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Durval Ferreira foi um dos mais prolíficos compositores dentro do movimento bossa novista

Durval Ferreira foi um dos mais prolíficos compositores dentro do movimento bossa novista. Em atividade até o fim, ele nos deixou em 2007, vítima de um câncer, e abriu uma lacuna na música brasileira difícil de preencher.

 

O Fernando Blanco, um grande amigo que eu perdi inesperadamente, morava na Rua São Salvador 59, em frente à Praça do mesmo nome. E lá morava também o icônico compositor, músico, arranjador, produtor, etc., Durval Ferreira, sinônimo do início do movimento bossa novista, para o qual ele emprestou o seu enorme talento.

A Rua São Salvador fica localizada no bairro do Flamengo. Lá está também localizado o quartel do Corpo de Bombeiros daquele bairro, que pode ser visto no fundo da imagem da ilustração a seguir.

Na época em que eu visitava constantemente aquele meu amigo, a Praça era bucólica, mas nos anos mais recentes virou um “point” da turma que fica literalmente no meio da rua, enchendo a cara de cerveja no período noturno, ou seja, a paz do local acabou em definitivo, uma pena. O que sobrou de interessante foi o espaço das crianças, ocupado durante o dia.

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Eu só havia conhecido o nome de Durval Ferreira como músico e compositor quando, no início da minha adolescência eu comecei a ouvir o elepê Avanço, do Tamba Trio. Na contracapa do disco o nome do Durval aparece com um parêntese dizendo “Gato”, e eu pensei tratar-se de um apelido!

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Santa ingenuidade adolescente. Durval participou, na realidade formou, um grupo com o nome de “Os Gatos”, tendo gravado um disco na Philips no ano seguinte, que obviamente eu nunca ouvi.

Outro detalhe curioso deste período foi quando a Odeon lançou um disco chamado Balançando com Milton Banana Trio, no qual aparece a música do Durval “São Salvador”, e eu na época pensei se tratar de algum tema se referindo ao estado da Bahia. Só rindo mesmo… Também, como é que eu, ainda menino, iria saber que o nosso bom Durval morava na rua que tinha aquele mesmo nome?

A vida do passado e a mais recente do compositor

Embora o Durval fosse frequentemente no apartamento do Blanco, eu nunca o vi por lá, infelizmente. Quisera eu ouvir dele a sua trajetória, que foi, no mínimo, riquíssima, sob todos os aspectos!

Por volta de 2005, o meu amigo Fernando me chama para ir a um show do Durval, que aconteceu na Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa, e lá estavam músicos importantes no cenário da Bossa Nova, entre os quais Adalberto Castilho, o Bebeto do Tamba Trio. Eu tive, naquele momento, o privilégio de dizer ao Bebeto sobre a importância e o impacto que eu tive quando ouvi o disco Avanço, do Tamba.

Durval Ferreira gravou o seu último disco, chamado de “Batida Diferente“, reunindo um monte de músicos de alta qualidade, em uma espécie de recordatório parcial da sua produção. Também neste disco figurou o Quarteto 004, do qual o Blanco era um grande amigo, e esta foi a última gravação do 004 e do Durval.

Antes de lançar o disco, o Durval deu uma cópia da fita master de 2 canais para o Blanco, copiada às pressas e depois me dada. Havia uma alteração na ordem de duas faixas, que eu remendei em casa posteriormente, mas nada de importante.

 

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Nesta gravação se pode ouvir o solo magnífico do pianista Osmar Milito na interpretação de Tristeza de Nós Dois, na faixa 3, música composta junto com Bebeto e Maurício Einhorn, e que consta também no disco Avanço, do Tamba Trio, anteriormente citado. No show do Julieta de Serpa, Durval conta como a música havia sido feita e a motivação por trás dela.

Maurício Einhorn, o grande gaitista, foi parceiro de Durval na composição de Estamos Aí, interpretada por Leny Andrade, parceira de ambos, e gravada na Odeon. No show com Pery Ribeiro do Porão 73, também gravado pela Odeon, Leny parte para um scat singing empolgante desta música, que ficou como obra constante do seu repertório.

Durval esteve presente no movimento bossa novista bem antes dele se tornar proeminente aqui e lá fora. Mas, ele não seu furtou em ir aos Estados Unidos para o show de 1962 do Carnegie Hall, e depois se juntar ao Bossa Rio, e gravar um ótimo disco com Cannonball Adderley.

A sua participação como produtor e diretor artístico de discos o fez passar por vários estúdios de gravação. Quando Sarah Vaughn veio aqui e gravou “O Som Brasileiro de Sarah Vaughn” na RCA, Durval estava lá. Ela inclusive incluiu “A Chuva” (renomeada “The Day It Rained” para efeitos de divulgação), composta por ele.

É difícil, diante deste riquíssimo histórico, para mim seria impossível, saber com quem Durval Ferreira não cruzou em sua trajetória. No entanto, apesar da imensa obra, eu garanto a quem quiser que é pouco provável que o seu nome se torne nome de logradouros de qualquer natureza.

Anos atrás, por volta de 2007, se não me engano, o meu amigo Fernando Blanco me conta que Durval Ferreira havia falecido. Um dos porteiros do prédio contou a ele que viu o Durval caminhando com dificuldade no pátio da entrada do edifício, bastante cabisbaixo. Infelizmente, um câncer atormentava o compositor e o levou de nós aos 72 anos.

Trata-se de uma perda irreparável, como foram as perdas do Quarteto 004 e a do meu grande amigo. Durval esteve ativo o tempo todo da sua existência, com um profundo amor à música. Sua morte deixa um vazio difícil de preencher, e a nós que ainda estamos por aqui só nos resta lembrar o que ele fez pelo melhor momento da música carioca e brasileira! Outrolado_

. . .

Afinal, quem criou a Bossa Nova?

 

Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim

 

A presença de Sarah Vaughn no Brasil

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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