Para os iniciantes, serve para absorver experiência, direcionar, motivar. Para quem já tem uma certa bagagem com internet mas está entrando neste novo mundo das mídias sociais, resta ouvir, anotar e correr atrás do prejuízo.
Para os dinossauros da publicidade tradicional, serve para que enxerguem um novo leque de opções, uma nova forma de comunicar. Isto se, obviamente, assumirem que já estão ultrapassados. E para os que já estão na luta, venderem seus peixes e darem um up no networking.
Fico feliz que existam cada vez mais debates como este, mas é importante ter em mente que devemos olhar para a realidade do mercado brasileiro, pois vivemos uma realidade bem diferente do resto do mundo.
Por isso, confesso que em alguns debates não me senti à vontade com os números, com a empolgação e a forma que agências e veículos venderam seus cases, pois também estou no mercado brasileiro há um bom tempo, conheço a realidade dele e sei que não é feito de rios de dinheiro, principalmente se investidos em pesquisa.
Me incomoda também ver pessoas no corredor, que certamente não ouviram falar da bolha, Netscape, BBS e a própria evolução da informática, discutirem internet e mídias sociais com propriedade. Reflexo do que vejo às pencas no mercado.
O balde de água fria
Acompanhei, dentro do possível, via streaming e compareci pessoalmente dia 09/02 ao SMW, na FAAP em São Paulo.
Dentre outros, um momento que me chamou a atenção foi quando o Renato Shirakashi, um dos debatentes sobre medição de ROI nas mídias sociais, opinou contrariamente em relação aos outros participantes e colocou seu ponto de vista de que as mídias sociais não combinam com a publicidade tradicional e que a forma que estas mídias estão sendo utilizadas não são adequadas (pelo menos foi assim que eu entendi).
Após isso, como de costume, passei a observar as reações das pessoas no palco, na platéia, no telão… E as cabecinhas que eu via balançando positivamente durante o debate, simplesmente paralisaram. Algumas se esforçaram um pouco mais, para negar o que estavam ouvindo. No palco, ele quase se queimou com as faíscas emitidas dos olhares dos outros debatentes. Reação praticamente unânime.
Infelizmente, se espera de alguém que participe de um evento voltado especificamente para debater Social Media, para um grupo de pessoas que visam Social Media, não ter grande aceitação com este balde de água fria.
E por isso, até achei estranho chamarem o René de Paula para debater. Talvez por terem realmente interesse em debater pontos de vista diferentes (o que é bom) ou por ingenuidade. Pois quem acompanha o René sabe que ele nunca foi entusiasta dessa euforia toda.
O mercado brasileiro e a infantilização do usuário
O próprio René de Paula publicou, pouco após o evento, um vídeo falando sobre a importância de não nos tornarmos Teletubbies e nos atermos à realidade do mercado brasileiro, reforçando seu argumento sobre o que ele chama de Geração BR.
Luli Radfahrer (que é acadêmico, diferente do Rene) escreveu um ótimo texto em sua coluna sobre Design, publicada na Revista Wide nº 82, defendendo que estamos infantilizando e mimando os clientes e usuários com o intuito de acertar mais facilmente, pois sabemos que as pessoas se sentem mais confortáveis quando as tratamos mais informalmente, pelo fato de todos nós, inconscientemente, sentirmos falta dos velhos tempos de criança. Mas que essa tática pode gerar resultados descartáveis.
Compartilho da opinião deles e acredito que uma questão responda à outra.
Sim, o mercado trata as pessoas como Teletubbies pois é o que elas querem ser (ou acabam sendo).
Uma das palavras que mais ouvi no evento, além de “social”, “internet”, “comunicação”, foi “jovem”. E “jovem”, para o mundo de hoje, é sinônimo de consumo, influência e engajamento (mesmo que superficial) – vide os conceitos de gerações X, Y, Z…
Clientes são pessoas ou Teletubbies?
Por outro lado, vejo os próprios clientes ansiosos por quererem fazer parte desse novo mundo, mas sem ter a mínima ideia do que fazer nele.
Aconteceu com a febre das vinhetas em Flash, praticamente obrigatórias no final dos anos 90. Até descobrirem que aquilo era um pé no saco. Eu mesmo cheguei a criar e produzir dezenas ou centenas delas e dei graças aos deuses que a moda acabou. E agora com os canais de mídias sociais, compras coletivas, casual games e aplicativos mobile.
Da mesma forma que defendem há muito tempo a morte do jornalismo tradicional, defendemos agora a morte da TV, dos PCs, dos websites, das aplicações locais, do Orkut e até do notebook, que, historicamente, à pouquíssimo tempo atrás, ainda era considerado uma das melhores invenções do homem no tocante à tecnologia.
Estamos vivendo uma nova bolha?
Com o crescimento da computação em nuvem, é inevitável a evolução dos dispositivos móveis, e com isso, a praticidade (muitas vezes a 1 toque) na troca de informações, o que faz com que as pessoas sintam cada vez mais, a necessidade de algum tipo de contato humano, uma forma de se expressar e de fazerem parte de algum tipo de grupo. E a forma que encontramos de fazer isso, desde que eramos seres unicelulares, é por intermédio de sua rede social.
Imerso naturalmente em tudo isso, qual seria o canal mais próximo hoje? As mídias sociais em que elas estão presentes.
E por isso, sim. É importante que a marca se relacione nestes meios, mas é importante também que ela aprenda o formato de comunicação correto para atender as necessidades de seus consumidores, que não são os mesmos dos nossos vizinhos norte-americanos.
Social Media e Mobile são muito promissores e defendo que devam ser focos obrigatórios de pesquisa para o presente e futuro próximo. Mas compartilho do incômodo com toda essa euforia gerada, e vejo sim uma nova bolha inflando por aí.
Então, tá!
Não me defino mais como criador, produtor ou desenvolvedor, e sim como pesquisador. Então meu balanço é de que esse tipo de evento é muito válido para avaliar pesos e medidas, obter dados, analisar reações e comportamentos, ouvir causos, mas não como formador de opinião.
Sempre tive em mente que o importante mesmo, e que teremos eternamente como lição de casa, é oferecer serviços pela relevância a quem utiliza e pelo retorno que trarão à seus investidores, e não por modismo.
Enfim, cabe a nós, provedores de soluções, filtrarmos essa infinidade de dados que a web nos proporciona e aplicá-los com sabedoria. Baseado em fatos reais e concretos. [Webinsider]
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Evandro Temperini
Evandro Temperini é estrategista em inovação, intra/empreendedorismo, advisor/mentor de negócios.
9 respostas
Concordo.
Em muitos casos, a impressão que fica é de que a vida na Terra só começou depois que surgiram as mídias sociais.
Eu não acredito em uma nova bolha. Acho que empresas e investidores, na maioria, estão vacinados em relação a isso.
A onda de euforia atual me parece ocasionada muito mais por alguns profissionais de marketing do que pelas empresas. O que não deixa de ser preocupante.
Precisamos ter sempre consciência de que a social media é uma ferramenta, um meio para um fim, não um fim em si mesma. Pelo menos quando estamos falando de mercado, de dinheiro, de ROI.
O desafio é aprendermos a usá-la porque ela é UMA PARTE do mix, não só porque é bacana ou porque fulano disse que ela vai matar a velha mídia.
Parabéns pelo artigo.
Um abraço.
Olha Polako, não diria uma ripada, mas um “acorda” talvez 😀
Tinha alguma pessoa neste evento digna de merecer uma ripada nas costas, Evandro?
Valeu pessoal.
Sinceramente, até achei que ia ficar falando sozinho aqui e seguir remando contra a maré…
O que realmente me preocupa com isso é torrarmos a grana (já excassa) dos investidores com toneladas de confetes e serpentinas.
Aliás, se ganhasse do René a cada citação, só aqui já teria uns R$10,00… mas ele mesmo fez uma relação, em um dos seus vídeos, sobre uma experiência ruim na perda da virgindade com o trauma que os clientes ficam quando mal assessorados, principalmente quando investem uma grana preta, com o mínimo de retorno.
PS: O mais engraçado é que ele é o único que discordou até agora (no Twitter) hehehe
Evandro,
mandou bem! Também acompanhei pelo streamming e notei que algumas falas estavam carregadas de um encantamento não saudável.
Concordo com a existência da bolha, e acredito que nossa função, trabalhando com isto, é de fazer o melhor possível usando o que temos de bom para o que interessa.
Quando a bolha passar, o que fica, são as boas experiências, e o conhecimento do que foi feito e deu certo!
Bjs,
Marina.
Li o artigo do Luli Radfahrer na Wide e entro no coro dos descontentes também. É realmente importante dividirmos críticas às nossas atividades.
É triste (para não dizer que é tétrico) ver quase 90% dos “analistas de mídias sociais” panfletarem alucinadamente suas brincadeiras coloridas a torto e a direito, ao mesmo tempo se vangloriam com seus tutoriais fantasiosos.
Valeu pelo balde de água fria, Evandro. Tenho certeza de que vai ser revigorante.
Excelente! “Curti” a sua análise apesar de não ter comparecido ao evento (infelizmente). Acho que o que se extrai de melhor é a troca de conhecimentos, o tempo dedicado a ouvir outros profissionais e os questionamentos originados a cada exposição. Até mesmo a expressão de descontentamento ou discordância por parte do público são valiosos para entender quais são os conceitos circulantes aceitos pela maioria. Muito obrigado por compartilhar conosco o seu universo. 😉
É exatamente esta a idéia do texto Iris.
Fico feliz que tenha sido compreendido e mais ainda que ainda existam pessoas que hajam com parcimônia sobre o novo.
Inovar é justamente não sair fazendo o que todo mundo está fazendo 😉
Adorei o texto, a idéia clara sobre algo que por mais que existam “especialistas” (ainda não deu tempo suficiente para que sejam entendidos os comportamentos) e principalmente pela iniciativa de apontar algo que embora pareça ir contra uma maré, vai em breve se mostrar real e urgente. Parabéns!