Normalmente, quando este assunto entra em cena, a discussão sobre a Internet invadindo a TV sempre acaba caindo em Google TV, Apple TV, Widgets embarcados nos aparelhos e outras novidades maravilhosas.
E quando isso acontece, é muito difícil convencer as pessoas que isso irá ocorrer em grande escala no Brasil ou que terá algum impacto nos próximos anos.
No meu ponto de vista, a internet já invadiu a TV no Brasil.
Vamos ao que já sabemos:
1. Sabemos que a audiência do aparelho de TV sendo usado para videogames, DVDs e outros aparelhos já é gigante. Maior que a audiência da maioria dos canais abertos ou fechados do Brasil.
Segundo o Ibope, em 2010, outros aparelhos ligados a TV chegaram a 3,2 pontos de audiência média. O dobro de 5 anos atrás. Para ter uma ideia do impacto, esta audiência é maior que a da Band (2.5) e menor apenas que a das três maiores emissoras (Globo, Record e SBT).
2. Sabemos que a maioria dos jogos e DVDs consumidos são piratas.
Acho que não seria necessário pesquisa para dizer isso, mas é importante ter os números. Segundo pesquisa feita pela F/Nazca e realizada pelo Datafolha, 81% das pessoas que consomem games não pagam pelos jogos.
3. Sabemos que uma parte considerável dessa pirataria já vem diretamente da internet e não de bancas ou camelôs.
A mesma pesquisa mostra que o número de pessoas que baixa jogos na internet é 3 vezes maior que o número de pessoas que compra em camelôs.
Meu ponto é simples, a internet já está na TV do brasileiro e isso já altera o cenário de consumo de mídia e comportamento.
O que acontece hoje é que isso é feito de forma indireta. Pessoas baixando vídeos e jogos piratas, queimando DVDs e trocando com amigos.
O próximo passo será fazer a ligação direta. Com mais computadores e mais acesso à internet, programas gratuitos de media center como o Plex, Boxee, XBMC vão invadir a TV.
A venda de computadores já ultrapassou a de televisores e está indo para as residências da classe C.
Segundo pesquisa da IT Data, a classe C foi a maior responsável pelo consumo de PCs no ano passado.
Tudo isso sem contar que na Santa Ifigênia já é possível comprar media centers por menos de R$ 250 e, obviamente, o preço vai cair muito nos próximos anos.
Enfim, é difícil acreditar que teremos dezenas de milhões de Apple TVs usando cartão de crédito para comprar filmes em inglês e sem legenda, mas se aceitarmos que o comportamento e o hábito do consumidor já mudou, entender que ele vai usar a tecnologia apenas para facilitar o que já faz hoje é bem fácil de acreditar.
A consequência é aumentar os efeitos do que já estamos vendo: fragmentação, internet crescendo como forma mais importante de entretenimento e informação e — o mais importante efeito de todos — aumento do poder do consumidor. [Webinsider]
Texto publicado originalmente no Coxa Creme.
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Ricardo Cavallini
Ricardo Cavallini é profissional de comunicação interativa, autor do livro O marketing depois de amanhã.
3 respostas
Complementando… Jornais impressos, que antes só podiam contar com as suas noticias impressas diariamente, agora tem ao seu alcance e explorando muito bem o youtube. Publicando noticias em tempo real, cobrindo a notícia regionalmente muito melhor do que a tv aberta.
Isso é realidade, e se torna cada vez mais presente a cada dia. Com uma camera de celular hj vc grava um vídeo e manda para o jornal e em poucos minutos temos cobertura de uma notícia feita pelas pessoas na rua.
Isso é uma integração crescente, é algo faz diferença. Acredito que com o tempo os canais passarão a ser mais democráticos e a maior parte de nossas TVs será WEB TVs.
Ou não?
Excelente artigo…
Talvez a Web TV esteja no mesmo momento quando surgiram os primeiros carros que não tinham escala de produção ou os primeiros computadores que ocupavam um prédio inteiro, mas que em pouco tempo estava em todo lugar, de maneira fácil e mudando o mundo!
Me identifiquei muito com o artigo.
Não consigo mais dissociar a internet da tv. Cada dia mais procuro formas de ver conteúdo (da internet) na tela da tv. Realmente baixo muitos filmes e séries para não ficar atrelado aos horários de exibição ou ao leva-e-traz dos filmes na locadora, sendo que os filmes baixados têm qualidade melhor (BDRip) que os dvds. Tenho um media center e também um apple tv que com alguns hacks, pude instalar o xbmc e acessar toda a mídia (música, fotos e filmes/seriados) que tem no meu computador via wifi mesmo. Muito bom.
Quanto aos jogos, não gosto mas faria o mesmo. A facilidade de encontrar títulos para xbox e wii é imensa.
Outra coisa que o artigo não cita é que o preço dos HDs caiu bastante. Afinal é preciso guardar esses arquivos digitais em algum lugar. No meu caso, 5 Tb em quase uma dezena de HDs acessados via NAS.