Sempre tivemos literatura banal e roteiros de novelas mexicanas escritos por humanos. Mas agora chegam os conteúdos rasos sobre marketing digital formando novos profissionais.
Antes de nos preocuparmos com o que a Inteligência Artificial pode fazer contra a humanidade, projetando cenários apocalípticos em futuros distópicos, temos que nos preocupar com o que o próprio homem pode fazer contra a humanidade, usando a Inteligência Artificial.
Ricardo Formighieri de Bem
Ricardo Formighieri de Bem (ricardo@divex.com.br) é sócio-diretor da Divex - Internet gerando valor, foi diretor da ABRADi RS - Associação Brasileira dos Agentes Digitais - RS durante dez anos e escreve regularmente sobre Internet. Mais no Google.
E isso já está acontecendo agora.
O conhecimento já está sendo afetado. Minado. Já havia lido o Cezar Taurion e, depois, vi duas notícias sobre a crescente inundação de livros escritos pelo ChatGPT no mercado editorial.
A Amazon, responsável por cerca de 80% das vendas de livros nos EUA, terá de começar a pensar a respeito e puxar uma reação para o setor. Autores (reais) e Editoras já estão preocupados.
Qualidade das obras
Mas o ponto que acho realmente nocivo, vai muito além dos prejuízos financeiros para esta área ou até mesmo de plágio, que é outra grande preocupação.
O maior – e irreparável – prejuízo, diz respeito à qualidade das “obras”.
Em livros de ficção, há a perda criativa, artística, do talento genuíno e original.
Mas há danos imensos em áreas sensíveis e práticas, como Finanças e Saúde, por exemplo.
Sabidamente, as informações fornecidas pelo ChatGPT, Bard, ChatSonic, e tantos outros derivados ou similares, apresentam sérios erros, com imprecisões importantes e até mesmo desconexão com a realidade.
Então, a informação entregue na ponta, na “prateleira”, nestes casos é muito pior do que algo de má qualidade produzido por um humano. É muito pior do que informação rasa, o que já seria bem ruim. É conhecimento simulado, pressuposto e errático.
Imagine isto ganhando escala. E já está. Pense em quantos posts de rede social ou de blogs, indicando “os 10 passos para tal coisa”, em todas as áreas, já sendo escritos artificialmente hoje, sem revisão humana séria.
A que conhecimento as futuras gerações terão acesso? Até hoje, a humanidade tem construído uma base “pura”, um acervo genuinamente pensado, escrito, lapidado e consolidado por gerações. No momento em que esta solidez começa a ser ameaçada, temos algo sério a considerar.
A aquisição de conhecimento já vinha sofrendo perdas. Tomemos o setor de marketing digital, como exemplo. Quantas pessoas “formadas” por e-books rasos e vídeos de YouTube estão no mercado, ativas e atuantes? E quantas leram, de fato, os grandes nomes do marketing (que, sim, embasa o digital também) e tiveram formação sólida e embasada?
Agora temos mais um avanço rumo ao retrocesso. É o paradoxo da involução do conhecimento humano, produzido pelo próprio humano. Não pelas máquinas.
Mas dá pra agir. Os alertas já estão aí. [Webinsider]