Edição brasileira do filme Stigmata, de 1999

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Stigmata, filme de 1999, ganha edição brasileira.

Stigmata, filme de 1999, foi relançado aqui, em uma edição Blu-Ray do selo Obras Primas, acompanhada de livro e cartões e embalagem com luva.

 

Eu achei e acabei comprando a edição do selo Obras Primas do Cinema com o filme Stigmata, de 1999, que não via há muitos anos. A “nova” edição tem imagem com qualidade bastante razoável e áudio com DTS HD MA 5.1 de muito bom nível. Foi, agora, a primeira vez que eu assisto o filme em Blu-Ray e valeu muito a pena.

Stigmata, segundo testemunhas americanas, teve um lançamento controverso, com dúvidas sobre a sua religiosidade. O filme em si usa elementos de horror, para dramatizar cada um dos eventos ali contidos. Então, não é exatamente um filme sobre religião, ou sobre o catolicismo,

A Stigmata per se é um fenômeno relatado desde tempos idos, quando supostamente uma pessoa, na maioria mulheres, vê aparecer nas mãos e nos pés chagas profundas, semelhantes àquelas sofridas por Cristo, quando pregado na cruz, durante a crucificação.

Ao longo dos anos, a palavra “estigma” se tornou sinônimo da classificação do comportamento social de uma pessoa, considerado como negativo, ou restritivo. Pode ainda estar associada ao preconceito e/ou à discriminação, segregando o estigmatizado no meio social. Estigma pode ser visto então como uma marcação pouco afortunada de alguém.

O filme traz um resgate de memória sobre casos como o de São Francisco de Assis e do Padre Pio, depois canonizado, cujas chagas só desapareçam quando ele faleceu.

No caso específico da personagem do filme Frankie Page, as chagas aparecem nos punhos e não nas mãos, porque existem evidências de que Cristo foi crucificado desta maneira. Assim, o estigmatismo dela seria considerado autêntico.

Mas, o roteiro abrange muito mais do que isso, daí provavelmente as controvérsias da época do lançamento: um novo documento da época de Cristo foi descoberto e traduzido que continha sugestões de que a “Igreja” não seria aquela contida em um prédio, mas sim no corpo de seus fiéis.

Esta premissa parte do princípio de que Deus está em todos nós, como aliás ensina a Igreja Católica. Mas, existe também no Evangelho o contraditório desta premissa, e a Igreja também segue as palavras de Jesus ao seu discípulo Pedro, quando Ele fala que “Pedro” (Petrus em latim, que significa “Pedra” ou “Rocha”) seria aquele no qual Ele construiria a sua Igreja. Daí a tradição milenar que elege cada Papa para ser a “pedra” da Igreja! Claro que é admissível ver Pedro como a pedra não física da Igreja, mas sim o seu esteio social.

O filme debate sobre a existência da Igreja em um espaço físico, com uma forte oposição do Vaticano, que quer ver esta premissa, contida nos documentos descobertos, apagada completamente.

Teoricamente, se não há necessidade de uma igreja física, então nenhum católico precisaria ir à missa ou seguir outros ritos dentro das igrejas, bastaria orar em casa. A proposto, já foram descobertos vários documentos supostamente da época de Cristo, mas todos geraram controvérsias dentro da própria Igreja Católica.

Stigmata, o filme

Os roteiristas e o diretor Rupert Wainwright fizeram uma compilação de casos de estigmata, que são mencionadas pelo Padre Andrew Kiernan. Por coincidência, e talvez tenha sido até proposital, Gabriel Byrne, o excelente ator irlandês, é católico e frequentou um seminário, antes de se tornar ator. A sua interpretação como Padre Kiernan, na minha opinião, é perfeita!

Algumas anedotas foram inseridas no roteiro, quando o Padre Kiernan passa próximo a três prostitutas oferecendo “serviço”, e ele ri e mostra o colarinho clerical de padre.

Em outros momentos, Paige se torna sexualmente atraída por Kiernan, talvez em gratidão ao seu amparo, ou então pela busca de proteção. O filme não questiona a filosofia celibatária exigida pela Igreja, apenas o fato é mencionado. Fica claro que Kiernan tinha tido um pouco de vida sexual, antes de se tornar padre, mas resolveu abdicar dela.

Um ponto, a meu ver, muito positivo do roteiro é mostrar o Padre Kiernan como um cientista, além de sacerdote. Muitos padres católicos são formados em outras profissões antes de suas ordenações, como os Jesuítas, que são professores de ensino superior. E o Padre Landell, pioneiro brasileiro do rádio. Em O Exorcista, o padre que atende Reagan é Jesuíta e também médico.

Kiernan fala que a ciência não contradiz Deus, embora a presença Dele não possa ser provada. E o personagem esclarece que foi a procura de Deus que o fez se aproximar da ciência.

A propósito de ciência, nas minhas aulas para os estudantes de medicina, eu costumava mencionar os objetivos primários da pesquisa científica, que é a procura das respostas sobre a existência do ser humano, do tipo “quem sou eu e o que é que eu estou fazendo aqui”. A ciência também procura elucidar como tudo trabalha e funciona, e quanto mais se chega ao plano molecular, mas é difícil entender como o átomo apareceu no universo. A ciência não desmente Deus, mas a crença em sua existência está sempre ligada na fé de uma pessoa!

A Igreja Católica carrega até hoje muitos mitos. A questão da exigência da vida celibatária esbarra em outra questão, que é a associação entre sexo e pecado, que a Igreja sempre mencionou nos confessionários. Tal questionamento é mencionado também em O Exorcista. Em Stigmata, se contrasta o que a medicina moderna diz sobre a sexualidade dos homens. Do ponto de vista da Medicina e da Ciência, a sexualidade é um fenômeno fisiológico natural, mas na Igreja Católica ela pode ser vista como pecado, dependendo das circunstâncias, como as extra maritais.

A edição em Blu-Ray

A edição lançada aqui é similar àquela editada pela Shout Factory em 2015, sob licença da M-G-M. O conteúdo de extras é o mesmo, e o disco brasileiro é acompanhado de um pequeno livro e várias imagens impressas na forma de cartões, incluindo uma mini versão do poster do filme.

Algumas adaptações de configuração no menu principal foram feitas: as legendas são em português exclusivamente, podendo-se escolher a exibição na cor branca ou amarela, que é mais adequada para leitura em um display. A trilha, em DTS HD MA 5.1, é bem servida pelo aprimoramento com Neural:X, nas cenas mais dramáticas, produzindo um aumento grande de ambiência.

Trata-se enfim de uma edição de colecionador, pouco importa o filme ser antigo. Por outro lado, este filme ainda foi realizado sem os padrões atuais de violência e planos com minutagem de menos de 1 segundo, ambos insuportáveis para se assistir. Portanto, é um lançamento tardio, mas bem-vindo. [Webinsider]

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Padre Landell, o brasileiro que inventou o rádio

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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