Apesar de ter certeza absoluta de que vou morrer depois dos 95 anos, sempre leio por aí que é importante se preparar para essa hora. Além de fazer um testamento e diretivas de saúde em caso de incapacidade, é preciso também cuidar do destino da vida virtual.
Alguns dos meus amigos e conhecidos já têm falado nisso há tempos. O Inagaki escreveu sobre o que tem acontecido com os perfis e blogs de pessoas falecidas. O Markun jura que em alguns anos vão ser comuns velórios virtuais. Eu, particularmente, não consigo imaginar essa mistura de streaming com cerimônia fúnebre, mas se forem ao meu, por favor contem piadas! E a Simone já fez o inventário dela há muito tempo, e pediu uma página 404 rosa.
Eu só vi “de perto” três instâncias desse dilema. Uma vez googlei, de bobeira, um conhecido que já não via há tempos, e descobri que ele tinha falecido. Dei a notícia para o nosso amigo em comum – para quem ele tinha sido muito importante – e vi que os amigos dele fizeram uma página “memorial virtual”. Achei feio. Deu a impressão que algumas pessoas estavam competindo para ver quem escrevia o depoimento mais emocionante.
Minha prima, que se declara analfabeta digital, perdeu o marido e continuou usando o endereço de e-mail dele. O enteado reclamou, disse que toda vez que recebia uma mensagem dela achava que o pai tinha baixado no centro espírita. Ela finalmente mudou de e-mail uns três anos depois.
E uma amiga nossa perdeu o marido tragicamente – eram recém casados e ele morreu durante o sono. Ela usou o Orkut e MSN dele para alertar os amigos e prometeu a si mesma e à família dele não mexer em nada do perfil dele. Ela também aceita os testimonials de amigos saudosos e escreveu no próprio blog sobre a dor imensa de vê-lo ir assim de repente.
Por essas e outras eu quis pensar em um jeito de deixar bem claro o que eu quero ou não depois que eu cantar pra subir.
O método
- 1. Achar um amigo ou parente que esteja disposto a fazer o trabalho pesado depois que eu me for. Tem que ser alguém familiar com a web, claro. No meu caso, achei alguém delicada, acima de qualquer suspeita e que não é da minha família: a Stella.
- 2. Abrir uma conta de e-mail que não uso com frequência mas que ela conhece.
- 3. Deixar em meios físicos um envelope com a senha do e-mail, e instruções para que ele chegue às mãos da Stella.
- 4. Mandar para esse e-mail as senhas encriptadas através do Firefox Password Exporter. (Isso não é muito seguro, avalie os riscos no seu caso.) Repetir o envio periodicamente.
- 5. Decidir se mando para esse e-mail as senhas dos meus bancos. Pode ser que seja desnecessário, pois isso se resolve com a burocracia normal offline.
- 6. Decidir se mando para esse e-mail as diretivas de saúde – também posso deixar em meio físico.
As instruções
- E-mail: guardar por um tempo, depois salvar tudo e mandar pro fundo da gaveta num CD.
- E-mail do trabalho: avisar pro povo da empresa que meu gato subiu no telhado! Para quem trabalha em escritório essa é fácil, para quem trabalha à distância ou faz freela, not so much.
- Fotos: se possível, fechar comentários apenas. Se não, salvar as fotos (Picasaweb, Fotolog, Flickr) e apagar as contas.
- Twitter: deixar quieto.
- Blogs: fechar comentários no Maffalda. No Blogger, isso se faz indo no Dashboard->Settings->Comments->Hide.
- YouTube: fechar.
- Facebook, Orkut: nem pensar em deixar aberto! Salvar só os testimonials. Essas duas redes têm mecanismos para remoção de perfil pelos familiares: aqui e aqui.
Acho que as minhas maiores preocupações são não deixar muitas decisões a serem tomadas pelas pessoas queridas, e evitar que os amigos desperdicem nos testimonials e scraps da vida um sentimento que poderia ser melhor usado se direcionado à minha família.
Mas enquanto estou viva, cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz… [Webinsider]
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Texto original aqui.
23 respostas
Acho que talvez um cofre de senhas resolveria. Por exemplo Lastpass.
Há dois meses uma jovem q trabalhou comigo faleceu em um acidente de carro e nós aqui do trabalho acessamos seu orkut,as amigas dela ficaram mandando scraps como se ela estivesse viva achei morbido,então tb decidi deixar minhas senhas com algúem de confianã para deletar minhas contas….
muito legal
Parabéns pelo post. A familia da @ematoma fechou o twitter dela, achei um absurdo, garanto que a nossa companheira de hobby gostaria que esse ficasse aberto.. mas familia é assim né… Muito válido o seu post.
Eu adoorei muito a matéria, mas eu não penso em fechar nenhum site, orkut nem twitter e tals 😀
Minha amiga deve ficar tomando conta pra mim .. mas claro, vai ter alguma coisa escrita no nome, e no status pra nao ficarem mandando coisa achando qe eu to viva – SHAIUSAHISAUE
seria estranho ..
mas então é isso. Beijo ! ;*
Ps.:Julia, se for pra comentar, comente algo descente ! se não gostou fecha o site. leu porque quis .
isso e um orror como eu iri deixar meu nome talvez ate dasse pr um bandido e um orro
Temos que respeitar as opiniões, pontos de vistas (ou a vista de um ponto), idéias, pensamentos e o modo-jeito com que cada qual conduz a própria existência.
Agora, como formadores/as de opiniões e possuidores de instrumentos de influências, como é a Web, todos nós deveríamos tomar muito mais cuidado ao divulgar e espalhar pelo mundo virtual, idéias pré-concebidas, muitas vezes sem fundamentos, sem valor moral e sem conexão nenhuma com algo Maior nesta Vida.
Ora, se nós nos pré-ocupamos com a morte do corpo físico, e, principalmente, com o que deve ser feito com o que ficará depois de partir, demonstramos não compreendeu ainda, que tal atitude fará efeito justamente ao contrário. Dizendo aos que ficam o que fazer com o que deixarmos, isso nos manterá presos a este mundo, mais do que possamos imaginar.
Quando chegar o momento de partirmos desse plano de Vida, deveremos no ocupar somente com o que estaremos vivendo e experimentando naquele momento, nenhum outro mais.
Não podemos nos esquecer do Dê a César o que é de César; a Deus o que é de Deus!
O que é da Terra, que na Terra fique!
O que é da Alma, que preencha todo o nosso Ser!
– Minha única intenção é a de alertar amigos/as, para algo ao qual não deveríamos dar nenhuma importância.
Pois lá, não existe nenhuma.
Mas, nas fronteiras, há!
Tomemos cuidado, portanto!
Se você classificar as suas coisas pensando nelas como para mim e para os outros, fica muito mais fácil de saber o que fazer com elas nesta hora.
Os projetos pessoais que tenho apenas para emanar minha presença, digamos assim, devem acabar junto comigo. Coisas do tipo estou aqui, faço isto, sou feliz assim.
Já os projetos que faço pensando em gerar algo de útil para a vida de outras pessoas, procuro formatá-los para poder compartilhar com outra(s) pessoa(s), afim de que aquilo ganhe vida própria e possa existir sem mim. =)
teve um amigo de longa data, que há um tempo não falava com ele, descobrir através do seu perfil no orkut, que ele tinha morrido em um acidente de carro, a vida virtual tá aí presente em nossas vidas, já faz parte, até da morte!@
Muito bom! Parabéns… Nunca tinha pensado nisto. Vc me alertou. Vou providenciar o meu webestamento!
bj
Sandra Braconnot
Maffalda, muito legal o assunto. Confesso que fiquei surpreso com o seu teor e isso despertou o interesse de ler até o fim, inclusive todos os comentários. Nunca tinha parado para pensar nesse assunto. Parabéns, inclusive pelas respostas respeitosas até para quem não merece teu respeito. Algumas pessoas deveriam usar a web para disseminar coisas boas, como a tua matéria, e não como divâ. Abs. Gera.
Interessante a reportagem, já tinha pensado no assunto. Talvez siga a idéia aplicada, mas achar alguém de confiança ao ponto de passar as senhas do banco, pode ser um problema a longo prazo.
Empreendedor, upload é um ótimo eufemismo! Advogados fazem isso na vida offline, talvez precisem mesmo criar um serviço online. Uma aplicação web?
Jaum, sei que não é seguro, por isso mesmo coloquei o alerta para cada um achar as próprias soluções. Acho que é importante levantar a discussão.
Marcelo Sales, também vou dar trabalho com minha vida digital, mas acho que seria mais trabalho ainda ter que adivinhar meus desejos e minha senha!
Samuel Arendt, já vi que seu legado será em trocadilhos!
Miriam, eu acho muito incômodo a questão dos perfis e ouvi várias pessoas dizerem que detestam ser lembradas, via orkut, do aniversário de alguém falecido. Minha amiga escreveu in memoriam ao lado do nome do marido. O Facebook permite que a família deixe um perfil memorial, só com nome, informação, wall posts/scrapbook e fotos, removendo as atualizações de status e os grupos/comunidades.
Irado, é um jeito de pensar, né? Tenho a impressão de que se não cuidar dessa parte virtual vai ser como se meus restos mortais estivessem na sala de jantar, estorvando minha família.
Larissa, ouvi falar de pessoas que deixam recados ofensivos em orkut de gente morta. Acho que isso prejudica, e muito, os familiares.
Annita e André, obrigada!
Julia, prometo ficar quieta depois do upload! Mas ainda faltam uns 63 anos…
Hum… tai uma boa oportunidade para criar um serviço… Cuidaremos da sua vida digital após o seu upload…
Esse artigo foi inutil, estupido e de total falta de conhecimento tecnico sobre segurança.
Não sou tão radical como o IRADO aí de cima… rs
Mas também sou da opinião de que morreu, morreu e acabou… finish him, zéfini, etc… etc…
Doem o que der pra doar, queimem o resto e joguem em uma vala ou qualquer cantinho onde não atrapalhe ninguém… não quero velórios, muito menos flores em meu caixão (se alguém me colocar em um, faço questão de voltar e acordar no meio do velório)…
Porém, eu sou eu e posso ficar em qualquer canto depois q morrer, q tanto faz, mas vou deixar família, amigos e contas pra pagar… ou seja, nada mais justo do que prever essa situação e garantir o mínimo de dor de cabeça para os que sobram. Incluindo aí, instruções para a admininstração da vida digital, mas já aviso desde já… a pessoa terá trabalho com minha vida digital, heim! 😉
[ ]´s
Marcelo Sales
depois que eu morrer, email, msn, perfil, youtube, nada mais irá importar… se quiserem poderão exportar…
em html, pdf, xml, flv…
Pois eu mando esporadicamente um email a minha amiga com todos os sites onde estou inscrita para que me delete digitalmente se eu não puder fazê-lo. Tenho no plaxo um amigo falecido e confesso que me incomoda demais receber avisos de que eu preciso atualizar suas informações.
Eu poderia sim, somente retirar seu nome da minha lista, mas isso é como dizer que não quero mais saber dele.
Eu quero poder manter seu nome e um aviso da data de seu falecimento, só não quero que pareça que está vivo ainda.
A verdade é que este assunto ainda vai ter que ser muito discutido para que não sobrem rastros digitais de quem não quer ser virtualmente imortalizado.
bem.. como o tudo mais, penso assim, a respeito: dane-se. Uma vez que já fui, tudo o mais já era, não tenho nada a ver. Que joguem o que sobrou de mim, em saco plástico, em algum lixão, minhas preocupações serão bem outras – se é que haverá alguma – risos
Nunca tinha pensado nisso … fiquei assim, com a pulaga atrás da orelha… Acho que iria deixar a minha vida online viva ainda, porque um usuário inativo não é nada com o tempo. Mas a questão é as marcas que vc deixa online iriam prejudicar de alguma forma os seus familiares? Ai sim é necessário uma forma de prevenir isso. Gostei muito do post. Parabéns.
Nossa, juro que estive pensando nisso esses dias!
Obrigada por me esclarecer dúvidas muito pertubadoras! rs
Adorei!
Ótimo artigo. Excêntrico assunto. O futuro está aí.
Mas que matéria de mal gosto, não???????? Não tinha nada de mais interessante pra escrever, ficasse quieta!