Em “O Exorcista” William Peter Blatty e William Friedkin usam imagens fortes para debater o confronto de limitações entre fé e ciência, em um filme que até hoje é considerado um dos mais assustadores de todos os tempos.
O grande escritor e roteirista William Peter Blatty certa feita entregou ao excêntrico, porém muito competente, diretor de cinema William Friedkin o seu último livro, que seria depois transformado no filme homônimo “O Exorcista”, cujas duas versões (a de cinema e a estendida) foram relançadas recentemente em Blu-Ray.
Durante a minha última revisita ao filme foi ainda mais fácil constatar certas coisas. Existem momentos singulares na história do cinema, e este é claramente um deles. A partir de uma estória relativamente banal, baseada num caso de uma alegada possessão demoníaca e posterior exorcismo, relatada aos jornais da época, Blatty montou uma trama simulando um caso semelhante, porém aproveitando o ensejo para criar um filme, antes de mais nada, dramático.
E por ser de fato um drama, ambos o roteirista e o diretor se ressentiram quando o filme foi vendido ao público, e aceito pelo mesmo, como um filme de terror. Com o rótulo de o filme mais assustador jamais feito, O Exorcista segue até hoje como o principal filme de horror feito em estúdios americanos, só comparável ao Drácula, de Bella Lugosi, rodado na década de 1930.
E não podia ter sido diferente: embora o objetivo do roteiro tenha sido discutir as incongruências e disputas entre fé e ciência, ou até a ocupação de espaço entre medicina e curandeirismo, a verdade é que o filme mostra de frente um confronto entre dois padres Jesuítas e uma adolescente supostamente possuída por um demônio poderoso. Este não é o Diabo da cultura judaico-cristã, mas a platéia o interpreta como tal. A partir daí é quase que impossível assistir a O Exorcista sem ficar assustado e apreensivo com o desenrolar daquele drama todo.
Mas os autores têm razão: a proposta não é de discutir a existência ou a influência do diabo na reação humana, mas de questionar a fé perante o enfrentamento do desconhecido, e se assistirmos o filme como tal, é possível então vislumbrar um monte de aspectos novos, que passaram despercebidos no ambiente de terror no qual a estória se desenrola.
O que está por trás de O Exorcista
Os padres Jesuítas constituem uma ordem dedicada ao estudo, à pesquisa e ao ensino. É deles, por exemplo, a Pontifícia Universidade Católica, radicada em várias cidades do país. Seriam, poder-se-ia dizer assim, uma ordem de scholars e de uma ala mais à esquerda da Igreja Católica.
Uma boa parte do roteiro de O Exorcista está concentrada na figura do Padre Karras. Como outros Jesuítas, ele é mandado estudar medicina e acaba fazendo residência em psiquiatria.
O Padre Merrin, outro personagem da estória da mesma ordem, é um arqueólogo cuja fé é determinantemente crédula da existência de forças do bem e do mal, e é neste ângulo onde o filme finca a base do seu principal argumento, pois Karras atravessa um período onde a sua fé nessas coisas está em crise.
E ao fazê-lo, o roteiro explora um aspecto singular das forças do mal: a mentira! A principal delas é a mentira política, disfarçada no discurso do Padre Merrin ao Padre Karras, quando os dois estão próximos de começar o ritual de exorcismo. Merrin diz que “o demônio” (ou o político, se alguém quiser) é um mentiroso, que mistura propositalmente a verdade com a mentira, para perpetrar um ataque psicológico.
Estes eram tempos da administração Nixon, que acabou se envolvendo no escândalo de Watergate e renunciando, e que provavelmente serviu de inspiração para o roteirista.
A conotação política dos comentários inseridos neste discurso e as ilações aos políticos da época são bastante evidentes. O tema em si transcende as fronteiras de onde o filme é feito, e é de um caráter atemporal indiscutível, ou seja, pode ser transposto para os dias de hoje, em qualquer país do mundo onde a política tem prevalência sobre o trabalho e o esforço individual. E neste ponto, a gente percebe que os cineastas não estão falando do demônio, mas do ser humano que tem este tipo de formação e comportamento.
O Exorcista apresenta e discute a diferença de abordagem entre as ciências médicas e a religião, vista inicialmente como parte do curandeirismo, o que em alguns casos é mesmo. Mas, a questão é apresentada ao espectador, sem que os cineastas se dêem ao trabalho de tomar partido.
Na realidade, o tema é complexo. A medicina tira seu aprendizado da ciência, e o aluno por mais de seis anos em vida acadêmica. O médico aprende que a saúde é um estado de equilíbrio entre o mental e o físico, de tal forma que um tem influência sobre o outro, na produção de doença. A ciência ensina que muitas doenças mentais são o resultado de um conjunto de alterações metabólicas em nível cerebral como, por exemplo, nos surtos da esquizofrenia.
E no filme, é o padre Karras quem faz a citação a este fato. Se o roteiro seguisse um raciocínio lógico, a adolescente seria tratada como doente mental. Mas, a mãe descarta esta possibilidade. Cansada da falta de soluções médicas, ela prefere entrar no terreno do curandeirismo, o que implica em retirar o demônio do corpo de sua filha. São os próprios médicos quem sugerem o exorcismo, como meio de provocar uma reação em Regan. Em muitos casos, a medicina convencional não tem solução para a cura de certas doenças, nem as consegue explicar ao paciente ou à família.
No filme, entretanto, se Regan MacNeil está possuída ou não por um demônio, o fato em si é irrelevante, diante da exibição da perda da fé pelo padre Karras, e sobre a existência de Deus e do demônio. A Igreja Católica é essencialmente dogmática, ao contrário da ciência, que exige comprovação dos fenômenos observados pelo ser humano. Existe um momento no filme, onde Karras tem que decidir se continua a pensar como um cientista ou começa a pensar como um religioso. E este drama não é diferente dos muitos cientistas, criados em famílias ou colégios com formação religiosa.
A sexualidade humana versus possessão demoníaca
Regan MacNeil é uma adolescente, o que quer dizer que ela é dominada pelas transformações hormonais e biológicas que a preparam para a sua sexualidade. Um dos pontos enfatizados pelos cineastas é o de que, durante a possessão do corpo de Regan pelo demônio, ela se torna sexualmente agressiva. O que de outro modo poderia ser explicado pelo estágio corporal e mental no qual Regan se encontra, no filme a sugestão é a de que existe uma ligação entre disfunções na sexualidade humana e a má influência do demônio no comportamento do indivíduo. Levada ao pé da letra, esta interpretação, se verdadeira, ignora por completo a influência das alterações hormonais no sangue sobre o comportamento das pessoas. Teriam os cineastas cometido um erro proposital?
Embora não se possa afirmar que O Exorcista determine conclusivamente que a sexualidade é um pecado, segundo os cânones da Igreja, ele abre a porta para este tipo de discussão. As conclusões que alguém possa tirar sobre ela dependerão em muito da visão de cada um do que é o sexo.
Existem, sem dúvida, dois lados distintos desta questão, e um deles pelo menos contradiz o lado pecaminoso do sexo exposto no filme: é o que se refere ao desenvolvimento natural do corpo humano. Partindo da adolescência, o desenvolvimento da sexualidade permite ao homem e à mulher se completarem, evoluírem, se relacionarem, procriarem e tentar encontrar a felicidade afetiva.
Em outro ângulo desta mesma perspectiva, a sexualidade pode agir contra o indivíduo, na forma de violência (estupro), abuso na exploração de um ser humano pelo outro (estrutura de poder) e da personificação equivocada do que deve ser o homem ou a mulher ideal. Esta última leva ao preconceito racial e à exclusão dos não privilegiados no contexto da sua aceitação pela sociedade como um todo. É o caso, por exemplo, de adolescentes que emagrecem para virarem modelos e se sentirem mais bonitas, às vezes com a ocorrência de anorexia nervosa.
O que a indústria da pornografia não conta para ninguém
O Exorcista mostra a pornografia através de palavras e gestos, durante a possessão demoníaca de Regan. Há uma denúncia implícita, na forma de uma reflexão não religiosa, e que tem respaldo no crescimento da indústria pornográfica com distribuição de filmes aos cinemas americanos, bem à época em que o filme foi feito.
Da mesma forma como a indústria do tabaco, que ficou durante décadas ignorando propositalmente que tabagismo não dá câncer nem doença cardiovascular, a indústria do filme pornográfico até hoje não revela os desastres sociais que ocorrem por conta dela.
A pornografia explora um lado saudável da sexualidade humana: a libido. As ações mostradas na tela tentam suprir um lado supostamente didático de como o sexo deve ser praticado, quando na verdade elas distorcem as relações entre homem e mulher de forma irresponsável. A indústria pornográfica incentiva a promiscuidade e o sexo inseguro, ignorando a disseminação de doenças infectocontagiosas, algumas das quais incuráveis, como as causadas por vírus HIV e HPV, vários tipos de câncer de útero, dilaceração e câncer do orifício retal, etc.
O índice de suicídios e de atores infectados é alarmante. A indústria, com rendas multimilionárias, pouco faz para ajudar suas vítimas. No caso do lendário Deep Throat, ícone da liberação pornográfica na década de 1970, a ruína perseguiu a então atriz Linda Boreman (conhecida na época como Linda Lovelace), o seu parceiro na tela Harry Reems, que foi preso, além do filme ter sido alvo de protestos diversos em alguns lugares onde fora exibido. A seqüência dos fatos a este respeito está mostrada no documentário da HBO Inside Deep Throat, de 2005, para quem tiver interesse.
Sob o ângulo de visão da possessão demoníaca, os cineastas abrem espaço para incluir a pornografia na lista das aberrações da sexualidade humana, conduzidas por uma influência maléfica ou simplesmente por pessoas com falhas de caráter, o que nada tem de esotérico. A personagem possuída menciona o sexo promíscuo várias vezes e usa a sexualidade para ofender aqueles que estão próximos.
A redenção em O Exorcista
Há uma claríssima menção à redenção na cruz de Jesus Cristo no final do roteiro. O padre Karras assume para si a possessão demoníaca e dá a vida para livrar Regan do demônio. A imagem é forte, mas o seu objetivo é informar à plateia que existe uma luz no fim do túnel, na forma do amor de Deus para os desesperados. Ela também diz que se o sexo abstrai e escraviza, o amor de um ser humano pelo outro é libertário.
Não há, até pelo menos onde eu possa perceber, prova de amor mais contundente do que uma pessoa dar a vida para salvar a outra. Em O Exorcista, William Peter Blatty fez questão que a plateia entendesse que, no final, o bem sempre triunfará sobre o mal.
A catarse tem particular significado para aqueles de fé católica: durante o primeiro ato do filme, é mostrado um ataque perpetrado contra uma imagem de Nossa Senhora. Para os católicos, Maria representa a mãe celeste e a advogada que irá interceder por nós no juízo final. Na referência bíblica, ela é citada como a mulher que esmagará a “cabeça da serpente”, e, portanto, nossa principal aliada na luta contra as influências do demônio. A cena da dessecração da imagem da Virgem não está lá por acaso, e ela serve para declarar que o filme não se refere a nenhuma outra religião, a não ser a Católica.
O poder das imagens no cinema
O Exorcista é evidência conclusiva de que o cinema tem uma linguagem de inigualável poder sugestivo. E neste particular a televisão, que também trabalha com imagens, sempre correu atrás, mas nunca de fato chegou perto, seja na forma de novelas, minisséries ou documentários. As duas mídias são notavelmente diferenciadas, para alívio do fã de cinema que não ver uma coisa misturada com a outra.
O que isto nos diz, em última análise é que lugar de filme é no espaço físico do cinema convencional, onde existe não um indivíduo, mas uma platéia dividindo emoções. Tudo neste espaço tem seu peso e influência, inclusive e principalmente o tamanho da tela onde o filme é projetado.
A construção dos home theaters cumpre, há várias décadas agora, o papel de resgatar cinema, já que é quase impossível ressuscitar as grandes salas do passado e/ou de ver as atuais exibindo filmes clássicos, em qualquer bitola.
Em tempos remotos, eram as filmotecas dos museus e os cineclubes quem preenchiam este vazio. Mas a cada ano que passa, este papel vai paulatinamente se extinguindo. Quiséramos nós poder reverter isso, mas a sensação que se tem é que a cultura não tem prevalência nas administrações públicas, e o que se consegue é sempre debaixo de muita luta.
De qualquer forma, o cinema como arte conquistou seu espaço legitimamente, seja ele projetado em película em uma sala de cinema, seja ele gravado em mídia e distribuído diretamente ao consumidor final.
O Exorcista encerra um momento singular da vida do cineasta ousado que foi William Friedkin. E de certa forma coloca no ostracismo um dos melhores roteiristas modernos do cinema americano: William Peter Blatty. E se existe algo de bom nos extras dos discos que nós compramos é de poder resgatar um pouco desta história!
[Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
21 respostas
Olá, Rubens,
Nós estamos falando do mesmo filme?
Eu li alguns comentários seus na coluna sobre 2001, vou ler e, se for o caso, responder por lá.
Paulo Roberto Elias escreveu:
> A única coisa sobre 2001 que eu nunca vi
> mencionada em canto algum foi a viagem do
> feto no espaço, na última cena do filme.
Mas isso foi explicado pelo autor, Arthur Clarke, no livro com a historia de 2001. Em resumo, o astronauta deixa sua condicao humana e RENASCE em uma nova forma de pura energia, um novo estágio mais avançado da evolução, e entao, nessa nova forma, ele sai viajando pelo espaço, passando pelo sol e pela Terra, inclusive.
Oi, Honório,
Lamento muito por este seu drama de família, cujos problemas são os que mais nos atingem. E é preciso muito equilíbrio no enfrentamento dos mesmos. Desejo a você, portanto, força e coragem e que tudo acabe bem.
Faz bastante tempo que não comento seus artigos. Não quer dizer que não os leio. Ao contrário, estou sempre em sua “casa”. Mas este sou obrigado a comentar. Assisti várias vezes esse filme mas jamais teria a capacidade de análise, dada minha limitação de criticar uma obra. Só agora, graças ao seu artigo, vejo as entrelinhas daquela estória. Posso afirmar que concordo com o artigo, pois vivo fatos [claro que não tão terríveis] com alguém em minha família durante 36 anos.
No início, quase fui arrebatado por “seitas”, que apresentavam as mais divertidas causas. O remédio era sempre entregar-se a Jesus ou, então, aqueles “trabalhos”, os quais nem necessito dar maiores explicações para o Sr. entender “o quê”. O que me livrou de enveredar por estes caminhos, que acabariam por também “tornar-me possuído”, foram os psiquiatras, que sempre me diziam não haver soluções mágicas.
Confesso que, de início, estive em alguns templos religiosos de ambas “correntes”.Mas como sou, por natureza, ateu, se levarmos em consideração aquele DEUS da bíblia, logo me convenci que a psiquiatria é quem estava com a razão. Curioso e, portanto, empírico, fui buscando obter mais e mais informações no decorrer destes 36 anos sobre o que poderia ter gerado o problema.
E posso afirmar, pois se a “paciente”, a qual assisto 24 horas por dia, desde o nascimento, é minha filha, que a libido, em toda a conceituação que esta palavra comporta, é a geradora. Não estou aqui defendendo uma tese. Não sou cientista e não tenho, portanto ,o discurso da competência. A realização de minhas “hipóteses” foi comfirmada nos últimos 4 anos, onde participei de várias e várias reuniões de grupo, monitoradas por psiquiatras e psicólogos[ nunca os mesmos, daí meu final convencimento, pois, se fossem sempre os mesmos, diria estar aceitando a interpretação de uma só cabeça].
Ao final, posso dizer que seu artigo está ótimo. Diria que completo. Vou rever várias vezes o filme. Agora com o poder do controle remoto, do RW e do FW. Junto-me aos que sugerem comentar 2001… Abraço fraternal.
Oi, Bruce,
Eu não vi este filme, por isso não poderia comentá-lo e lhe peço desculpa.
Eu também tive influências diversas dos meus professores de Português. Afinal, sem um bom conhecimento da língua a comunicação entre as pessoas tudo fica difícil. Hoje em dia, com um dicionário on-line, o trabalho da gente fica bem mais fácil.
Eu tive um professor no último ano do colégio que disse um dia para a turma que “poeta não escreve para gente burra”, e por conta disso ficou temporariamente antipatizado. Mas ele tinha razão, e quem ouviu isso e guardou acabou se beneficiando de um conselho dos mais úteis. O tempo se encarrega de nos mostrar que não existe cultura inútil. E eu passei vários anos da minha vida de adolescente em meio a colegas estudantes cujo desprezo e esnobismo contra a cultura eram bastante agressivos. São pessoas deste tipo que acabam se tornando profissionais burocráticos, sem criatividade ou sem capacidade de arrumar solução para problemas.
Neste ponto, eu posso falar por mim mesmo: como estudante, eu era muito mais propenso a jogar futebol do que enfiar a cara no livro. Circunstâncias da minha vida me empurraram para fora do campo e para dentro da faculdade, quando então eu me dei conta de que não sabia era nada!
Eu dei sorte de ter tido uma boa formação de base e de ter me encontrado na minha fase de jovem adulto com pessoas que abriram a minha cabeça para o mundo.
Infelizmente, não é o caso da maioria das pessoas neste país, e a coisa ainda fica bem pior quando você vê o (ex) chefe supremo da nação tentando provar a quem ouve que conhecimento e cultura são futilidades dos privilegiados. Isso, em um país que é campeão de criar barreiras para quem precisa aprender qualquer coisa!
Artigo E-x-c-e-l-e-n-t-e.
Como dizia minha professora de Literatura antes de uma prova baseada na leitura:”Pode escrever o que quiser, contanto que consiga se explicar!”. E acho que isso é válido para a interpretação dos filmes e de qualquer outro tipo de material artísitico ou não. O criador teve uma (ou várias) idéias ao produzir, e cabe aos espectadores a (talvez ingrata) tarefa de buscar uma explicação. O que, aliás, é o que o ser humano sempre busca, uma explicação para o mundo que o cerca.
Particularmente não sou fã de filmes de terror (drama, nesse caso) mas apreciei bastante a sua análise. Um filme que me instigou bastante a buscar explicações dentro de sua “mitologia” foi A viagem de chiriro. Sei que é mudar da água pro vinho o assunto mas se pudesse mostrar suas idéias para explicar o filme tenho certeza que criaria um ótimo artigo.
Rodrigo,
Eu acato todas as opiniões e as leio com o respeito que elas merecem. Responder ou contra-argumentar é uma obrigação minha, ainda mais porque nem sempre a leitura do texto de terceiros é fácil, exige paciência e certamente quem lê o que eu escrevo me empresta a sua generosidade e persistência, para chegar até o fim.
Eu espero também que o meu esforço se transforme numa contribuição, ainda que modesta, para o enriquecimento das pessoas que se dispõem a gastar o seu tempo lendo o que eu escrevo.
Desde que eu comecei a escrever esta coluna para o Webinsider, uma parte considerável dos comentários é na realidade um pedido de ajuda de qualquer natureza, que eu tenho atendido na medida das minhas limitações. Não acho ruim, mas eu me sinto melhor quando o comentário me chama para um debate em torno do tema. E neste sentido, eu agradeço a você e aos outros pela sua participação.
Obrigado por responder minha opinião sobre o texto.
Poucos autores de blog se dão ao trabalho de responder embasando ainda mais seus argumentos.
Parabéns.
Aos leitores Giordani e Celso,
Agradeço a sugestão para escrever sobre 2001, mas vejo nisso um enorme problema:
2001 é um daqueles filmes exaustivamente debatidos, e eu acredito que nada do que eu escreva sobre ele vá acrescentar alguma coisa de útil.
Até o Arthur C. Clarke já explicou ele mesmo sobre a presença do monolito, coisa que na época foi motivo de enorme especulação sobre que tipo de representação aquela pedra fazia.
A única coisa sobre 2001 que eu nunca vi mencionada em canto algum foi a viagem do feto no espaço, na última cena do filme.
Existia uma teoria em biologia e que eu aprendi no colégio que era a chamada “teoria cosmogônica”. Esta teoria fala da hipótese de que a vida (ser vivo ou célula) possa viajar no espaço, de um planeta para outro, crescer e evoluir neste outro lugar.
Na realidade, a teoria é um pouco mais complexa do que isso, mas em 2001 o feto aparece como sugestão para o surgimento de vida em algum planeta habitável, coisa que a ciência, ao que eu saiba, ainda não conseguiu explicar.
Eu agradeço a sugestão e prometo pensar no assunto.
Oi Paulo,
Como sempre você nos dá uma aula. Que artigo! Eu não conheço a versão estendida e nem sabia que existia. Essa conotação sexual que você coloca no texto nós vimos com frequência nos filmes da Hammer dos anos 60 sobre vampirismo. Mais recentemente tivemos o “Drácula de Bram Stocker” que é um primor de cinema fantástico.
Faço das palavras do Giordani, as minhas. Quando puder aborde o “2001”. Lembro-me que vi o filme do Kubrick no lançamento no extinto “Cine Majestic” na Av.Paulista, em São Paulo. Creio que o prédio foi reformado e instalou-se ali o “Bristol” da Cia.Play-Arte. Saí da sala meio atordoado com tantas informações para o cérebro decodificar. Eram imagens fantásticas em projeção 70mm e som estereofônico.
Uma vez mais, parabéns!
O artigo ficou tão bom que eu sugeriria um semelhante sobre o 2001, que tal? 😀
Abraços!
Oi, Michel,
Obrigado pelo comentário. Uma das vantagens da gente ter o filme em casa é poder rever e tirar conclusões novas, quando for o caso, não importa a idade do filme.
Existem mensagens nos roteiros as quais nem mesmo os cineastas tinham consciência de terem passado, mas elas sempre chegam na cabeça de alguém. Eu já ouvi mais de um deles admitir isso. O próprio O Exorcista foi sempre visto como filme de terror, e jamais como drama familiar ou médico.
É a mesma coisa na sala de aula: às vezes, a gente fala certas coisas, e diferentes alunos interpretam de maneira completamente diferente. Uma das coisas que eu dei sorte de aprender cedo na minha carreira é de que é preciso tomar muito cuidado com o que se fala para o aluno, porque você nunca sabe como ele vai interpretar o que você diz, percebe?
Bem, eu aprendi que se você consegue justificar, como foi feito no texto inteiro, uma mensagem indireta do filme, então é válido. Não importando se o diretor quis ou não mostrar, pois se você viu e ainda conseguiu justificar, logo é válido. Excelente texto.
Oi, Sergio,
Eu também nunca ouvi falar da ligação do Padre Champagnat com ensino superior, somente com ensino fundamental, que era a área de atuação dos Irmãos Maristas, quando a gente era aluno.
De qualquer maneira, o Ricardo podia estar certo, e por causa disso eu dei uma olhada na biografia on-line do Padre, e não consegui nada ligado a universidades, muito menos às PUC’s.
Todos os Jesuítas que eu conheci tinham profissão de outras áreas, e neste ponto O Exorcista está correto!
O Ricardo está enganado.
Os Maristas não têm nenhuma ligação com a PUC.
Além do mais, os Maristas são Irmãos e, embora sigam as mesmas regras dos Padres, não podem ministrar sacramentos.
Gostaria de acrescentar que três gerações de nossa família foram alunos Maristas: Nosso pai que estudou no colégio de Franca (SP), eu e você que estudamos no Externato São José e meus filhos (Marcelo e Tatiana) que frequentaram esse mesmo Externato.
Além disso, minha falecida esposa (Maria Helena) foi Orientadora nos colégios do Rio de Janeiro (Internato e Extarnato).
Oi, Tresse,
Nas vezes em que eu fiz pesquisa trabalhando em grupo, tinha sempre alguém que via coisas que os outros não viam. Porque, mesmo em ciência, existe margem para interpretação de resultados.
E eu, modéstia à parte, já salvei duas publicações importantes, vendo erros de tratamento estatístico e conclusões que o autor principal e os seus orientadores não viram.
Eu insisto: nenhum bom cineasta vai tornar óbvias as mensagens inclusas nas entrelinhas dos roteiros. E só Deus é que sabe o mar de controvérsias que aconteceu quando “2001, Uma Odisséia No Espaço” foi lançado. O próprio Kubrick disse à imprensa que não ia explicar coisa alguma!
Paulo,
continue gerando polêmicas. Isso alavanca o conhecimento.
Abs
Oi, Rodrigo,
Eu lhe peço desculpas, com toda a sinceridade, mas a sua observação não se aplica. Os bons cineastas encontram caminhos para mandar mensagens subjacentes no roteiro e a caberá a você, espectador e fã de cinema, descobri-las.
Quando eu estudei cinema, ainda na minha adolescência, o nosso professor de crítica mandava a gente assistir os filmes, para decompô-los em mensagens principais e subjacentes. Naquela época, eu ainda era muito imaturo, para entender a metade daquilo tudo ali. Mas hoje, com a vivência e com a idade, eu entendo o por que deste nosso professor ter mandado a fazer isso. E rever filmes nos ajuda a capturar mensagens que nós não capturamos quando o assistimos pela primeira vez!
A beleza do cinema está justamente na ótica diferenciada do espectador, quando o roteiro abre espaço para interpretações diversas. A sua, por exemplo, pode ser bem diferente da minha, e ainda assim ser bastante pertinente e válida. Em uma comunidade de fãs, todo mundo tem inclusive o direito de discordar de interpretações de terceiros.
No caso da pornografia existe uma correlação direta com o fato histórico de que na década de 70 a indústria de filmes pornográficos começou a abrir espaço nas salas de exibição em franca decadência nos Estados Unidos. Se a coisa não tivesse eventualmente dado para trás, o mercado exibidor ficaria ainda mais fechado aos estúdios e ao cinema independente.
É óbvio que os cineastas se sentiram ameaçados! Você sinceramente acha que esses roteiristas e diretores não estavam atentos ao que se passava no próprio mercado exibidor?
A alusão à pornografia está explícita (isto é, não subjacente) quando Regan se estupra com o crucifixo. Não é preciso interpretar nada, na minha opinião, mas você tem todo o direito de discordar!
Olá,
muito bom o seu artigo, mas sério mesmo, dúvido que o roteirista e diretor do filme quisessem mesmo explorar todos esses tópicos nesse filme.
o ser humano é que é campeão em fazer correlações e interpretações que muitas vezes não existem.
ver um filme sobre essa ótica é a mesma coisa que olhar uma obra de arte, escutar uma letra de música bem poética e ficar divagando sobre o que o artista quis realmente dizer. não existe essa possibilidade de interpretação. e aposto que se fosse possível perguntar pro roteirista, ele iria olhar para você e dizer: – Denúncia implícita de pornografia? hahaha. O que eu quis mostrar ali era sexo mesmo, mas tive que disfarçar pro filme poder passar no cinema.
Olá, Ricardo,
Você tem certeza disso? Se tem, eu te agradeço a sua correção.
Eu acho isso estranho, porque eu fui aluno Marista 8 anos, do Externato São José, fui obrigado a estudar a vida do Padre Champagnat, e te confesso que nunca soube que ele tinha criado as PUC’s.
Além disso, eu fui aluno do curso de cinema feito para leigos, criado pelo Cineclube Nelson Pompéia, da PUC, tive inclusive um professor Padre, e que eu me lembre, ele era Jesuíta.
Pelo menos no caso da PUC-Rio, um dos fundadores foi o Padre Leonel Franca, que era Jesuíta e os poucos que eu conheci de lá também.
A propósito: o colégio São José a que eu me referi, localizado na Rua Barão de Mesquita, Tijuca, foi fechado anos atrás, o prédio iria ser totalmente demolido, mas a Associação dos Ex-Alunos Maristas interveio, e acabou ficando só a frente do prédio, que me parece foi tombada e nada mais foi feito de obra naquela imensa área. O auditório, que ficava ao lado da capela, foi onde eu e mais dois colegas fizemos o primeiro cineclube do colégio.
Seu artigo é muito bom. Mas é preciso fazer uma correção, as PUCs são criação da Congregação Marista que nada tem de jesuitica. A Congregação Marista foi criada pelo padre francês Champagnat.