Não é fácil, são 20 anos de Windows. Sobretudo porque não é apenas um sistema operacional, é todo um ecossistema com direito a Office, tela azul da morte (BSOD), conflitos de hardware, DLL’s corrompidas, falhas de proteção geral, discos rigídos fragmentados, partições invisíveis, centenas ou milhares de testes de aplicativos em versões beta, horas e horas explorando códigos e registros escondidos, mistérios quase sobrenaturais e muita reza braba com água benta.
Enfim, muitas dores de cabeça e, justiça seja feita, muitas alegrias também.
Então, quando me perguntam como é abandonar todo esse histórico e migrar para a plataforma Mac, tenho duas respostas.
A primeira, para leigos em informática: é como o fim de um casamento.
Você conhece cada linha, cada curva do Windows, entende as artimanhas e contorna os problemas com maestria.
Mas a baranga do Windows não envelheceu bem, hoje é um monstro de gordura inútil e que ninguém sabe ao certo onde vai parar. Com o Mac, você praticamente troca sua esposa por uma ninfeta de olhos brilhantes, uma maçã ligeiramente mordida, quase um Michel Temer.
E aí vem a segunda resposta, para os entendidos em informática: deixar de lado o PC, para mim, significou ter mais tempo para produzir e menos tempo para ter dor de cabeça.
Claro, com o Mac a gente não tem mais a alegria da descoberta, a pressa de instalar a última versão de tudo, a sede por novidades em programas que vão fazer exatamente a mesma coisa de antes. Não tem mais registro para fuçar, códigos escondidos. Você apenas aproveita como pode. Ou melhor, como Steve Jobs permite.
É como dirigir um carro automático. Ele nunca vai ter o arranque e o motor nervoso de um equivalente com transmissão manual, não vai dar para esticar a terceira marcha numa ultrapassagem radical, mas em contrapartida vai lhe dar um conforto e uma maciez ao dirigir a qual, certamente, você irá se acostumar a ponto de não querer mais dirigir o carro de ninguém.
Você se torna um motorista mais maduro ou, nas definições de alguns amigos, assume de vez seu lado tiozinho pançudo.
Há experiências distintas para diferentes perfis de usuário, porém, via de regra, a transferência para Mac implica em redução considerável das horas que você “perde” brigando com o computador. As coisas estão ali, funcionam do jeito que Steve Jobs quer e ninguém mexe. Ou você gosta (e aceita) ou vai procurar sua (outra) turma.
No caso de um usuário leigo, são horas que as pessoas perdem tentando instalar programas (no Windows, a quantidade de janelas e perguntas é consideravelmente maior) ou solucionar mensagens enigmáticas que pipocam na tela. Eventualmente, quebrando a cabeça quando algo não funciona como deveria funcionar.
Sem contar a preocupação, inerente ao Windows, com vírus de computador e spywares que aparecem do nada.
Todo mundo vive lhe dizendo para instalar um antivírus, mas se você não sabe como instalar, não tem ideia onde procurar, bem-vindo ao imenso grupo de pessoas que conheço que espetam pendrives em lanhouses no aeroporto e vivem perigosamente.
Para o micreiro, como sou (ou fui), a economia de tempo é ainda mais simples de explicar. Não há milhões de programinhas e utilitários para conhecer, testar, analisar. Não tem mais benchmark de performance, não dá mais para hackear o registro do Windows e ganhar 0,5% de performance, mexer na latência da memória RAM para ganhar outros 0,5%, hackear DLL’s e componentes do Windows para atingir, somando tudo, incríveis 5% de performance extra.
Ainda sinto falta do Windows. Com o Windows 7, o sistema tornou-se uma monstruosidade de recursos e funções as quais, embora ninguém as use, são interessantes de conhecer por dentro e entender os detalhes.
Tentei fazer o mesmo com o Mac. Já formatei o Macbook umas oito vezes, testei inúmeras combinações, conexões, versões beta do MacOS, até arrisquei voltar a mexer com código no Terminal, mas no fim das contas… continou tudo igual, sem perder ou ganhar velocidade, funcionando do mesmo jeito de antes.
Depois de 20 anos destrinchando cada detalhe desde o DOS (quando ninguém sequer sonhava com janelas e cores), programando em Basic e xBase, cada curva, cada ícone e sistemas de arquivos, a sensação é um pouco de inépcia e preguiça quando abro o Mac e não sinto a menor necessidade de abrir outras portas para o desconhecido.
Hoje, passados seis meses da migração total do PC para Mac, uso bem menos o computador, dependo menos dele. O laptop deixou de ser um companheiro de aventuras e perrengues para tornar-se, apenas, um mero acessório de trabalho, utilizado apenas quando necessário e somente pela quantidade de horas exatamente demandadas.
Abro o Macbook para fazer exatamente uma tarefa específica no menor tempo possível. Terminada a tarefa, fecho a tampa e chego mais cedo no bar. Ganhei em produtividade etílica.
O MacOS X, sistema operacional do Apple, tem muito a ser descoberto ainda, hackeado, alterado. Milhares de desenvolvedores e hackers usam o Mac para suas estripulias. As funções e recursos estão lá, caso você deseje. Mas, para micreiros do PC, perde-se um pouco o interesse.
Não entro, agora, no mérito das práticas comerciais da Apple. Por um motivo simples. Depois de 20 anos de Bill Gates e Microsoft, seria uma hipocrisia condenar as práticas até do capeta.
Paulo Rebêlo
Paulo Rebêlo é diretor da Paradox Zero e editor na Editora Paradoxum. Consultor em tecnologia, estratégias digitais, gestão e políticas públicas.
27 respostas
Primeiramente ótimo texto.
Tenho um Imac de 21 polegadas, com 8gb.
Sou deficiente visual, e o que posso dizer:
Acessibilidade no PC, não existe;
No Mac é nativa;
Quando o Windows dá um problema, a primeira coisa é parar de falar!;
Quanto ao preço é caro, mas ter tudo legalizado no Windows também é;
Existem sim muitos aplicativos, mas nem todo mundo conhece.
Tenho 43 anos, e realmente, gosto da ideia de mais tempo no boteco.
Quanto à produção musical, prefiro nem comentar, pois quem é do ramo sabe qual máquina escolher!
Sou usuário de PC, mas já utilizei MAC. É uma ferramenta muito boa, o SO não dá problemas e roda suave como afirma Paulo. O grande problema é que é muito caro para o padrão brasileiro. Com R$6000 que se gasta em um bom MAC você compra 2 PCs super rápidos com diversos periféricos.
Outra coisa que me incomoda é seu pacote fechado, tudo determinado como “Steve Jobs quer”. O Windows também é um sistema fechado, mas como o mundo todo usa possui uma gama maior de softwares e serviços.
Mas no dia que um MAC chegar em um valor mais justo, com certeza terei um, mas não me livrarei do PC, pelo menos não deixarei o windows, ficarei com minha velha patroa por mais dores de cabeça que ela dê e serei amante da jovem de 20 aninhos.
Rapaz, acabei me encontrando no seu texto. Que legal! Achei que eu tinha perdido o interesse pelos meandros da informatica, mas voce tem razao. Esse Mac deixa a gente mal acostumado.
Abraços
Gostei muito deste artigo por três razões:
Primeiro que é muito engraçado, sobretudo, para quem passou pelo mesmo cenário. Segundo que é bom ver (ler) o Português bem escrito e, terceiro, porque sempre tive dificuldade ao enumerar, para as pessoas que me perguntam, as diversas razões que me levaram a me divorciar do PC há 12 anos. Agora basta enviar o link deste artigo. 🙂
Parabéns!
Mac é para garotas. #prontofalei
Só não entendi a parte:
“Não há milhões de programinhas e utilitários para conhecer, testar, analisar.”
Isso é bom ou ruim, para mim ter um monte de opções conseguir fazer o que eu quero como eu quero é muito bom, e indispensável.
Não creio que as “tarefas” precisem sofrer alterações para se adaptar a um software, quem deve se adaptar é o software.
Digo, existem distribuições para todos os gostos. Dá para manter também dois sistemas na mesma máquina.
Para quem tem saudades das mexidas no sistema o Linux é ótimo. Cada dia uma nova distribuição. Basta baixar e gravar num CD ou DVD e instalar. Pode-se usar live CD, mantendo o sistema que estiver no computador. O Ubuntu tem uma nova versão a cada 6 meses, com direito a dados na nuvem. E existem distribuição para todos os gostos. Sem vírus. Um Mac genérico grátis e fuçável!
Tiozinho pançudo? Ri muito…
Meu primeiro computador foi um PC que na época era considerado de excelente desempenho. Ele me ajudou muito mas também me deu muitos problemas com vírus, janelas e mais janelas de instalação de programas que por mais que você acredite saber se escolheu a opção correta, sempre fica na dúvida se vai ou não funcionar depois.
Meu segundo computadaor (estou com ele a exatamente 7 anos) é um mac bacana pra cacete! Hahaha. Tive que aprender a usar por causa do trabalho e sinceramente, foi a melhor troca que fiz. Nunca tive problemas com vírus, a instalação de tudo é rápida e simples. Até pra excluir arquivos é simples. Facilita a vida e concordo quando você diz que o tempo de trabalho diminui.
Não fique melancólico, já já você esquece até as teclas de acento do PC…porque vai ter que se acostumar com as do MAC. 😛
Abraço!
🙂 Seja bem vindo…
talvez eu devesse retribuir as piadinhas que ouvi 🙂
mas estou tão feliz em ver a rendição que já esqueci.
brindemos à…
:)”produtividade etílica” e à “sabedoria” de Temer…
Uma amiga minha, Doutora em Informática, professora da PUCRS define assim a questão:
“isto é uma máquina (aponta para um PC). Isto é um computador (aponta para um MAC)”.
Melhor texto que li sobre o assunto! Estou vivendo isso na pele no momento!!! Me atrapalho ate nas acentua;oes… teclado com teclas de E.V.A.! Rssss. muito bom mesmo!
Eu até hoje não vi problema nenhum, alias acho que foi a melhor coisa que fiz nos ultimos tempos. Migrar o meu bom e velho notebook para um MacBook Pro. Tenho nele os 3 SO’s o bom e velho Windows, Linux e MAC. Rodo todos eles sem problemas, com boot ou virtualizado e ainda sobra processador pra fazer umas coisinhas extras. Espero em breve estar trocando o Desktop por um MAC também, só ainda não decidi qual.
Caro Paulo,
Realmente gostei de seu depoimento sobre a troca de uma velha que não envelheceu bem para uma quase donzela de olhos brilhantes.
Palavra de usuário de Windows com conhecimento zero em Mac e um cunhado mega-viciado na Maçã, que nunca deixa de laurear seus benefícios.
Será que é o que me falta pra assumir meu lado de tiozinho pançudo, com 30 anos de idade e gosto musical por “música de velho” como diz um primo-irmão
Bem, confesso que não quero assumir barriga nenhuma por ora, mas acho que a idéia de namorar mais de perto e menos platonicamente a vizinha curvilínea, que dizem ser um doce, chamada Apple pode ser algo guadual para mim em futuro próximo.
Continuarei ligado aguardando mais novas de sua nova união. Sem a bisbilhotice do relacionamento alheio; mais algo do tipo janela indiscreta legalizada pelo dono da casa.
Abraço, belo texto e boa sorte com a mocinha.
Espero que continue bela e gentil também!
Olá, muito interessante o artigo, também migrei recentemente do Windows, mas para o Ubuntu. Já usava como SO secundário mas agora migrei como SO principal e estou gostando muito.
Também usei muito Windows e dou todos os créditos à MS pelo WindowsXP, que me durou desde Fevereiro/2007 até Dezembro passado e rodando super bem.
Faltou comentar que a vida com a nova “Amante” ficará muito mais cara…. Qualquer programinha é um luxo e não existe nada que seja open ou free, vai ter que pagar tudo meu bem! Se pensa que vai andar cum uma super gata exclusiva, lembre-se que a arquiterura atual do Mac já anda de igual para igual com qualquer baranga por ai!
Meu tempo gasto para resolver problemas que poderiam ser atribuídos ao trato com o PC deve ser coisa de 15 minutos por ano. Um Mac com o mesmo poder de processamento custa coisa de 3000 a mais. Não é uma escolha difícil. Acho que nessa seita, o computador é secundário, o status, fazer parte de um grupo “seleto” é o que deve atrair a maioria dos usuários.
Namoro a idéia de tornar-me adepto da seita de São Jobs faz tempo. Uma questão, porém, me preocupa:
A grande maioria dos softwares que uso (e de que dependo) no trabalho não têm versão para Mac. Tudo bem: posso emular o Windows no Mac, mas que sentido teria isso?
Ah, sim, parabéns pelo artigo. Gostoso de ler.
Meus Deus! Toda essa sua experiência me fez ter um Déjà vu.
Vivi exatamente a mesma coisa que você. Chegava ser fã do Windows, com toda essa coisa de mexer e mudar e instalar vários softwares (benchmark foi ótimo) e versões beta e se sentir o “avançado” tecnologicamente. Adorava saber corrigir e melhorar o Windows.
Hoje em dia, depois de mais de um ano com um Hackintosh de Snow Leopard e tendo tido que formatar apenas uma vez a máquina (por erros meus), não tenho mais um pingo de paciencia com a porcaria do Windows.
As pessoas me pedem pra arrumar o delas, e eu faço com muito nojo… rsrs. E vou ser sincero, eu até faço, mas já faço detonando o Windows e aconselhando elas migrarem pro Mac. Rsrs!
Pra quem se interessar em conhecer mais sobre Hackintosh aí vai o link:
http://www.insanelymac.com/forum/index.php?showforum=99
Pois eu já usei Windows e Mac. Não deu certo nem a baranga neurótica e nem a ninfetinha metida a besta.
Hoje sou feliz e muito com meu GNU/Linux. O que seria na comparação? Uma linda mulher, inteligente, bonita, estável e que não dá problemas… quanto mais eu quiser aprender sobre ela, mais ela gosta…
Também tive meus bons anos de PC, quero dizer, Windows.
Um belo dia minha mãe me deu o MacBook dela, mais rápido que o meu velho computador com Windows, e muito mais elegante!
Todo lugar que eu ia o pessoal me olhava diferente. “Olha ele tem um MAC!”. Me sentia o “rei do Starbucks”.
Fiz como você Paulo, tentei instalar tudo que podia, procurei tutoriais para conseguir mexer até na partes mais underground do MAC. Em poucos mêses, eu me tornei um MAC user.
Eu era um user, não um administrador do MAC o que não me proporcionava a flexibilidade do Windows, não me dava total liberdade de configurações/hacks mais avançadas as quais eu aprendi durante meus anos de Windows.
Sem mencionar que todos os programas tinham que ser “for mac”. Lembro de acessar o Google e procurar “[nome do programa] for MAC”. Essa incompatibilidade ainda prejudicava minha vida de “Gammer”.
Por fim, coloquei meu MAC a venda no Mercado Livre…
Eu já estava com saudades dos paus/bugs do Windows.
…”quase um Michel Temer”.
Ri muito!
Sou usuário de Mac há 10 anos. Conheço essa sensação que você descreveu tão bem e compartilho dessa sensação de produtividade, que é bem efetiva no cotidiano.
Compartilho a idéia de que um computador é meramente uma ferramenta. Quando troquei o meu MacBook branquinho pelo Pro no ano passado, saí de um martelo para uma “marreta”, como brinca um amigo meu. Nada mudou exceto a agilidade para acontecer as mesmas coisas que aconteciam antes.
Depois do advento do Time Machine, nem instalar do zero quando chega um Mac novo eu faço mais. Essa instalação que tenho rodando agora contém os mesmos dados desde o meu MacBook Air, que veio em 2008 depois que tive um PowerBook 12″ de 4 anos de uso roubado. Meus dados vão passando de um Mac pra outro via Time Machine, a instalação é a de fábrica e tudo simplesmente funciona. E é assim que eu quero que seja porque acho que eu tenho coisas mais interessantes a fazer do que ficar futricando com isso.
Mas confesso que ando desapontado por demais com a Apple. Não vejo com bons olhos a chegada da Mac App Store e jamais tive ou teria um iDevice qualquer por não concordar com essa prática comercial fechada e totalitária. Quem escolhe o que entra na minha máquina sou eu e não delego isso para ninguém. Não serei consumidor de nada na Mac App Store. E mais: se a Apple evoluir para o modelo iDevices no Mac, será o fim dos meus dias na plataforma. Estou antevendo (e me precavendo) caso isso ocorra.
Parabéns pelo texto.
Vai lá então…melhor voltar pro windows e pro seu mundo de sonhos e aventuras…rs.
Eu sempre digo: “Chorou, Parou!” Se num sabe brincar, num brinca…
Vai onde se sente melhor…se você não foi feito pra usar Mac…fica no Windows…é o melhor a se fazer.
Abs.
“Bla bla bla virei tiozinho pançudo”
Ô Paulo.
Eu percebo que anda melancólico com essa migração. A melancolia faz parte. Acostumamo-nos a fazer as coisas de um jeito e quando essa dinâmica muda, nos sentimos perdidos e desestimulados. Entretanto, seis meses é muito tempo. Essa inadequação geralmente dura pouco. Creio que devesse voltar ao windows e retomar de onde parou.
O Mac OSX tem meantros que tu nem imagina; hacks de apps e muitas outras coisas mais.
O bom é a integração que está em curso com o OSX e o iOS (macs e gadgets [iPhone, iPad e iPod]). A tendência é que seja um só. E ainda será lançado nesse ano a nova versão do OSX (10.7) o Lion.
Há as várias keynotes e mockups de produtos ainda não lançados para se acompanhar.
Enfim, o mundo mac é todo um ecossistema. Não é só o OSX.
É Paulo,
Para simples mortais como eu, o Mac é um porto seguro e isso já é muito. Nem comentando todas as facilidades que o diferencia e muito dos pcs.
Cá entre nós, achei que vc ia demorar mais pra ceder aos encantos do titio Jobs!
Beijim procê! 🙂
A definição “é como o fim de um casamento” traduziu perfeitamente a sensação de deixar o Windows para migrar para o Mac. Ainda não consegui amadurecer emocionalmente para conseguir essa mudança, até porque o fato de TODO MUNDO usar Windows facilita sua interação com elas no uso dos mesmos programas, no compartilhamento de documentos, etc. Mas ainda assim acredito que a transição será inevitável, e talvez nem tão lenta e gradual assim.