Cinema nunca tiveram seu merecido destaque, mas a sua experiência e conhecimento nos trazem relatos que podem ser considerados como bibliotecas vivas, pena que sua profissão foi mitigada, mas que tiveram um importante papel na estória do Cinema, pois eram o elo final que começavam nas produções e filmagem e edição, e finalmente todo aquele trabalho finalizado merecia todo cuidado na sua exibição. Pena que com a digitalização do Cinema, o trabalho desses profissionais foi perdendo espaço, pois agora qualquer um carrega um arquivo de hd digital e exibe em projetores digitais. Nada mais sendo preciso de ajustes finos ou calibragens. São as consequências futurísticas dessa digitalização que não sabemos ainda até onde vai.
Oi, Rogério,
Eu larguei a bioquímica e ciência, depois de mais de 30 anos de uma luta danada. A universidade pública que eu vivi tem altos e baixos, e uma quantidade enorme de barreiras a serem puladas o tempo todo, qualquer que seja o projeto de pesquisa que se quer fazer. Em contrapartida, eu tenho no Vicente Tardin, que acompanho desde o Webinsider, uma pessoa que me compreende e nunca, note bem, me fez qualquer tipo de censura. Que mais poderia querer eu?
Recentemente, eu mandei uma lista ao Vicente com todos os trabalhos no Webinsider, e até ele ficou surpreso, mas acontece que a gente não se dá conta do número de manuscritos publicados ao longo dos anos. Se depender de mim, eu não quero deixar aquilo tudo morrer.
A minha pesquisa em cinema foi penosa, mas deu alguns frutos. Um deles foi conhecer o Orion, não só pela sua estatura nesta indústria, mas principalmente porque ele era dono de um conhecimento amplo nas áreas cuja tecnologia sempre me fascinou desde os meus tempo de menino. Eu amadoristicamente só não projetei 70 mm, mas conheço a estrutura desta película desde os meus tempos de cineclubista, e portanto soube valorizar uma pessoa como ele.
Mas, o que importa não sou eu, mas aqueles que desbravaram o cinema como um todo, e que, como você mesmo diz, merecem os devidos créditos. Se a perda desses depoimentos se concretizar, vai ser um desastre para a memória de todos os homenageados!