Em pleno carnaval, enquanto a maioria de vocês se liberava em homenagem a Baco, estive no 3GSM Congress (Cannes), evento que reuniu quase 30 mil cérebros de todo planeta e celebrou a marca de 1 bilhão de usuários de GSM conectados.
Entre o turbilhão de destaques e novidades do evento, escolhi para comentar aqui alguns pontos mais caros aos leitores do Webinsider: OMA, Push to Talk e Presence.
Open Mobile Alliance é uma organização formada por mais de 300 membros, entre os quais as principais operadoras de telefonia, fabricantes de redes e terminais, empresas de tecnologia de informação, desenvolvedores e provedores de conteúdo.
A entidade evoluiu com a fusão gradual em um único projeto de diversos outros grupos de trabalho específicos da indústria (Wap Forum + Location Interoperability Forum + SyncML Initiative + MMS–IOP, Multimedia Messaging Interoperability Process + Wireless Village + Mobile Gaming Interoperability Forum + Mobile Wireless Internet Forum) que, embora com objetivos distintos, trabalhavam todos em cima de propósitos semelhantes.
As palavras de ordem para Open Mobile Alliance (OMA) são: standard (padronização!) e interoperabilidade. Sua missão se traduz em “facilitar globalmente a adoção de serviços de dados móveis assegurando interoperabilidade entre terminais, geografias, provedores de aplicativos, operadoras e redes”. Esse objetivo é perseguido, além do fórum político, com a produção conjunta de especificações técnicas “abertas”, a partir de uma abordagem centrada no usuário.
A Open Mobile Alliance vem sendo muito bem vista por todo mercado, assumindo para a media mobile um papel parecido com o que representa o W3C (World Wide Web Consortium) para a internet. Como resultado desse esforço conjunto, surgiu a recente especificação DRM (digital rights management) para MMS.
Push-to-Talk over Cellular (POC) é o uso do seu telefone celular como se fosse um walkie-talkie. Você aperta o botão e, enquanto o pressiona, fala quase imediatamente com a pessoa do outro lado. A vantagem? Conexão sem interrupção e (espera-se!) um custo mais em conta pelo minuto de voz. Claro que você não vai querer usar isso com todos os seus contatos, mas a tecnologia pode ser muito útil em determinadas situações (familiares, corporativas…).
Para as operadoras, por outro lado, o pulo do gato é que a transmissão da voz no POC é sobre dados e não via rede de voz. Como o tráfego nas redes de dados ainda continua bastante ocioso, as operadoras encontram assim uma alternativa para rentabilizar o enorme investimento feito na implementação de suas redes GPRS/CDMA1X.
O interessante é que o POC pode ganhar um novo brilho e utilidade com a chegada da Presence nos telefones. Como assim?
Presence é uma plataforma em desenvolvimento pela OMA, definindo padrões para a invenção de diferentes aplicativos. Fugindo do lado técnico em benefício do prático: o conceito parece abstrato, mas concretamente abrange a consciência da sua presença. Ou seja, sua disponibilidade imediata para comunicação em relação a outra pessoa pré–determinada e/ou através de que tipo de interação.
Por analogia fica mais fácil: você lembra o status do ICQ? Ícone verde para online, um olhinho branco para invisible, ícone vermelho para no disturb. Imagine então essa funcionalidade em todos os nomes de sua agenda telefônica. Você poderá ver, no celular, qual o status de “presença” de cada um dos seus contatos, naquele exato momento. E não é só isso! Além do usuário conseguir definir para cada indivíduo o seu status específico de disponibilidade, também o poderá ajustar para cada interface de interação: voz, SMS, POC, Wap, vídeo, vibracall, cheiro, o que for.
Um exemplo real: no cinema, você poderá bloquear todas as chamadas de voz, entretanto continuar disponível para receber as mensagens de texto. Em um momento de carência, por outro lado, você pode vir a escolher a opção de “chat free” e ser contactado até por amigos dos amigos dos seus contatos – se houver aí um social software (tipo Friendster, Orkut, Linked in ou Tribe) viabilizando o meio de campo.
Ou seja, se tudo der certo, em breve a agenda de contatos do seu celular será muito mais poderosa: dinâmica e praticamente “viva”. Além do registro numérico, terá uma alma. Só espero que isso ajude a controlar a nossa privacidade – e não o contrário.
Aura cibernética
No ambiente urbano, o resultado prático da imersão em redes sem fio (GPRS, CDMA1X, WiFi, 3G) será uma conexão abundante de dados sempre à nossa disposição. Prático e apetitoso, sim, embora viciante – quem sabe, até perigoso. Traduzindo esse conceito, “seamless” (no sentido de algo permanente, “sem costura”) é a buzzword do momento no mercado telecom – colocando lenha na fogueira para ampliar o máximo possível, de múltiplas maneiras, a capacidade de conexão entre cada um de nós.
Seja no desktop de casa, no celular durante o trânsito, na fila do banco ou no notebook do trabalho; seja via voz, messaging, POC ou vídeo, a conexão será constante, migrando de device, tecnologia ou mesmo rede, contudo sem que o usuário perceba, porque todo esse aparato de suporte ao ambiente digital deve ser transparente e integrado.
Estaremos digitalmente envolvidos durante todo o tempo, da cabeça ao pés. Você está preparado para isso?
A preocupação central não deve ser que a vida digital ameace tomar espaço demais em nosso dia–a–dia, prejudicando de alguma forma o cotidiano. Uma vez que as possibilidades da comunicação digital são úteis, poderosas e irreversíveis, o interessante é entender como iremos nos adaptar a essa nova realidade, aprendendo a conviver da melhor maneira possível com a interação (seamless?) simbiótica entre nosso ser biológico (alma encarnada em macaco) e nossa representação digital (seu avatar cibernético, o “eu” enquanto contato virtual), flutuando em um fluxo ininterrupto de dados, pulando de galho em galho no cipó das cidades, deslizando sobre o oceano contínuo de conexões… [Webinsider]
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Fernando Villela
Fernando Villela era Content Senior Manager da Blah! quando faleceu, em julho de 2004