Orkut (ou como viver feliz no curral da web)

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Como sempre aconteceu com qualquer nova mídia, a internet tem sido, desde o início de sua popularização, vítima de acalorados ataques por parte de pessimistas de plantão, normalmente afeitos a formas anteriores de produção e disseminação de “cultura” e informações.

Do mesmo modo, há do outro lado o time de entusiastas do novo, sempre prontos para citar e exaltar as últimas pesquisas e lançamentos tecnológicos.

No entanto as novas tecnologias da informação e da comunicação, assim como as técnicas cada vez mais importantes em nosso dia–a–dia, não são o mal ou o bem em si – são criações do nosso tempo e só “existirão” a partir do nosso uso.

Principalmente se falamos de internet, um meio por natureza aberto, flexível e descentralizado, isto é, que permite e depende da participação de todos os pontos na composição de uma rede. Nas palavras de Manuel Castells , “não é a Internet que muda os comportamentos (…) os comportamentos se apropriam da Internet, amplificam–se e potencializam–se a partir do que são”.

Seguindo esta visão, é impossível não deixar de notar o fenômeno Orkut, principalmente entre os usuários brasileiros, que se orgulham de ser a maior comunidade nacional. Vale lembrar que, quando lançado, o Orkut nada mais era que uma ferramenta – sem nenhuma inovação técnica, por sinal.

Foi a apropriação que cada um de nós fez dela que gerou seu conteúdo, portanto o uso que a maioria faz dela apenas reflete que, on ou off–line, estamos (principalmente os brasileiros?) muito mais dispostos a discutir amenidades que temas políticos ou sociais, por exemplo. Até aí nada de mais, é sempre bom reencontrar amigos de colégio ou ter à mão o e–mail de “todas” as pessoas que conhecemos.

O que não se pode deixar de observar, no entanto, é que uma verdadeira geração de usuários de internet tem, cada vez mais, limitado seu acesso à WWW aos limites das páginas do Orkut. Esqueça seu universo de heavy user, seja você um blogueiro ou um desenvolvedor, e preste atenção no usuário comum, aquele que você quer atingir através de um banner num site especializado, para o qual você produz um texto exclusivo ou um novo software.

Pois é, este usuário participa de inúmeras comunidades, mas não sabe o que é blog, ou se sabe acha que não passa de coisa de adolescente (“é pior que o Orkut…”); escreve scraps para os amigos, mas jamais fez um comentário a partir de um link externo indicado por um blog; não faz idéia do que seja newsletter, spam, lista de discussão ou fórum e usa o Google mal e porcamente. Podcasting e RSS, como esperado, nem pensar. Enfim: está muito mais preocupado em tratar–se como um tamagotchi nas páginas do Orkut do que posicionar–se como um membro colaborativo da WWW.

Não se trata aqui de considerar o “Iorgute” (como é carinhosamente chamado pelos mais íntimos) como o bode expiatório da internet. Seu uso exagerado é um sintoma de uma questão maior: uma gama significativa de usuários reconhece a internet apenas como meio de comunicação pessoal, e não como fonte sistemática de busca e troca de informações e instrumento de trabalho.

As exceções, me arrisco a dizer, são apenas as pesquisas emergenciais no Google, quando as primeiras ocorrências são copiadas e coladas ao trabalho ou relatório, num misto de preguiça e inocência.

Lembro–me do manifesto publicado em 2000 pelo professor da UFBA André Lemos: Morte aos portais, por ele definido como uma “estrutura de informação (conteúdo) que nos tratam como bois digitais forçados a passar por suas cercas para serem aprisionados em seus calabouços interativos”.

Se hoje ninguém mais se preocupa com o cerceamento causado pelos portais, sugiro uma nova pergunta: não estaríamos atualmente dentro de uma cerca ainda mais limitadora do horizonte vasto da internet?

Esteja você preocupado como o lado consumidor ou cidadão do usuário, vale pensar nisso. [Webinsider]

……………………………………………


CASTELLS, Manuel. Internet e Sociedade em Rede. In: MORAES, Denis de (org.). Por uma outra comunicação – mídia, mundalização cultural e poder. Rio de Janeiro, Record, 2003.p. 255–288.

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Avatar de Carlos d'Andréa

<strong>Carlos Frederico d´Andréa</strong> (carlosdand@hotmail.com) é jornalista graduado pela UFMG. Desde 1999 trabalha com concepção e edição de sites nas área de cultura e turismo, além de colaborar com jornais, revistas e livros da área.

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9 respostas

  1. Concordo com você. Mas a febre do orkut no Brasil é só um reflexo do que a grande parte de nossa população está disposta a fazer: discutir e ler futilidades e exibir o corpo (vide a maioria dos perfis das meninas).

  2. Opa! Beleza Primo ?
    Infelizmente muita gente tem uma idéia fútil do que é realmente a Internet.
    Parabêns pelo artigo!
    Leonardo (Namorado de Juliana Marques)

  3. Oi, Luis,
    nao sei se entendi bem sua demanda, mas acho que os dados gerados pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (www.cgi.br) ou pelo Ibope NetRatings (www.ibope.com.br) podem ter ajudar a conhecer o perfil do usuário de internet no país. Abraço, Carlos

  4. Como é a primeira vez que eu entro neste site, vou arriscar um pedido!

    Estou fazendo pesquisa para fins escolares!
    Vim a procura de dados sobre os meios de popularização da internet e como pode afetar a vida de algumas pessoas desprovidas de informações!
    Li o artigo e gostaria de saber como fasso para conseguir dados de alguma pesquisa realizada por entidades que controlam tais dados para aprimorar meu estudo sobre o assunto, já que é para um trabalho escolar!
    Desde já grato
    Luis henrique

  5. Realmente,o orkut no Brasil tem sido uma verdadeira febre, e tambem está sendo muito mal utilizado pelos adolescentes na grande maioria.sem dúvidas o orkut é muio interessante e divertido,mas o que precisamos saber é que precisamos tomar muito cuidado pq até mesmo podemos ser uma vítima desses crimes que temos vistos à fora,por isso pessoal sejam no mínimo cautelosos qd estiverem navegando no mundo do orkut,éu diria não só no orkut,mas na internet em geral,qu precisa ser mt bem utilizada.

    obrigada.

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