Quando não há musa nem acaso, a criação é a maior inimiga do tempo, da pressão, da encomenda. É por isso que fala-se de milagre, de magia, de genialidade. Mas é só uma desculpa. O processo criativo – ou a quimera de um processo criativo – é tão débil que ele nunca se reproduz da mesma forma nem produz os mesmos efeitos.
No entanto, a gente tenta e se atenta, tarde, que não deu.
Como deve ser o ambiente? Silencioso ou agitado? Confortável ou monástico? Luminoso ou claro-obscuro? Os estímulos precisam se de fora o de dentro? Entusiastas, psicotrópicos ou coercitivos? E quais referências trazer? Ou é melhor deixar o espírito vagar pelo dédalo sagrado das musas? Vale debater e com quem? Com o público? com o próximo? Com o espelho? Pé de coelho, figa, Ganesha ou algum ritual particular? Ou consagração coletiva? Briefing aberto e solto ou fechado e preciso? Briefing? Checkpoints programados? Hot houses pan-discilplinares? Coachs, gurus, terapeutas? Sem falar no sufrágio, lançado ao acaso das anônimas células pretensamente criativas que existem no fundo de cada ser humano, mais conhecidas como crowdsourcing.
Ambientes, estímulos, referências, debates, superstições, briefings, checkpoints, hot houses, coachings são melhores álibis do que inspiração.
Chercher? Pas seulement: créer.
Não basta procurar: é preciso criar, dizia Proust. E procurar é processo científico, tentativa e erro. Causa e efeito. E porque é nisso que investimos nossas energias, então acrescenta-se uma variável pragmática: tentativa e erro até tal dia. Mas o que se encontrou não foi criado, quando muito foi descoberto ou inventado à nossa imagem e semelhança, como Colombo diante dos selvagens do Novo Mundo.
E porque a eternidade está naquilo que não dura (Proust de novo), para criar, é preciso estar livre das amarras, de todas e principalmente do tempo. Criar é ser livre. [Webinsider]
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