Escrevo este artigo, inspirado por Colocamos nosso cliente em primeiro lugar?, de Bruno Garcia, e pela entrevista do garoto Zangief. Vou juntar as duas coisas que parecem não ter nada a ver, mas têm tudo: o caso de bullying de Casey Heynes e a forma como somos tratados enquanto consumidores.
Fato: as empresas abusam do consumidor o tempo todo. Apoiadas em suas gigantescas estruturas, elas nos esmagam… para uma empresa com milhões de clientes, o que somos você e eu? Nada! Individualmente, somos apenas uma insignificante estatística: 0.00000001% de clientes insatisfeitos… Quem se importa?
E não é exagero. Veja, tenho 29 anos, quer dizer que devo estar comprando há uns 15 anos. Neste tempo acumulei infelizes casos de desrespeito e negligência. A experiência diz que, normalmente, quanto maior a empresa, mais difícil é ter seu problema resolvido.
Acredito que uma das raízes do problema é o desequilíbrio de poder: “Eu sou mais forte e vou abusar de você.” Foi assim nas cruzadas da Idade Média e é assim hoje, desde a relação entre as nações até chegar aos dois garotos da escola onde ocorre o bullying.
Todo poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente.
Lord Acton, em carta ao Bisp M.Creighton, 1887
Atire a primeira pedra quem…
- nunca teve um pacote de serviço pelo qual nunca contratou lançado na fatura do telefone, água, energia ou cartão de crédito
- nunca comprou um produto que demorou três vezes mais para ser entregue ou veio com defeito?
- não foi surpreendido como as “promoções” e “ilimitados” fajutos que temos de engolir diariamente? (sim, estou falando da “banda larga” 3G e do traffic shaping)
- nunca teve problemas com o caixa eletrônico que não funciona, apesar das abusivas taxas?
- não teve um notebook que com uma semana de uso parou de funcionar?
Ok. Errar é humano. Disto ninguém discorda. O questão aqui é: de que é o ônus do erro cometido? Nesta nefasta relação grande empresa – consumidor insignificante, adivinha de que lado a corda arrebenta?
Exemplo cotidiano:
- Você compra uma TV e ele vem com um defeito de fábrica
- Você envia e-mails para a empresa seguidas vezes e é solenemente ignorado
- Você acessa o site deles e abre uma ocorrência (e continua a ser ignorado).
- Você liga para a central de atendimento e explica seu problema. Dizem que vão resolver em até 72h (mas continuam te ignorando)
- Neste ponto a sua paciência já se esgotou (nem mesmo o ser mais iluminado, iria aguentar tudo isto)
- Irado e frustrado com uma compra de que deveria ter sido motivo de alegria e lazer, você decide ir ao Procon e fazer valer seus direitos (você vai perder ao menos meio dia de trabalho para fazer isto)
- Você redige a carta de reclamação (e lá se vão mais horas que poderiam ter sido produtivas)
- Você envia a carta para a empresa e paga os custos de postagem, incuindo um aviso de recebimento (AR)
- (Vou pular a parte dos laudos técnicos)
- Se você tiver sorte, muitos dias (ou meses depois) alguém te liga, diz que vão resolver seu problema e até desculpam-se por qualquer mal-entendido que tenha ocorrido
- Com sorte, após esta via-crúcis, você terá sua TV funcionando e aquele pedido de desculpas e fim. Caso encerrado.
Veja quantas vezes a palavra você aparece acima! O erro não foi seu. Você comprou e pagou, queria apenas receber o produto, ligar e usar, simples assim. Mas para o seu azar, alguém em algum lugar cometeu um erro. Agora você é quem tem de correr atrás para corrigí-lo. Você vai gastar seu dinheiro, seu tempo e pior, vai gastar a sua saúde.
No fim, fica sempre aquela sensação de impotência. Você pequenino e indefeso caído no chão, enquanto o valentão da escola vai embora rindo. E ele vai voltar amanhã ou depois, pode ter certeza.
Você pode até espernear a gritar um pouco, mas a verdade é que é muito difícil mudar algo, pois o sistema funciona desta forma.
O código de defesa do consumidor foi um grande avanço, mas ele é raramente aplicado e aqui a outra raiz do problema: a certeza da impunidade (aquela mesma que mantém a pessoal do mensalão lá) que leva a repetição e banalização de casos de deveriam ser tratados como exceções.
Internet é a luz no fim do túnel?
Como profissional de internet, sempre acreditei que de todos os benefícios que a grande rede nos traz, o mais significativo é a distribuição do conhecimento e, por tabela, do poder.
Temos agora a oportunidade de sermos ouvidos como nunca antes na história. Temos acesso rápido a quase qualquer tipo de informação, sabemos de coisas que antes eram todas jogadas para debaixo do tapete (WikiLeaks). Podemos nos unir a milhares de pessoas ao redor do globo e participar de companhas, pressionar (e até ajudar a derrubar) governos e multinacionais (Avaaz). Ou fazer o mesmo localmente (Diga Não ao DDD).
Muito bacana ver que o consumidor de hoje está aprendendo a reinvindicar seus direitos – como no caso Renault, usando para isto das ferramentas disponíveis. A enorme quantidade de sites como o Reclame Aqui, Denuncie e outros deixa claro que a muitas empresas ainda falham gravemente no relacionamento com seus clientes.
A esperança é que, cedo ou tarde, as empresas inteligentes vão mudar de postura, passando a respeitar o seu cliente. A esperança é que, cedo ou tarde, as empresas inteligentes vão mudar de postura, passando a respeitar o seu cliente.
Já as não tão inteligentes, vão precisar de um certo empurrãozinho ou (arremesso no chão mesmo) para enxergarem o óbvio:
Cliente satisfeito = lucro
Cliente insatisfeito = prejuízo
É tão complicado assim? [Webinsider]
…………………………
Conheça os serviços de conteúdo da Rock Content..
Acompanhe o Webinsider no Twitter.
6 respostas
Daniele, também passei um tormento com Dell, essa empresa só tem nome no hora de entregar é uma bagunça danada…isso mesmo não compre da dell!
Já passei e estou passando por essa via crucis atualmente. Desde novembro do ano passado até agora, fiz em torno de 7 compras online e tive problemas em 5 delas. Praticamente estou desistindo do meio. E a última pendenga é com a Dell, onde fiz uma compra, não entregaram um item e estou há 3 meses esperando e reclamando e não entregam. Então recomendo: não comprem na Dell.
Ótimo post. Recentemente me ocorreu um episódio desses. Comprei no Submarino um refrigerador e recebi 30 dias DEPOIS do prazo de entrega.
Abri quase 10 chamados pelo Chat e pelo telefone, fui ao Procon, abri chamado no ReclameAqui. Só que no meu caso ninguém se manifestou. Ficou o famoso jogo de empurra-empurra entre o Submarino e a transportadora. Me entregaram o produto e mais nada.
Quase um mês depois da entrega o Submarino tem a coragem de responder a ocorrência do ReclameAqui dizendo que “o produto já foi entregue ao cliente”. É claro que foi entregue, com 30 dias de atraso mas e aí? Os meus custos de internet e ligações? O meu tempo perdido? Infelizmente são poucas, e reforço, muito poucas as empresas que realmente se preocupam com o cliente da forma que deveriam.
Em tempo, é louvável a atitude da cliente contra a Renault. Agora sobre a atitude da “justiça” mandar remover o site…. não podemos dizer o mesmo.
Muito bom! Ficou ótimo o artigo. Parabéns!
Parabéns pelo artigo.
É sempre ótimo identificarmos profissionais que exponham com tanto conteúdo um tema tão polêmico e difícil de se explicar, justamente porque o mesmo ocorre conosco e nos sentimos tão lesados.
Abraços,
Daniela
Este foi o post, depois de tanto tempo sem acompanhar o site, mais gostoso de ler. Texto perfeito, situações, apesar de tristes, reais. Eu ri lendo o texto, lembrando das vezes em que eu fui o “David” contra Golias. Parabéns pelo post.