Mesmo depois que o mundo assistiu a diversos casos como o do Google e meninos em uma garagem que acabam por “engolir” grandes empresas, parece que muita gente não aprendeu ainda: subestimar os jovens é um jogo perigoso.
Jovens, nesse caso, não apenas pessoas, mas também empresas.
Quantas vezes ouvimos por aí: fulano não é nosso concorrente, ele não tem força para isso. Não tem, mas só até inventar algo que você não inventou, vender igual água (ou, ao contrário, cortar custos) e, em casos extremos, até comprar a concorrência.
No mercado online, subestimar os “mais fracos” se torna especialmente perigoso. Isso porque o potencial da Internet – seja ela a 2.0, com suas emblemáticas redes sociais, ou até mesmo o modelo “antigo” – ainda está longe de ser totalmente compreendido ou utilizado em toda a sua capacidade. Isso coloca gente experiente em níveis próximos aos novatos ou, em alguns casos, até em desvantagem.
O que os mais jovens podem ter de tão especial? Bem, conversando com um jornalista experiente, que hoje trabalha como blogueiro, ouvi um comentário interessante: ele disse teve que aprender a blogar, mas que, para ele, é como falar uma língua estrangeira. Por melhor que “fale”, nunca é como um nativo.
Nunca tinha pensado por esse lado. Mas realmente o domínio da linguagem internet se dá de forma diferente para os experientes no mundo dos negócios offline, que sabem fazer tudo sem a ajuda de um computador, e para aqueles que praticamente nasceram com um mouse na mão.
O primeiro caso, com seus anos de atuação e percepção sobre o mercado, é frequentemente mais cético ao novo e tem que “traduzir” o mundo virtual para seu entendimento real.
O segundo, geralmente abaixo dos 30 anos, não consegue imaginar como a humanidade sobrevivia sem a internet. Eles têm como óbvia muita coisa do “idioma”: qual a postura diante de sites, como funciona o e-commerce, para que servem e como se comportar em cada rede social, o código de ética e políticas de boa vizinhança de blogs, etc. E, é claro, estão carecas de saber que telefone e e-mail estão muito longe de oferecer comunicação suficiente para alguém.
Apesar de serem fluentes nesse idioma, não raro ouço amigos, daqueles que sabem e produzem qualquer novidade informática, se lamentarem ao ouvir de seus clientes algo como: “faço isso há 15 anos, não preciso dos palpites de um menino”. As conseqüências, não preciso dizer, não são as melhores. O mundo muda. Os “meninos” trabalham na internet desde muito mais cedo do que a maioria das empresas.
Será que é por isso que existem tantos empresários bem jovens com crescimento extraordinário por aí? E, por outro lado, empresas que, sem mudar a qualidade de seu produto, veem as vendas despencarem?
A própria história do marketing online confirma isso. Quando a internet surgiu, muitos marketeiros e publicitários experientes deram pouca importância para ela. Então, os jovens, com menos experiência do que eles, mas com mais compreensão da rede, “inventaram” o marketing online e começaram a mudar conceitos. Quando os tradicionais se deram conta, tiveram que correr atrás do prejuízo. Hoje, como consequência, as duas coisas vivem separadas, tentando ainda se integrar.
Não que marketeiros tradicionais não possam aprender a trabalhar online. Pelo contrário: eles DEVEM fazer isso. Sempre que ouço as lamentações dos meus amigos, e muitas vezes tenho as minhas próprias, lembro do meu primeiro trabalho. Eu era realmente inexperiente e, no entanto, quando queria mudar algo, meu chefe invariavelmente respondia: “me convença”. E se deixava convencer.
Essa postura fez com que descobrisse muitos talentos e até criasse coisas novas na empresa. Na verdade, essa é a postura de empresas como a Google. E, se até o Bill Gates, que construiu uma fortuna invejável, tem medo de jovens “inexperientes”, por que a sua empresa arriscaria subestimá-los?
Portanto, antes de desprezar a opinião dos mais “inexperientes” ou encarar com total descrédito aquele concorrente que inventou “alguma novidade na Internet, que não vai em frente”, pense duas vezes. Eles podem estar falando melhor a língua de um público que você ainda não entendeu tão bem. [Webinsider]
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Erika Ferreira
Erika Ferreira (erikaalvesferreira@gmail.com) é profissional de marketing e comunicação e mantém o blog Piores Práticas, o Twitter @erikaferreira e o LinkedIn erikaferreira.
7 respostas
Muito boa exposição. Mas a nós jovens, vale lembrar que existem pessoas mais experientes que sabem nos ouvir, e com estes sim, podemos aprender muito.
Obrigada, Tácio
Na verdade, o mercado tem de tudo: aqueles abertos a novidades e aqueles, como disse, resistentes a elas – e à opinião de quem entende delas.
Há também aqueles que simplesmente conquistaram espaço e querem mantê-lo baseado no que foram no passado, e não o que são no presente – esses, infelizmente, não vão longe se não abrirem os olhos.
Mas, como colocou bem: temos que ter humildade, competências para convencer. Em alguns casos, paciência para chegar a uma linguagem comum.
um abraço
Muito bom mesmo o objetivo do texto Erika:
“chamar a atenção para que se atualizem quanto à internet, já que o público de quase todo tipo de negócios está ficando a cada dia mais online.”
Na verdade o que me motivou a comentar foi que o texto teve outra “lição de moral” para mim, que me enquadro no grupo dos “jovens”.
A mensagem de que os jovens devem estar cientes dessa possível resistência ou desvalorização por parte dos mais experientes, e ter a humildade e as competências necessárias para convencer quando for preciso.
Parabéns pelo texto.
@taciolobo – @mktmay31
Sergio, obrigada por sua opinião.
Na verdade, esse texto não pretende desvalorizar quem não é jovem. Pelo contrário, pretende chamar a atenção para que se atualizem quanto à internet, já que o público de quase todo tipo de negócios está ficando a cada dia mais online.
Os jovens, com certeza, não entendem mais da vida do que os mais velhos (pelo menos na maioria dos casos). Mas quando o assunto é internet, aqueles com menos de 30 anos têm uma compreensão de linguagem e velocidade diferente – por isso, atingiriam os jovens mais facilmente.
Também não sugiro trocar mais experientes por jovens, de maneira nenhuma. Mas, como disse uma vez um amigo, não se faz um bom jogo com todas as cartas do mesmo naipe. Que tal então somar talentos diferentes em vez de disputar espaço?
um abraço
se tenho como limite/horizonte (preste atenção nesta combinação) o comércio, ok. aqueles que estão mais próximos da produção e do consumo, na velocidade da obsolescência programada, quanto mais jovens (e ligados no eternamente novo e no consumo – existem outras dimensões na vida, ainda que elas, cada vez mais, nos escapem), melhor.
mas, perceba, qual o fim, a finalidade disso?
sai o homem (e a mulher, o ser humano) de cena e reina a coisa a ser comercializada? (o homem como instrumento dela?)
sim, porque, não nos mantemos jovens o tempo todo e, mais dia menos dia (mais para alguns que amadurecem mais tarde, ou até nunca: saca a eterna aborrescência? roqueiros, por exemplo), perceberemos a cilada e cairemos fora.
outra coisa é a inteligência. este auxílio luxuoso que não conhece idade, mas requer alguma. pois há que se experimentar aquilo que se pensa. até para, de fato, re-conhecer no mundo das coisas o que se pensou.
a linguagem serve para pensar, se não, não serve para nada, exceto para comerciantes e compradores grasnarem numa feira-livre ruidosa.
Olá, Evandro. Com certeza, o tempo dirá. Mas, pelo jeito, não acredito que precisa mais tanto tempo assim…
Obrigada pela opinião. Tem razão, a internet muda muito rápido. Qualquer um que fosse o melhor há 5 anos, se não se atualizou nesse tempo, tem correr muito atrás do prejuízo – isso não para ser o melhor, mas para não ficar atrás. Particularmente, acho que quem tem essa postura de confiar apenas no passado pagará bem caro por isso. Esperamos que vejam a tempo!!
um abraço!
A conclusão foi perfeita Erika: “Eles podem estar falando melhor a língua de um público que você ainda não entendeu tão bem.”
E como vc disse, a própria internet já mudou, e vai continuar mudando. E não estamos falamdo só de quem veio do offline. Quem “sabia tudo” de internet nos anos 90 também, se não correr contra o prejuízo, será engolido pela onda.
Já vi gente assinando como “VP de Criação” de “grandes” empresas de comunicação, hoje praticamente 100% voltadas a web, que começaram a trabalhar na área quando ainda utilizávamos cartões perfurados (graças a Deus não vivi essa epoca heheh). Um cara desses precisa ter a mente MUITO aberta e não ter medo de compartilhar e absorver idéias, de compreender, de experimentar… pra ser EFICAZ como um “VP de Criação” atualizado.
O que ainda me “apurrinha” é saber que quem precisava absorver isso, e todo esse conteúdo muito bom que temos aqui no Websinsider e espalhado por toda a internet, não tá nem aí. Justamente porque acha que já sabe tudo… mas o tempo dirá… Ahhhh dirá… 😉