Oral, escrita e digital: as três eras cognitivas

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As novas possibilidades de criação coletiva distribuída, aprendizagem cooperativa e colaboração em rede oferecidas pelo ciberespaço colocam novamente em questão o funcionamento das instituições e os modos habituais de divisão do trabalho, tanto nas empresas como nas escolas.

Pierre Lévy, da minha coleção de frases.

O problema básico da humanidade sempre foi repassar o conhecimento da geração atual e passada para as futuras.

Cada pessoa que nasce precisa chegar ao mundo e receber a “óstia do conhecimento” para ir daqui em diante e não voltarmos para trás.

Ou seja, a humanidade é dependente da forma que essa passagem é feita para sobreviver e resolver os problemas que cada vez mais gente na terra provocam.

Começamos com a memória, passamos ao papel (e adjacências) e depois para o suporte digital.

Cada uma dessa passagens mudou a maneira de produzir e receber conhecimento. Fez com que nossos cérebros se adaptassem a esse suporte. Assim, a tecnologia cognitiva é aparentemente neutra por fora, mas modeladora por dentro.

Essas passagens nos obrigam a mudar o jeito que organizamos internamente esse ato de conhecer e produzir conhecimento, marcando eras distintas da Civilização.

Tudo começa com uma tecnologia, que molda nosso cérebro que, por sua vez, a partir desse novo molde, molda a sociedade. (Pela primeira vez, li sobre o termo “Filosofia da Tecnologia”, que estuda como pensamos sobre elas. Isso é importante, pois vai nos dar a possibilidade de entender tudo isso melhor. Aguardem, falarei mais sobre isso.)

Tivemos, portanto, três grandes eras cognitivas, nas quais nossos cérebros foram radicalmente mudados:

  • oral, com suporte na memória;
  • escrita, com suporte em papel e adjacências;
  • digital, com suporte no computador.

Cada passagem, guarda características em comum:

  • explosão informacional;
  • aumento de velocidade do fluxo de informação;
  • mais facilidade de acesso ao conhecimento acumulado.

A meu ver essas passagens se tornam maduras em função do aumento da população, que cria a cama na qual a nova era vai deitar. E, quando vêm, gera consequências profundas em nossos cérebros. E têm particularidades específicas, que temos que estudar, pois são elas que criam as novidades pelas quais iremos moldar a nova sociedade.

A chegada da era digital, numa grande rede de computadores conectados, nos traz de novo que as outras eras não permitiram, entre outros:

  • A interação muito para muitos a distância. Exemplo: chats, comunidades do Orkut, listas de discussão.
  • O registro destas interações, disponível a todos. Exemplo: texto do que acontece nas interações que ficam disponíveis;
  • A alteração de registros de forma volátil a distância. Exemplo: Wikipédia.
  • A complementação do registro no mesmo ambiente. Exemplo: comentários de um usuário em um post em determinado blog.
  • E o registro da interação entre o usuário e a informação. Exemplo:
    uma revista online pode saber quantos, como e quem acessou cada uma das páginas.

Esse conjunto de novas possibilidades de receber e produzir conhecimento é o que está permitindo a revolução da era digital e não a tecnologia, que é apenas a motivadora da passagem, uma ponte entre duas cidades que não se falavam.

Isso vai implicar na mudança geral da sociedade. Ou seja, como lidamos com o conhecimento do jeito “A” para o “B”. Uma civilização que vai também do “A” para o “B”.

Que dizes?

…………………………………
Diário de blog: o tema já existia no blog, mas o que avançou foi a ideia que as eras são fruto da forma como armazenamos o conhecimento, a mudança do suporte, que implica em várias passagens cognitivas.

É novo o conceito de que a tecnologia é neutra por fora, mas agente por dentro. E o novo campo de estudo “Filosofia da Tecnologia”. [Webinsider]

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Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.

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6 respostas

  1. Sou nova nesse negócio de ‘meio digital’, sempre li em livros, jornais e revistas. Estava acostumada com o suporte de papel, agora arrisco umas braçadas na internet. Confesso que ainda fico insegura e meio perdida… mas completamente deslumbrada com infinitas possibilidades. Acho que (nós leitores)conquistamos a liberdade, digo isso porque o acesso a bons textos sempre exigiu tempo e dinheiro. É MUITO BOM ter o texto que se quer ao alcance de um clic e poder escolher dentre infinitas possibilidades.

  2. Parabéns pelo artigo.

    Ainda há um caminho longo a trilhar.

    O principal e maior obstáculo a enfrentar são nossas limitações como indivíduos e sociedade, sejam elas próprias ou atribuídas. Torna-se imprescindível uma conscientização coletiva, o discernimento do que é realidade e as instâncias que a envolve, sendo essa uma necessidade óbvia e premente.

    Com isso, para fomentar a reflexão sobre o assunto, proponho a leitura de um outro artigo aqui mesmo do Webinsider: O papel da TI na comunicacao só tem a crescer

    http://webinsider.uol.com.br/2010/06/18/o-papel-da-ti-na-comunicacao-so-tem-a-crescer/

    Cordiais []´s

  3. Brunos,

    vejam que a filosofia da tecnologia estuda como pensamos sobre ela…e não a tecnologia em si.

    Quanto ao aumento de interação, certo, mas tanto é algo que facilita, como complica…

    É isso,

    valeram os comentários.

    Nepô.

  4. Acho interessante que, à medida em que cresce a quantidade de pessoas no planeta, crescem também as possibilidades de interação entre elas. Essa é uma das marcas de cada uma das passagens que você citou. Ótimo artigo.

  5. Interessante, não havia lido sobre o termo Filosofia da tecnologia, mas para que trabalha com desenvolvimento de tecnologias, isso torna-se muito importante, pois o que está sendo desenvolvido terá que ser utilizado por alguém. A tecnologia é vasta e aberta para todos, assim qualquer pessoa pode desenvolve-la e a forma como é projetada influenciará na vida das pessoas, para o bem ou mal. Assim como todas as revoluções, temos que saber o limite dessa influência.

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