Assuntos culturais importantes são tratados em baixo nível neste triste momento.
Depois do entrevero, ocorrido em outubro deste ano, com a proibição e subsequente permissão de uso do X, eu achava que mais nada iria acontecer a este respeito. Mas, infelizmente, me enganei redondamente.
O alvo foi agora, a figura de Elon Musk, com ataques e xingamentos diretos, proferidos pela primeira dama do país. Até então, eu achava que o papel da primeira dama era de apelo social, de iniciativas próprias para o bem dos desfavorecidos, nunca, jamais, em tempo algum, aparecer em público ofendendo uma pessoa, não importa quem seja, de maneira grosseira e deselegante.
No caso, a primeira dama se aproveita de um evento mundial, supostamente importante, para, em um único discurso oportunista, mandar Elon Musk “sifu”, chamar o homem que morreu em Brasília em um suposto atentado, de “bestão”, e de, inadvertidamente, declarar um ministro da suprema corte de “parceiro”, justamente o ministro que proibiu o X.
Segundo a mídia, Alexandre de Moraes teria se irritado com a negativa do X em cortar contas que, segundo ele, propagavam notícias falsas. E isso teria deflagrado uma briga, na qual Elon Musk exerceu o seu direito de se defender.
O que existe de tão errado assim em Elon Musk? Eu percebo que ele tem um currículo com pilhas de controvérsias, em situações de conflitos com terceiros, mas, em qualquer hipótese, ele é um ferrenho defensor da liberdade de expressão e do progresso da tecnologia.
Além disso, Musk tem um currículo acadêmico com formação em ciência e administração, e aparentemente usa o que aprendeu para desenvolver seus projetos. Se esses projetos fracassassem, ele hoje certamente não estaria tão à frente de novas iniciativas de desenvolvimento da tecnologia, e nem teria direito a dar opiniões impactantes.
E então, fica a pergunta no ar: porque odiar uma pessoa dessas? Porque mandar ele “sifu”, de forma tão gratuita e desnecessária? Por acaso, a sua interlocutora está no mesmo nível intelectual do seu antagonista?
A primeira dama já cometeu erros de português e gramática em várias das suas declarações, dizendo aberrações como “abrido”, que é uma palavra que não existe. A educação escolar vai, como um todo, sendo desconstruída, toda vez que um ministro ou autoridade começa a inventar termos, como “todes”, “menines”, etc., como se isso fosse vencer barreiras de discriminação.
O que se vê na realidade, é que esta desconstrução tem um fim político, dane-se a cultura do país. E este baixo nível tem sido sistematicamente exercido, na tentativa de modificar a sociedade, com movimentos apoiados em uma falsa liberdade de expressão!
A educação formal, da qual eu fiz parte durante décadas, é de enorme importância na formação e na evolução de qualquer sociedade. A educação continuada, como os cursos de extensão ou pós-graduação, são componentes igualmente importantes neste processo de aprimoramento cultural.
Na minha passagem pelo ambiente acadêmico britânico, o que eu mais vi foram estudantes de outros países à procura desses cursos de aperfeiçoamento, de modo a retornar a seus países de origem levando ciência e tecnologia de ponta. Foi assim que lugares como, por exemplo, Singapura, se livraram do primitivismo tecnológico e avançaram em muitos campos de conhecimento.
Não adianta, e não constrói, uma ala política militante, chamar Elon Musk e usuários do X de “mimadinhos”, porque isso só demonstra uma pequenez descomunal de intelectualidade, falta de abertura mental, e falta completa de visão de como trabalha e pensa o resto do mundo civilizado.
A mim, como educador que fui, só me resta lamentar a derrocada da cultura, e o aumento cada vez maior de absurdos sociais com fins políticos.
As pessoas que sobem ao poder deveriam ter consciência da responsabilidade e das consequências negativas de qualquer iniciativa que derrube termos e conceitos sobejamente constituídos por uma sociedade que precisa evoluir. Agir contra é impedir que esta evolução tome o corpo que é preciso no processo evolutivo, e no final, são anos de atraso, que um belo dia, podem nem mais ser recuperados! [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.