É recente a discussão sobre a inclusão social e acessibilidade digital das pessoas deficientes. Para nortear este enfoque, alguns conceitos são necessários:
Acessibilidade ao meio físico: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Acessibilidade digital: flexibilidade do acesso à informação e interação dos usuários que possuam algum tipo de deficiência ou necessidade especial, no que se refere aos mecanismos de navegação e apresentação das páginas, operação de softwares, hardwares e adaptação de ambientes e situações.
Embora a maioria da população não perceba, pessoas com necessidades especiais deparam–se com inúmeras barreiras ao acessar a internet, devido à disposição das informações, às tecnologias utilizadas e às formas de comunicação.
Sites que fazem uso exagerado de figuras e exigem movimentos precisos com o mouse, por exemplo, são inacessíveis para aqueles que possuem dificuldades sensoriais, motoras e cognitivas.
Algo similar ocorre na intranet.
Algumas empresas, para cumprir os requisitos do Decreto Nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamente a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, apenas contratam formalmente pessoas deficientes e as “esquecem” no contexto do dia–a–dia, priorizando questões e processos que não as inclui com amplitude.
“A empresa com cem ou mais empregados está obrigada a preencher de dois a cinco por cento de seus cargos com beneficiários da Previdência Social reabilitados ou com pessoa portadora de deficiência habilitada (..)” (Decreto Nº 3.298).
A obrigatoriedade pela lei não deve ser encarada como assistencialismo, no sentido ruim da palavra, as sim como avanço das tecnologias criadas com foco nos usuários. Neste sentido, é de vital importância se levar em consideração os empregados com deficiências, para incluí–los adequadamente nos processos internos e no dia–a–dia da corporação.
Nos Estados Unidos, a Section 508 (emenda da lei de reabilitação de 1973) é um esforço para a aplicação de acessibilidade pelo governo federal. Tudo que é adquirido, mantido, desenvolvido para a instância governamental deve ter acessibilidade.
É claro que muitos deficientes na empresa necessitam de apoio extra, adequação de mobiliário e treinamento especial para sua atualização em novas tecnologias, mas isso não isenta o desenvolvedor e o empregador de dar o primeiro passo para a acessibilidade digital, que fomenta o aumento das possibilidades de profissionalização e socialização de comunidades que antes eram excluídas.
Há situações em que e–mails importantes da empresa são enviados em forma de imagem (invisíveis para pessoas com alguma dificuldade de enxergar) ou a arquitetura de algumas intranets dificulta o acesso a diversas informações essenciais. É preciso maior esforço na via do compartilhamento de conhecimento e na valorização do design.
Ansiedade de informação. Wurman* diz que a “acessibilidade é a brisa que atravessa a janela do interesse”. Onde estou? O que existe ao meu redor? Para qualquer pessoa, deficiente ou não, estas perguntas são fundamentais. Afinal, geralmente o que se busca em um site é o conteúdo desejado. Para uma pessoa deficiente não é diferente.
Com empatia, o designer envolvido no desenvolvimento dos novos padrões para intranet – agora no caminho alargado dos Portais Corporativos – confronta–se com um fato definitivo: como um deficiente da empresa vê as páginas web do portal? Qual o nível de interação destas pessoas com este produto? Como um designer que pensa em usabilidade e arquitetura da informação pode colaborar? Num ambiente controlável, como é o de um portal corporativo para a intranet, estas questões são contornáveis.
Segundo o censo IBGE de 2000, os brasileiros com algum tipo de deficiência compreendem um total de 24,5 milhões de pessoas. O grupo mais numeroso desta fatia é o formado por deficientes visuais (por volta de 16,5 milhões de brasileiros).
Um deficiente visual pode utilizar completamente um computador. É surpreendente saber que colegas de trabalho deficientes podem acessar qualquer programa no desktop, páginas web e sistemas. Através de sintetizadores de voz e softwares de tecnologia de apoio, qualquer interface não é total mistério para eles.
Mas ainda é muito difícil e, em muitos casos, completamente impossível que a pessoa deficiente perceba, entenda e realize tarefas satisfatoriamente e em pé de igualdade com qualquer outra pessoa utilizando websites.
Redução de Custos. Se acessibilidade é um dos itens de foco inicial no planejamento estratégico do projeto, a aplicação dos conceitos propostos em novos projetos para web implica em investimentos significativamente menores se comparados com a reengenharia de sites já existentes, cujo tempo médio para adaptação é maior.
Iniciado no contexto da empresa, o esforço para adoção da acessibilidade digital em procedimentos certamente será palco para soluções que contemplam e sensibilizam clientes e fornecedores.
Separar a estrutura da apresentação em página web, simplicidade e coerência da apresentação, o uso de folha de estilo, o uso do XML e independência de dispositivo são algumas das recomendações de acessibilidade e que igualmente promovem a eficiência e a redução de custos.
Recomendações para Acessibilidade. Recorrer ao W3C–WCAG 1.0 (Web Contents Accessibility Guidelines publicado pelo W3C – veja a tradução em português), como nas recomendações gerais de acessibilidade para web e aplicativos baseados em navegadores, é o começo da viagem rumo ao trabalho de redesenhar um projeto web de forma acessível.
Estas diretrizes estão sendo mundialmente aceitas para acessibilidade na web e são a base para a formação das futuras normas da ABNT.
O W3C propõe três níveis de conformidade com as suas recomendações, o que facilita o desenvolvimento e versionamento de um projeto para a acessibilidade dentro de um planejamento estratégico.
É especial e singular a situação de empresas que têm sua própria equipe multidisciplinar coordenada por técnicos com e sem deficiências, engajados nas questões de desenvolvimento de sistemas e inclusão social, como é o caso da Prodam, Companhia de Processamento de Dados do Município de São Paulo/SP. O Grupo de Acessibilidade Prodam disponibiliza várias informações e comenta dúvidas mais comuns na construção de uma página acessível aos usuários com necessidades especiais. [Webinsider]
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Referências:
WURMAN, Richard Saul. 2. ed. Ansiedade de Informação – como transformar informação em compreensão. Rio de Janeiro: Editora Cultura Editores ASS, 1999. p. 51.
Aracy Maria Bernardes Gonçalves
<strong>Aracy Maria Bernardes Gonçalves</strong> (aracy@prodam.sp.gov.br) é designer e participante do <strong><a href="aracy@prodam.sp.gov.br" rel="externo">Grupo de Acessibilidade Prodam</a></strong>.
2 respostas
Alessandra Ferreira,
também estou fazendo meu trabalho de conclusão de curso algo relacionado a isso. Caso tenha interesse em trocarmos idéias aí vai meu e-mail (philipecoutinho@digizap.com.br)
oi gostei da matéria,estou fazendo pesquisas para meu trabalho de conclusão de curso,se vcs. puderem comentar mais,vou ficar feliz de receber seus email.obrigada desde já.