Nikola Tesla foi um dos maiores inventores e visionários. Se estivesse ainda vivo, poderia ver que as suas ideias deram os frutos que pretendia (ou quase).
Nikola Tesla foi um dos mais brilhantes inventores e visionários do século passado. Se ele estivesse vivo, iria deslumbrar-se vendo todas as suas visões terem sido concretizadas, mas muito provavelmente iria se decepcionar com o péssimo serviço fornecido aos usuários das concessionárias de energia elétrica, que foi, historicamente, um dos seus pontos fortes.
Em vida, Tesla foi vítima da picaretagem e das sabotagens dos Thomas Edison e personagens sinistros equivalentes. Morreu na pobreza, sozinho em um quarto de hotel, onde era hospedado por cortesia da Westinghouse, para quem trabalhou. Seus hábitos excêntricos, alguns historiadores falam em Transtorno Obsessivo Compulsivo, foram vistos sem complacência por terceiros, como se alguém perdesse a sua genialidade congênita por causa disso! Logo após a sua morte, agentes do FBI sequestraram todo o seu material de trabalho e o esconderam dos olhos do público.
A sua história está contada em dezenas de documentários e vários filmes. Tesla poderia ter morrido rico, mas preferiu ceder seus direitos de patentes a George Westinghouse, ou seja, ficou com pena de um magnata e pagou por isso.
Infelizmente, um dos podres da sociedade capitalista é a ambição e a ganância desmedidas que circulam entre os homens poderosos. Nem cientistas escapam disso, haja visto o caso de Doug Engelbart, visionário que inventou o mouse e previu os inúmeros avanços em informática e na Internet, mas não foi reconhecido como tal, apenas seus inventos e premissas aproveitados por gente que, de criativa, só tinham a fama.
A história tem relatos trágicos de visionários, como Alan Turing, que foi condenado por ser homossexual e forçado a fazer um tratamento castrador criminoso, para não ir preso. Morreu em circunstâncias suspeitas. Seu legado está aí até hoje, na forma do computador moderno e da inteligência artificial.
A situação de Tesla é também um descalabro sem precedentes. Poderosos que lucraram com energia elétrica se sentiram ameaçados quando ele fez um projeto para transmitir energia elétrica sem fio, e, principalmente, a baixo ou nenhum custo para o consumidor.
Thomas Edison, o controvertido e decantado inventor, fez o que pode para desacreditar e desqualificar Tesla, porque ele se opunha à distribuição de corrente contínua para as cidades e residências. Tesla provou que a corrente alternada era a única energia viável para ser distribuída em longas distâncias! Edison sacrificou animais para “demonstrar” que a corrente alternada era perigosa.
A nossa energia elétrica de hoje não lhe faz justiça
Eu me arrisco a dizer que, se Tesla estivesse vivo, provavelmente ficaria revoltado com a energia elétrica suja que a gente recebe em casa. Quem é usuário e paga as suas contas em dia até recebe atenção quando falta a luz, mas a constante falta de energia elétrica, principalmente durante o verão, não estimula ninguém a ficar ligando para a concessionária a todo momento.
Não há explicação plausível que pudesse ser fornecida pela concessionária para esta constante falta de luz. Basta ameaçar chover e a gente já se prepara para deixar uma lanterna à mão ou um pacote de velas, se for preciso. Na minha rua, a Light trocou os transformadores umas três vezes. Antes, eram dois transformadores diferentes, a voltagem era de 127 Volts.
Os atuais transformadores repassam excessivos 130 a 132 Volts, e não há como a concessionária acabar com isso, segundo um técnico de rua com que conversei muito tempo atrás, porque os transformadores são instalados segundo a demanda total dos consumidores, ou seja, na prática quem mora mais próximo fica à mercê da voltagem total transformada.
As consequências da falta de luz e da voltagem excessiva
Se a luz falta, mas volta logo depois, o prejuízo tende a ser pequeno, a não ser que haja um surto de tensão na rede. Mas, quem precisa do computador desktop para trabalhar, e não quer perder o que está fazendo, terá que forçosamente lançar mão de uma UPS (o tradicional no-break) adequada.
Não há outro jeito, porque quantas vezes a falta de luz ocorre quando menos se espera? A confiabilidade neste tipo de recurso deixa o usuário bem mais tranquilo. Além disso, um bom no-break tem vários circuitos de proteção, impedindo, neste caso, de a voltagem chegar a 132 Volts ou acima, na fonte dos equipamentos ligados a ele.
Em uma casa com IOT (a Internet das coisas), modem, roteador, etc., precisam estar, de preferência, permanentemente ligados. A linha fixa de telefone está hoje atrelada ao modem da operadora, portanto igualmente carente de energia elétrica local. Na minha rede doméstica, por exemplo, eu achei necessário instalar um segundo no-break, que sustenta modem, roteador, telefone fixo e uma multifuncional, útil para qualquer emergência. Como a carga desses aparelhos é muito pequena, exceto a da multifuncional, mas que nem sempre está ligada, as baterias do no-break mantem tudo ligado por um longo período de tempo!
A limpeza da energia elétrica
Eu já comentei antes que a única saída para pulsos transientes de alta intensidade (os chamados surtos) na rede elétrica é a instalação de Dispositivos de Proteção contra Surtos (os DPS). Em casas onde há uma rede monofásica (fase + neutro), ela é arcaica e sem aterramento, então usa-se o DPS do tipo III.
Um DPS deste tipo é componente de baixo custo, geralmente muito bem construído e facilmente encontrado no comércio. Se o DPS chegar ao ponto de queimar, o equipamento na linha fica protegido, e o usuário apenas faz a sua substituição por um novo. Assim, é prudente ter um DPS de reserva em casa, se for preciso.
Condicionadores de energia e/ou Filtros de Linha também são necessários. Muitos equipamentos em uso nos home theaters são importados. Em um equipamento feito para as condições norte americanas, por exemplo, a tolerância de tensão não passa de 127 Volts, com, de preferência, 120 Volts nominais. Existem modelos de condicionadores que usam um auto transformador para fazer a voltagem descer a níveis seguros.
Quando não, o amaldiçoado estabilizador de voltagem cumpre a sua função, malgrado o que se discursa contra eles. A saída de tensão estabilizada nesses equipamentos depende muito do design do fabricante, pode ser 115 Volts ou 120 Volts. As voltagens mais baixas para equipamentos importados diminui a possibilidade de desgaste de componentes, ou dano por voltagem acima da tolerável ou excessiva.
A Aneel, segundo me informou um eletricista, permite que 132 Volts seja fornecido ao consumidor, e como a concessionária não vai se mexer, e nem trocar transformadores, que são estimados pela demanda de consumo, para diminuir a voltagem da rede, toda e qualquer proteção dentro de casa tem automaticamente o seu gasto justificado!
Via-de-regra, equipamentos de proteção, como condicionadores, no-breaks e estabilizadores, são projetados para somente aceitar a tensão de rede dentro de uma faixa de segurança, por exemplo, 95 a 135 Volts. Fora desses limites a saída do equipamento de proteção é automaticamente desligada, e normalmente volta a ligar quando a voltagem da rede retorna para esta faixa de proteção. Bons condicionadores avisam o usuário quando a proteção está ativa!
Raios e trovões
A única coisa que a concessionária não tem culpa, acho eu, é a incidência e os efeitos negativos da descarga atmosférica que aflige o país como um todo. A incidência de raios elétricos no Brasil às vezes chega a ser assustadora.
Normalmente, é no verão que se observam descargas elétricas em profusão. As redes de distribuição de energia são bastante afetadas por trovoadas, sendo assim quase impossível evitar que as anomalias decorrentes das alterações provocadas durante as intempéries cheguem na casa do usuário.
A proteção de eleição contra raios e trovões é o DPS. O usuário nunca deve se fiar em para-raios da vizinhança ou no aterramento da concessionária, ou quando existe um aterramento dentro de casa. Este aterramento é super importante sim, mas não impede que surtos de tensão cheguem à instalação do consumidor.
Equipamentos de proteção são desenhados de forma a prever o excesso ou a queda de voltagem, como foi descrito acima, mas também contra curtos-circuitos locais ou em qualquer outro ponto da rede elétrica. Se houver um disjuntor no equipamento de proteção ele desarma e depois pode ser rearmado pelo usuário. Se houver um fusível no lugar do disjuntor ele provavelmente irá queimar e deve então ser substituído por outro igualzinho.
É importante, entretanto, que o usuário preste atenção no tipo de fusível a ser substituído. Se o usuário colocar ali um fusível errado, o equipamento de proteção perde automaticamente as suas especificações e pode acabar prejudicando a instalação do protetor.
Nos quadros de distribuição, os disjuntores modernos dão conta do recado, mas são complementados por dispositivos de proteção, como, por exemplo, o DR, que é um dispositivo diferencial residual, que previne contra fugas de corrente, evitando acidentes dentro de casa.
Infelizmente, prédios antigos (no meu bairro são a maioria) raramente são reformados para conter dispositivos como o DR e outros. O PC antigo da Light, que contém os relógios de medição de consumo e a fiação para os apartamentos sequer são providos de aterramento. Se o usuário quiser criar um, vai ter que se valer de um eletricista competente.
Muitos equipamentos de proteção podem funcionar sem aterramento na rede de alimentação onde eles estão ligados, porém se perde um importante recurso que depende da sua presença. Em qualquer circunstância, porém, deve-se fazer uso de um equipamento de proteção, independente do aterramento estar presente. Não sou eu que digo isso, são os próprios fabricantes e eletricistas.
Aparelhos com tomadas de dois pinos podem, e devem também ser protegidos. Quando o pino de terra está ausente da tomada significa que o aparelho tem um isolamento interno duplo e que o aterramento não é feito na carcaça, como é o caso de máquinas de lavar ou chuveiros elétricos. E sim o caso de um televisor, por exemplo. Aparelhos com tomadas de dois pinos estão na classificação de isolamento do tipo II. Os de tomada com 3 pinos são da classe 1, e precisam de aterramento.
A eletricidade e a sua ciência costumam ser inexpugnáveis para os leigos como eu, que acabei aprendendo somente o essencial do assunto, os tais “20%”. Entretanto, quando se contrata alguém do ramo, é sempre preferível saber o que está sendo feito, porque nem todo eletricista decide fazer certo o que está montando, e eu já vi situações onde tudo parece estar perfeito, mas os erros são detectados pelos equipamentos de proteção, que são desenhados para somente serem alimentados com a rede corretamente instalada.
O mundo que Nikola Tesla vislumbrou está aí: grandes geradores, motores de indução, linhas de transmissão físicas e sem fios. A maior parte da realização das suas visões aconteceu muito depois da sua morte, impedindo-o de as verem nascer. Mas, nunca se sabe o dia de amanhã, e não se deve descartar o que ainda pode vir por aí! Outrolado_
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Condicionadores de energia são necessários para o home theater?
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.