O fim do telefone fixo

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A segunda melhor coisa que fiz na vida foi abandonar o telefone fixo, há cerca de cinco anos. A primeira foi me livrar de vez da televisão em casa, bem antes.

Jogar o aparelho de telefone pela janela foi um ato que me livrou não exatamente da operadora, mas da pilantragem que todas as telefônicas fazem com milhões de pessoas no país: repassar números antigos como se fossem novos.

Não existe monge budista que mantenha a serenidade quando, às 7h da manhã de um sábado, alguém liga perguntando se é do consultório do Dr. Fulano. Seguidas vezes. Todos os sábados. E não acredita que nunca houve um Dr. Fulano com este número.

O problema é que houve um Dr. Fulano.

E além de consultório médico, também foi o número de umas três famílias diferentes, uma veterinária e um centro comercial. Eu tinha aquela linha há quinze anos e tudo corria bem, até que resolvi me mudar para umas cinco quadras adiante e a operadora trocou meu número. Garantiram nunca ter sido usado.

É claro que fora uma mentira, como tantas outras que a gente escuta todos os dias do atendimento ao consumidor. Mas como você vai provar? Gravando as ligações erradas? Qualquer pessoa pode digitar o número errado, sem querer. Mesmo que seja 300 vezes na mesma semana.

E quando você vê uma pessoa segurando um cartão de visita, com o nome do Dr. Fulano e o seu telefone? Seu ou dele? Sobram duas opções: ou você entra numa briga judicial com a operadora sabendo que vai perder a causa e ganhar dois centímetros extras de calvície; ou joga o aparelho pela janela e adeus telefone fixo.

Optei pela segunda opção e não me arrependo.

Meses atrás, me mudei de cidade. Mais uma vez. Fui muito bem tratado pela operadora (óbvio, sangue novo na praça…) mas, mesmo assim, me obrigaram a contratar um plano de telefonia fixa para voz (que eu nunca usei até hoje e nem vou usar) para poder usar a internet ADSL.

Todo mês, são R$ 55 jogados na cesta do lixo. Ou melhor, na cesta de lucros sem contrapartidas. Tive apenas duas semanas até alguém me acordar às 7h da manhã: mas esse número não é da dona fulaninha?

Não esperei sequer a segunda ligação, peguei a tesoura e cortei o fio da parede na mesma hora. Desta vez me arrependi depois, confesso, porque esqueci que um dos fios era da internet. Por sorte, a fiação é barata, comprei outro fio na esquina e agora ele está ali, desplugado, não toca nunca mais. Adeus.

A  mim e a tantos outros, o telefone fixo não faz falta. Mas somos exceções. Faz falta para milhares de profissionais liberais que precisam contratar novos planos de telefonia fixa.

Ainda lembro do dia quando entrei na loja de informática para comprar aquele aparelho da Siemens, sem fio, 900MHz, bina embutido, agenda e outras funções bacanas. Custou uma nota preta, afinal, era necessário. Na época.

Pagando pelos outros

No Brasil, boa parte da Classe A e B usa cada vez menos o telefone fixo. A parcela aumenta nos grupos de profissionais que passam várias horas ao dia (quando não, o dia inteiro) conectado. É só celular e internet.

Nos Estados Unidos, ocorre um fenômeno similar, porém pelos motivos opostos. As classes C e D estão abandonando o telefone fixo para cortar custos, não pela comodidade ou falta de necessidade do serviço.

Um em cada quatro domicílios americanos já abandonou o telefone fixo, segundo um relato recente publicado pela The Economist. A revista calcula para o ano de 2025 o tempo de vida da última linha de telefone fixo.

Se você perguntar a um executivo do setor, ele dirá que o reflexo dessa situação é muito mais econômico do que cultural. Porque trata-se de um prejuízo certo para as operadoras, as quais até agora não mostraram ao mercado um plano a longo prazo de compensação financeira das perdas.

Acontece que as perdas só existem no discurso para o mercado, não na prática. As operadoras não trabalham no mesmo ritmo da indústria fonográfica, por exemplo, que está sempre dois passos atrás. Nos EUA, a exemplo de outros países desenvolvidos, simplesmente não há sentido ter um plano de banda larga e um telefone fixo, porque a qualidade da ligação via internet é igual.

Há muitos anos, você usa o seu aparelho de telefone fixo mas está usando, na verdade, é VoIP sem saber. Principalmente nas ligações internacionais, as interconexões entre operadoras e domicílios é feita quase que 100% usando tecnologia digital a custo zero. E você continua pagando por ?pulso telefônico excedente? e planos de minutos, quando na ponta do lápis o custo é zero para 100 ou 1000 minutos de uma pessoa fofocando ao telefone.

A deslealdade com o consumidor é a mesma com que faz tantos números fantasmas serem repassados para clientes novos. Não é ilegal. É uma oportunidade aberta e escancarada pela simples falta de controle e regulação.

O resto é linha cruzada para boi dormir. [Webinsider]

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Paulo Rebêlo é jornalista, escritor e consultor em política, tecnologia e estratégias corporativas. Diretor da Paradox Zero e da Editora Paradoxum.

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11 respostas

  1. Pingback: O fim do telefone fixo… e dos números fantasmas ‹ REBELOX
  2. Por aqui uma cidade pequena (18000hab) já joguei meu oi fixo(r$40,00/mês) no lixo e pago um provedor local banda larga(R$49,90) via rádio. Tá certo que gastei um pouco com o rádio e antena+instalação e suporte (R$300,00),isso já faz uns 2anos, mas compensa pois com um Hub conecto os 4 computadores com uma velocidade razoavel. Faço minhas ligações via Skype a nível Brasil e Global e afirmo, já economizei muiiiiiitooo comparado com o que eu gastava no fixo. A desvantagem é só quando a embratel da alguma mancada nos cabos de fibra ótica , mas isso é esporádico. Ainda por cima o provedor daqui não tem concorrentes. Isso mesmo pessoal, a melhor maneira de combater esses safados é se não precisar …NÃO COMPRE.

  3. Incrivel, mas tambem ja me livrei do fixo ha algum tempo, mas vejo que nao tenho saida melhor que voltar a ter um Oi Fixo para ter banda larga em casa, afinal aqui nao tem 3G, nem internet via cabo, apesar de ter TVA que e da Telefonica de SP, e nao tem nem previsao. Isto eh negocio muito fechado, a Anatel deveria liberar a exploracao dos servicos em todas as cidades para aumentar a concorrencia e possivelmente a lei da oferta e procura daria conta do resto, de baixar precos, melhorar servicos, etc.
    Porem descobri que existem planos de internet sem ter que ter um telefone fixo(vejam no site da OI por exemplo ou da GVT), porem o preco e tipo 4x mais ou mais caro, que ter o fixo + adsl, o que isto significa, que estao forcando novamente goela abaixo, ou seja, vai ter que levar o fixo se quiser internet. Se optar por um plano de internet 3G via celular, voce vai pagar o mesmo que ter um fone fixo + adsl, ou seja, ai e mais questao de opcao e mobilidade, pois os precos sao praticamente combinados de tal forma entre todas as operadoras que o simples e mortal consumidor nao tem vez….ate que um dia haja um protesto/revolta tecnologica e mandemos tudo isto para o inf,,no.
    Conselho: nao cortei fios de telefone fixo(para nao ouvir tocar) apenas tire da tomada. E nao jogue aparelhos pela janela voce pode ferir alguem. E um dia este alguem poderia ser voce na rua com sua familia e filhos e ja pensou…

  4. Paulo, uma outra opção que vc pode ter, em se livrar desse custo fixo de telefonia fixa, é aderir ao OI VELOX 3G, pois ñ precisa ter um Oi Fixo para contratar o serviço.

  5. E o mais irritante é quando você vai fazer algum cadastro, seja numa loja ou num site, e eles insistem em te cobrar um telefone fixo!

  6. Paulo, adorei seu texto pq me identifiquei com ele. Tb já passei por isso. O triste é saber q a gente tem q continuar a se sujeitar às políticas das empresas de telefonia fixa pra poder navegar na rede. Só não vou contar nenhum causo dos quais já passei pq a tentação de quebrar o telefone é grande.

  7. Paulo, morei na Europa entre 2003 e 2005 e já me chamava a atenção, só pessoas jurídicas tinham telefone fixo, claro, uma tendência que ia chegar aqui, como está chegando. Essa história do VoIP é triste, eu falo, passo adiante mas as pessoas não compram. Em Minas, optei por internet por uma operadora de tv a cabo, a única que não me forçava um pacote goela abaixo ou um telefone fixo como obrigação para se conectar (outro lance que eu via na europa, era ligar browser e navegar, aqui eu tinha que conectar pelo site da operadora, sei…). Acabei de ver o link abaixo da Máfia do Velox…pois bem, era a Velox que empurrava essa picaretagem. Aqui em Minas a Velox é Oi, que por sinal comprou a operadora de cabo Way que eu tenho conta, mas felizmente nada mudou. Tenho dúvidas se é possível fazer algum plano na Oi ou Velox com a tranquilidade que a Way me dava…ainda bem que também o sistema não dá problema, os usúários da rede Velox sempre tão reclamando…mas a minha é cabeamento Way, tô salvo, por hora…

  8. Poxa a linha cruzada não pode acabar os pais da minha melhor amiga se conheceram assim…. o pior é que é verdade.

    Piadas a parte, desde que me irmão contratou os serviços da vivo, ele recebe ligações praticamente diárias do Banco Real procuando um tal de André. Ele sempre fala que não conhece nenhum André e mesmo assim o banco continua ligando.

    Ou seja, o telefone fixo pode acabar, mas o desrespeito ao consumidor (em todos os setores) infelizmente vai permanecer.

  9. Mas o fenômeno dos números usados também ocorre descaradamente na telefonia móvel/celular!

    E eu que achei ter dado sorte em pegar um número fácil de decorar. Mal sabia que pelo menos outros 20 ex-clientes da operadora tinham pensado igual a mim, só que muito antes…

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