Software é empreendimento: o caso do CESAR

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Sílvio Meira

Há dez anos, havia quase duas décadas que um lote de professores universitários iniciara uma aventura de longo prazo, que se provaria duradoura e que teria muitas histórias impensadas, à época, para contar dez anos depois.

O Centro de Informática da UFPE, nascido como Departamento de Estatística e Informática em 1974, estava, em 1993, cumprindo um conjunto de metas que um ambicioso (e irresponsável, porque inexeqüível, a princípio) plano de metas para quinze anos, escrito em 1985, tinha estabelecido com o Ministério de Educação e Cultura, como parte de um acordo para que o então Departamento recebesse seus primeiros microcomputadores.

Que viriam a ser seu primeiro laboratório eletrônico de computação, em substituição às perfuradoras de cartão que eram usadas no ensino da época porque pesquisa, mesmo, havia quase nada. Isso quando a comunidade acadêmica da Europa e dos EUA estava em rede, ligada pela precursora da Internet, a ARPAnet.

As metas às quais o Departamento da época estava obrigado a cumprir eram muito simples: entre 1985 e 2000, teria que atrair 20 doutores, atingir o nível A na avaliação do seu mestrado e criar um doutoramento em Informática.

Simples, mas quase impossível para quem vinha de tão longe nos critérios de avaliação e enfrentaria uma oposição cerrada do sistema ao seu redor, acostumado a fazer as coisas andarem na sua “ordem natural”.

Deixando a ordem para lá e desobedecendo boa parte das regras que, sem seu conhecimento, tinham sido escritas para o Departamento, um grupo de professores comprometidos com a transformação de uma instituição destinada a ser periférica e irrelevante criou, em menos de uma década, um centro de referência em informática no nordeste do Brasil. Ingenuamente, nem sabiam quais e quão profundas seriam as conseqüências de tal sucesso.

Naquele mesmo ano de 1993, à medida em que o sucesso da empreitada começava a ser notado, contratadores variados vigiavam as portas de saída do curso de graduação e atraíam, para fora de Pernambuco, muito mais da metade dos formandos, algo que ainda se repetiria por alguns anos.

Os professores, sem saber, tinham criado uma casa de passagem que preparava os melhores quadros da região para emigrar para fora de Pernambuco, cuja economia de informação, com empresas fundadas nas décadas de 60 e 70, não necessitava de engenheiros com o grau de formação que tinha passado a ser dado pela Informática da UFPE.

As duas alternativas iniciais contempladas, como resultado do êxodo, eram: regredir, academicamente, para voltar a ser relevante para a economia regional, ou perseguir um ideal de excelência acadêmica e abandonar de vez qualquer esperança de impacto econômico. Claro que uns e outros tenderam para faces diferentes desta moeda, mas não era ela que iria decidir nosso futuro.

A outra opção, que levou três anos para ser encontrada, descrita e criada, era partir para a intervenção econômica, a partir da universidade, para tentar revolucionar a forma de interação da Universidade com a Sociedade e o setor empresarial, criando modelos inovadores, arrojados, profissionais e auto–sustentáveis, para aumentar o impacto, a relevância e a competitividade dos resultados de origem (ou de forte componente) acadêmica… Esta opção atende, hoje, pelo nome de C.E.S.A.R, Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, uma fábrica de empreendimentos de tecnologias de informação que fica no Porto Digital, em Recife.

Professores universitários têm tido muito pouco sucesso, nos países em desenvolvimento, nas tentativas de convencer empresas a mudar práticas, processos e métodos, muito menos quando tentam fazer com que a indústria local tente andar no mesmo passo que (ou se adiantar àquela d)o primeiro mundo.

Sabíamos que seria muito difícil interferir nos caminhos da indústria, ainda mais porque nossa experiência era de ensino e não de negócios de informática. E, para aumentar nosso risco, o C.E.S.A.R ia ser um negócio diferente, que não competiria (e não compete) com a indústria e os serviços locais de tecnologias da informação.

Um negócio inovador, empreendedor, capitalista, mas sem fins lucrativos: todo o lucro que gerasse seria aplicado (e é) no seu desenvolvimento e no financiamento ao Centro de Informática da UFPE. Ainda mais, um negócio de informática em que os produtos não seriam hardware, software e/ou serviços de informática – ao invés, os produtos do C.E.S.A.R seriam empresas que desenvolveriam e levariam ao mercado tais produtos e serviços.

Para fazer isso, era preciso montar uma empresa diferente, uma instituição cujo principal papel seria o de fazer com que seu capital humano, a cada solução desenvolvida para atender demandas do mercado, se preparasse cada vez mais intensamente e melhor para… deixar o C.E.S.A.R.

Para cada problema que identificamos no mercado, para cada possível cliente, tentamos descobrir, a priori, se o problema e o cliente, em conjunto, serão fontes de desenvolvimento de soluções inovadoras, que possam ter diferenciais competitivos e sustentáveis, de tal forma que soluções particulares possam ser generalizadas em produtos e serviços que, por sua vez, criem unidades de negócio. Estas, no C.E.S.A.R, são o ponto de partida do ciclo de geração de novas empresas.

Uma unidade de negócios é uma empresa virtual que funciona debaixo das asas e sob proteção do C.E.S.A.R, sem se preocupar, no início, com os atropelos que afligem empresas reais. Uma unidade de negócios é um grupo de aprendizes – e não só de tecnologias da informação – que vai, aos poucos mas com a necessária celeridade, identificando os problemas de empresas de seu nicho de mercado, assim como as parcerias, alianças, competidores, plataformas, cadeias de valor, ciclo de vida de negócios e tudo o que mais for preciso para sobreviver.

Sobreviver, num espaço mutante como informática, é o nome do jogo. E neste jogo, em particular, só os paranóicos sobrevivem, como diz Andy Grove, da Intel. Tudo muda tanto e tão rápido que é preciso refletir, o tempo todo, sobre as ameaças, oportunidades, certezas, incertezas, fraquezas e fortalezas do negócio e do setor, sem o que qualquer empresa de informática é natimorta.

O C.E.S.A.R, para enfrentar tal desafio, teve que se tornar, aos poucos, uma empresa–escola: qualquer um ou qualquer grupo pode vir a ser, em futuro próximo, uma empresa independente, da qual o C.E.S.A.R será acionista, juntamente com os empreendedores.

Tivemos que formar, internamente, pois tal capacidade não estava disponível no país, um grupo capaz de lidar, de igual para igual, com potenciais investidores, como fundos de investimento e capitalistas de risco. Tivemos que criar um marketing especializado em oportunidades de formação de empresas de tecnologia, assim como um grupo de jornalistas especializados no tema.

Ao mesmo tempo, tivemos que absorver recém–formados saídos de um dos melhores centros de formação de capital humano da América Latina e transformá–los, rapidamente, em reais engenheiros de software e hardware e, muitas vezes, em homens de negócios, num processo necessário de perda de ingenuidade sem que para isso fossem comprometidos os valores e princípios que nos são tão caros como professores, alunos e seres humanos. [Webinsider]

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2 respostas

  1. gostei muito da materia e me interesei demais, gostaria de se o cesar oferece cursos a nivel tecnico ou mesmo superrior tecnico se o cesar oferecer cursos me mande um Email por favor, espero Email obrigado e parabens.

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