A linguagem é considerada a primeira forma de socialização da criança. A primeira interação é pelos pais, através de instruções verbais durante atividades diárias, assim como através de histórias que expressam valores culturais.
Segundo Borges e Salomão (2003), “a medida que a criança se desenvolve, seu sistema sensorial se torna mais refinado e ela alcança um nível linguístico e cognitivo mais elevado, enquanto seu campo de socialização se estende, principalmente quando ela entra para escola e tem maior oportunidade de interagir com outras crianças”.
Quanto mais cedo a criança se envolve nas relações sociais, mais benefícios obterá a curto ou longo prazo, tendo em vista as experiências e aprendizagens que resultam de tais interações.
(Vamos aprender Libras?. CES – Centro de Educação aos Surdos. Desenho por Cristiano A. Koyama)
E a criança surda? O que devemos nos preocupar com a criança que nasceu privado de audição? Ou também quando foi adquirida? São perguntas que afligem muitas mães preparadas para ter filhos, mas surpreendidas por um obstáculo sobre o qual não têm nenhum conhecimento.
Na aquisição da linguagem, o método como se desenvolve a língua, a aquisição das primeiras palavras, a fala, enfim, é um processo, embora natural, longo e difícil para as crianças ouvintes. Ocorre a mesma coisa com a criança surda.
É importante ter a ciência de que o primeiro contato da criança com a língua é através da interação com o meio em que se encontra, conforme Quadros, 2011, p 15, “a criança adquire a linguagem na interação com a pessoa à sua volta, ouvindo ou vendo a língua ou as línguas, que estão sendo usadas. Embora a linguagem envolve processos mais complexos, a criança “sai falando” ou “sai sinalizando” quando está diante de oportunidades de usar a língua (ou línguas)”.
Foram feitos diversos estudos para identificar as fases de aquisição e desenvolvimento de linguagem da criança ouvinte e surda. Este estudo aponta que, em cada idade e, que a criança está, ela deve ter o nível linguístico e cognitivo adequado, possibilitando interagir com outras crianças em ambiente escolar e com adultos. O balbucio, por exemplo, é uma das características em comum em crianças ouvintes e surdas.
Quadros (1997) e Fernandes (2003) (Quadros e Cruz, 2011, p 18) realizaram um estudo sobre o balbucio em bebês ouvintes e surdos no mesmo período de desenvolvimento. Constataram que essa produção não é manifestada por sons, mas também por meio de sinais.
A conclusão é: “Nos bebês surdos, foram detectadas duas formas de balbucio manual: o balbucio silábico e a gesticulação. O balbucio silábico apresenta combinações que fazem parte do sistema fonético das línguas de sinais. Ao contrário, a gesticulação não apresenta organização interna. Os dados apresentam um desenvolvimento paralelo do balbucio oral e do balbucio manual. Os bebês surdos e os bebês ouvintes apresentam os dois tipos de balbucio até o determinado estágio e desenvolvem o balbucio da sua modalidade. As vocalizações são interrompidas nos bebês surdos assim como as produções manuais são interrompidas nos bebês ouvintes”.
Sendo assim, a fase do balbucio é conhecida como período pré-linguístico (até os 12 meses). Além dessa fase, Quadros expõe outras fases importante no desenvolvimento da criança surda:
Estágio de um sinal (12 meses até 2 anos)
Nessa fase podemos encontrar na criança: apontar, segurar, olhar e tocar. Ela se comunica com brinquedos, luzes, objetos, animais e alimentos. Começa a ter iniciativa a participar em outras atividades, como colocar tirar objetos na caixa, nos armários. Utiliza uma linguagem não verbal para chamar a atenção para necessidades pessoais e para expressar suas reações. A forma de olhar entre o objeto e a pessoa que ajuda a pegar. Imita sinais produzido pelo outro, apresentar configurações de mãos e movimentos imperfeitos. Pode usar alguns sinais com significados consistentes. Observar que as crianças surdas usam gestos, para pedir colo, pedir algo para comer, fazendo o movimento do pedido (me dá).
Estágio de primeiras combinações (2 anos até 3 anos)
Produz sinais isolados para falar sobre as coisas e ações ao redor dela. Usa a linguagem para chamar a atenção das pessoas, fazer pedidos, para reclamar de coisas que estejam presentes. Ela comunica mais do que é capaz de produzir explicitamente. Aponta, olha, toca, identifica as coisas sobre as quais está falando.
A criança surda já sinaliza: EU QUERER ou QUERER-AGUA. Ocorre o processo de interiorização da língua no falante “inativo”, ou seja, a está adquirindo a sua língua de forma natural e espontânea suas regras sem ter consciência desse processo. Ela simplesmente acontece.
Estágio de múltiplas combinações (3 anos em diante)
Neste estágio a criança surda começa a produzir vários sinais, conhecido como explosão de vocabulários. Pode identificar coisas em figuras ou em livros e descrever pessoas e objetos por meio de suas características. Fala sobre onde estão as coisas, onde as pessoas estão indo e sobre quem vem a ela. Usa frase curtas e sentenças. Fala sobre as coisas do seu ambiente imediato, sobre o que está fazendo ou planeja fazer.
Nesse estágio, estão subdivididos de acordo com as idades adiantes as características comum da aquisição de linguagem encontradas e sendo observadas principalmente no ambiente escolar. É na escola que a criança interage com o outro, sinalizando e vivenciando. Cabe ao mediador explorar mais o nível linguístico da criança surda e auxiliá-la no seu desenvolvimento.
Entretanto, o ambiente em que a criança surda está inserida, a comunicação deve ser baseada na língua de sinais, sendo indispensável para o processo de aquisição e desenvolvimento. Todavia, os familiares devem buscar alternativas para aderir a língua de sinais: em escola bilíngue, a comunidade surda mais próxima da residência, com pessoas que também vivenciam na comunidade.
Salientamos que não há nenhuma preocupação sobre a criança privada de audição. Nas condições em que ela se encontra, nada impede de desenvolver o seu nível linguístico e cognitivo. Lembrando que a interação com o meio seja primordial no seu desenvolvimento. E as mães devem estar preparadas, como outras mães estão para com as crianças ouvintes. Não é difícil superar esses obstáculos, basta torná-las possíveis: aprender a língua de sinais e participar ativamente na vida da criança surda.
Bibliografia
BORGES, L. C.; SALOMÃO, N. M. R. Aquisição da linguagem: considerações da perspectiva da interação social. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 16, n. 2, p. 327-336, 2003.
QUADROS, Ronice Muller de. Educação de Surdos: a aquisição de linguagem. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.
QUADROS Ronice Muller de; CRUZ, Carina Rabello. Língua de sinais instrumentos de avaliação Porto Alegre, Artes Médicas, 2011.
[Webinsider]
Autoridade afetiva: o valor da aprendizagem por identificação
. . .
Leia também:
- Práticas pedagógicas como estratégias do conhecimento
- Para o professor que deseja educar para a cidadania
- O papel da escola através dos séculos
4 respostas
professor
Olá Webinsider , queria informar o site Diário do Surdo está no ar, super completo informações para deficiente auditivo ! Caso queira divulgar algo da sua empresa em nosso site, será prazer te ajudar sem custo nenhum!
Dá uma conferida http://www.diariodosurdo.com.br
Abraços
Diário do Surdo
Parabéns ao professor Thiago e a você querida amiga Geneci Vergara pelo excelente texto!!!
Muita coisa boa. Não sabia de algumas coisas. Ficou claro. Adorei o texto. Parabéns prof Thiago