Alfred Newman foi o autor da famosa fanfarra da Fox Filmes, estendida depois na era do CinemaScope. Sua obra passa muito além disso, na pele de um filho de imigrantes que saíram da Europa, procurando liberdade em outros países, a história de Hollywood nas áreas de cinema e música.
Quem nunca ouviu a fanfarra da 20th Century Fox? Durante muitos anos da minha adolescência eu quis saber quem escreveu aquilo, principalmente quando a Fox inaugurou o CinemaScope, com uma extensão desta mesma fanfarra.
Gozado é que durante anos a extensão foi omitida, não sei por quê, mas foi ressuscitada por George Lucas no filme Star Wars, durante o lançamento oficial das trilhas Dolby Stereo, e agora faz parte de todos os lançamentos da Fox em Blu-Ray.
Alfred Newman, o autor da fanfarra, já era veterano na composição das trilhas de cinema, e quando não, era arranjador e/ou regente de outras trilhas. Charles Chaplin compôs a trilha sonora de Luzes da Cidade (1931) e Tempos Modernos (1936), mas ele não era músico e assim contratou Newman para orquestrar esses filmes.
Alfred Newman era um profissional típico da velha Hollywood: nascido em solo americano e filhos de pais judeus (o pai era cantor de sinagoga), que emigraram da Rússia, provavelmente para fugir da perseguição que afligia este povo. Teve vida itinerante, passou pela Broadway e depois se mudou para Hollywood, chegando lá em 1930. A fanfarra da Fox lhe deu uma importante notoriedade. Ao logo de sua carreira, foi recipiente de vários Oscars.
A trilha de City Lights (Luzes da Cidade) foi reconstruída e gravada em PCM estéreo, por volta de 1993, pelo maestro e scholar Carl Davis. A trilha foi inclusa no DVD da Image/CBS Fox com o filme transcrito na sua relação de aspecto original (2.20:1), a partir do negativo de câmera. A trilha pode ser ouvida on-line:
Esse trabalho de reconstrução é importante, porque as partituras do filme apresentavam todo o tipo de problema, e por isso Carl Davis fez o seu trabalho a partir do que pode ser ouvido no filme. A edição em DVD tem a opção de se escolher a trilha original mono restaurada, para quem quiser comparar.
Foram muitos os compositores de trilha sonora, a maioria inclusive de judeus que fugiram dos horrores da Europa, que depois povoaram Hollywood. O cinéfilo tem, há muito tempo, chance de ouvir as diversas composições para filmes de várias décadas, em reconstruções digitalizadas, a partir das partituras originais, ou então em compilações gravadas por maestros de grande categoria, e eu aqui citaria os discos gravados por Charles Gerhardt para a RCA, na década de 1970.
Algumas dessas gravações em formato quadrafônico foram editadas em SACD pela Vocalion, como o já citado aqui neste espaço Sunset Boulevard, com trilhas de Franz Waxman.
A migração de cineastas e compositores judeus, fugindo da Europa, trouxe à Hollywood um grande número de artistas, os quais impulsionaram a indústria de produção de cinema em massa norte-americana (cerca de mais de 50 filmes por ano), por trazerem consigo todo o aprendizado obtido em solo europeu.
A reconstrução dessas trilhas permitiu a audição do material gravado com uma qualidade de som que o cinema falado não tinha. O fã de cinema pode hoje então, ter uma ideia de como essas trilhas iriam soar, caso os recursos de hoje estivessem disponíveis!
Em última análise, as boas trilhas compostas para cinema traz ao cinéfilo o prazer de lembrar os seus melhores momentos dentro das salas de exibição. Para o colecionador sério, tanto de cinema quanto de música, tudo isso não tem preço! [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.