Outro dia, criticaram dizendo que a propaganda, por ser um reflexo comercial da cultura popular, deveria empregar a língua falada e não “complicar” com construções e palavras “difíceis”. A propaganda, assim como outras formas de comunicação, não poderia referenciar-se na literatura mas sim na rua, na feira, na cadeia.
Tudo vale para justificar essa tese, a começar pelo maior dos lugares comuns: a língua é viva. Ou por detrás do argumento: o capricho do vernáculo é coisa de velho.
Mas parece um grande disfarce.
Por que só haveria vida na rua? Bibliotecas são cemitérios onde vagam espectros arrependidos?
Olho pela janela e vejo mortos se arrastando nas calçadas, zumbis com as costas arqueadas sob o peso da mediocridade. Mas Julien Sorel ou Diadorim ou a cachorra Baleia ou Ahab pulsam na memória. Imortais.
Se não somos mais um país de sub-letrados, permanecemos um povo de sub-literatos. A língua escrita assusta porque é desconhecida.
E lá vem o argumento: a propaganda tem que ser popular, portanto entendida pelo mais ignorante dos consumidores. Mas não é só por isso que a propaganda usa a língua do Faustão, da Veja, da presidenta. Também porque quem faz a propaganda é quase tão “sub” quanto a quem ela se dirige.
A distância entre língua falada e língua escrita só é enorme porque é enorme a ignorância. [Webinsider]
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Uma resposta
Ótimo artigo!
Nós somos aquilo que vivemos; aprendemos por repetição.
Se os estímulos são continuamente fracos, a formação do indivíduo não há de ser outra.
Abraços.