O oráculo digital pelo menos três vezes ao dia

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E essa ansiedade em verificar e-mails? Ela aparece três vezes ao dia. De manhã, depois do almoço e à noite, quando chego em casa. É uma ansiedade de viver ao contrário.

É um desejo estranho de que não tenha nenhuma novidade ou que tenha um e-mail bem bonito dizendo que eu recebi um aumento, ou Israel parou de brigar. Ou uma editora querendo publicar um livro meu e como adiantamento resolveu depositar meio milhão na minha conta, sei lá.

Essa ansiedade existe porque são os e-mails que dizem como eu vou passar as próximas horas. E que coisa triste. Será que se eu receber algum “Fernando Luz, favor pular da ponte. Urgente.” eu saio correndo pra me matar? Dependendo do dia, claro que não.

Mas provavelmente eu gaste um tempo pensando no motivo daquele e-mail. E acabe fazendo um texto sobre “o e-mail mais louco que recebi na vida”.

Na verdade, até o ‘não receber e-mail’ diz implicitamente que estou liberado para ler e ser feliz.

Antigamente, para saber como seriam os próximos instantes de vida, uma pessoa ia a cartomante ou cigana. Hoje, o oráculo do século 21 é o Outlook. É verdade que ele só adivinha como vai ser seu futuro breve – ou no curto prazo, como diria um publicitário chato. Mas, ainda assim, saber um pouco sobre o futuro é melhor que nada.

E se os e-mails fossem escritos numa língua meio mística? E se só pessoas “escolhidas” pudessem ler e-mails? Seriam os cartomantes da revolução tecnológica. Quando alguém lhe perguntasse: – Senhor, qual é sua profissão? Ele responderia com o peito estufado e olhar de falsa-humildade: – Leitor de e-mails. Pronto. Fariam uma rodinha em torno dele, já abrindo seus notebooks, smartphones e afins, com o coração saindo pela boca e gritando em uníssono: – Graças a Deus o senhor está aqui. Pelo amor de tudo que é mais sagrado, me diga: o que eu devo fazer nas próximas horas?

Seria assim se e-mail não fosse escrito em português e qualquer brasileiro que terminou o primário saiba (ao menos em tese) ler em português. Ia ser muito mais legal, é verdade. Mas muito menos prático. E isso não mudaria essa ansiedade em verificar e-mails.

Não sei se o errado é a gente, que vive preso numa falsa liberdade, tendo que obedecer um oráculo digital. Ou se o errado é o e-mail não ser escrito numa linguagem mais espiritual, pra pelo menos ter todo aquele misticismo em torno de quem lê. Também não sei se essa ansiedade para ler o e-mail é normal ou não.

Queria colocar aqui uma conclusão mais reflexiva do tipo, “até os relacionamentos profissionais estão mais banais graças à revolução digital”, ou “só mudou o meio, a forma basicamente continua a‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’”, mas agora não vai dar. Preciso conferir minha caixa de entrada. [Webinsider]

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Avatar de Fernando Luz

Fernando Luz é redator publicitário, escreve no blog Fernandoluz.com e no Twitter @fernandoluz.

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8 respostas

  1. Eu pensava assim e só via email uma vez por dia, até que perdi uma oportunidade de estágio por causa disso.

    A pessoa me mandou email 13h e queria CV’s até as 17h. Eu que via emails todos os dias as 10h em ponto (entre uma aula e outra), perdi.

    Entrei em contato perguntando o porque do prazo tão curto e ela me respondeu “hoje em dia os profissionais precisam estar conectados 24h”.

    De lá pra cá a minha ansiedade em ver emails aumentou bastante. Recentemente adquiri internet via celular e tem um link direto para a minha caixa de email logo na tela principal. E é claro que eu clico nela de hora em hora. E esse habito se mostrou fundamental pois tem gente que me manda email e 20 min depois manda outro perguntando o pq eu não respondi o primeiro. Reuniões canceladas 2 ou 3 horas antes com aviso por email e por ai vai….

    Sinto que isso é um ciclo vicioso, se eu não confiro email de hora em hora perco oportunidades, se eu confiro, as pessoas percebem q to sempre online e exigem esse comportamente como padrão. E pior, acham que por estar online eu não estou fazendo nada de útil.

  2. Nossa, impressionante o seu texto.
    Quantas vezes não me peguei expulsando pessoas do computador pra que pudesse ver meus email´s que quase sempre não continham algo que mudaria o rumo da minha vida ou deixaria meu dia mais alegre.
    Pelo que me parece o email tem servido como um refúgio para algumas pessoas que esperam que ele seja uma caixa de surpresas que determinaram u qoe temos que fazer daqui dois minutos.

  3. Infelizmente me vejo, a todo tempo, consultando o “oráculo digital”… seja no Outlook, seja no BlackBerry… e me questiono: até que ponto o faço consciente, ou será inconscientemente?
    E de pensar que há menos de 10 anos não havia nada disso… nem pensava nisso…
    Parabéns pelo texto. Certamente refletirei nele por muito, muito tempo.
    Acho até que vou mandá-lo para alguns conhecidos… POR E-MAIL, CLARO!!!

  4. É uma pena… Mais tudo isso ainda vai ficar pior, não precisa ficar com medo, nem se assustar ou achar que isso é uma escravidão.
    É simplesmente a mutação da espécie humana e seus inventos tecnológicos.
    Um dia desses conversava com uma fonoaudiologa e ela traçava uma escala da loucura que o tempo estar causando no ser humano. Veja só, se você tem até 40 ou 60 anos e sempre morou em um centro urbano quando falta energia eletrica vc acha tudo estranho, se você tem até 30 ou 40 tudo te parece normal e menos que isso você nem se incomoda é como se você fizesse parte do sistema, o aborrecimento vem pela falta de energia pois atrapalhou suas operações: e-mail, tv, som, games… Percebam que as crianças que nascem agora parecem mais espertas, mais inteligentes na verdade elas estão sendo geradas na adptação da tecnologia. Se afaste da cidade alguns kilometros e na reaproximação tente perceber o barulho, vc vai ver que nem percebe ele quando estar no meio dele. Isso tudo tem causado muitas neuras nas pessoas. A tecnologia estar se tornando quase igual o alimento. Passe um dia longe de tudo, o dia vai parecer maior, muito maior, você vai sentir fome de tecnologia ou vai achar muito bom a distancia ou seja a troca de comida mental.

  5. Paz e Bem, Comunidade.

    Nossos assuntos ‘preferidos’ são tantos

    Nossos ‘contatos’ são muitos

    Somente com ‘n’ e-mails para tudo guardar

    naquele monte de ‘bytes’ onde ‘com certeza’

    nos estressaremos ao procurar algo que julgamos ‘estar lá’.

    É isso!

  6. Acho que ainda é sortudo… 3 vezes ao dia, só?
    Tenho umas quatro contas de e-mail, que começaram para separar assuntos. Hoje, todas tem sua carga de assinaturas e newsletter. Uma manhã longe do computador e me perco naquilo.

    O e-mail tem também outra função mística: resolver todos os problemas. Não ligaria para alguns lugares, para outro veria bem a hora de ligar.. Mas e-mail não, sempre é a solução mais fácil: manda um e-mail para tentar aquele trabalho, quem sabe? Reclama daquela empresa, manda e-mail para o SAC, etc… Será que isso também é uma versão do “traga a pessoa amada em 7 dias?”
    Abraço

  7. Lembro com se fosse hoje, trabalhava em um departamento de O&M de um banco e a maioria das comunicações eram todas datilografadas em CI, abreviação para Comunicação Interna. Não muito distante desta saudosa época, escreviamos cartas a mão para alguém distante. Nossas fontes de informações eram os jornais, revista, telejornais e rádio. Celular? Lembro de ter visto uma vez na serie Dallas.
    Concordo plenamente ao dizer que ficamos escravos do email e acrescentaria que com o avanço tecnológico, somos escravos da tecnologia como um todo. Vocês já se viram dentro de casa por algumas horas sem energia elétrica? Faça o teste e perceberão o quão dependentes nós estamos da tecnologia. Dia desses me aconteceu isto e entrei em pânico, não conseguia ligar nem o fogo do fogão. Tomar banho frio, meu Deus, que desespero!
    Essa mensagem por exemplo, foi escrita em um celular, em tempo real. Imaginem escrevê-la por carta? Quem receberia?
    Para finalizar, a tecnologia e os meios de comunicação mudaram muito de uns tempos para cá, em muitos casos para nos auxiliar, mas em sua maior parte para nos aprisionar.

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