Se você tem dor no peito, você procura um cardiologista, se for dificuldade de respirar, pneumologista, se sente um incômodo na vértebra, melhor um ortopedista. Mas se a dor for na tróclea fibular do calcâneo e não souber que troço é esse? Nesse caso, procure um médico.
Por mais estranho que pareça, nem todo cardiologista, pneumologista, ortopedista é médico.
Em algum momento de sua curta história, a Propaganda resolveu que dividir as tarefas em disciplinas de especialidades técnicas seria uma boa forma de aumentar a eficiência das agências. Assim nasceram as que conhecemos (e aquelas que todos os dias ainda são inventadas para dar ares de renovação).
Com o tempo, essas disciplinas se sofisticaram. Não é incomum, hoje, uma pessoa se auto-intitular Mídia ou Planejamento com a segurança de um Cardiologista ou um Trocleafibularcalcaneologista. Existem até Clubes, Sociedades, Grupos constituídos, defensores de suas missões e valores, com seus festivais, encontros, viagens e pactos “por uma mídia mais inovadora”, “por um planejamento mais filosófico”, “por uma criação mais laureável”, “por um atendimento mais estratégico”.
Mas se tomarmos algum recuo – e vale salientar que essa especialização se reproduz muitas vezes nos clientes – é comum perceber que os interesses de cada disciplina, consciente ou inconscientemente, nem sempre se harmonizam.
A mídia defende a verba, a criação a micro-ideia rompedora, o planejamento o álibi intelectual, o atendimento o sorriso do cliente.
Você será um mídia valorizado no mercado se comprar muita coisa importante. Você será um criativo caro se ganhar muito prêmio. Você será um planejador brilhante se tergiversar com empáfia lacaniana. Você será um atendimento candidato a CEO se tiver o celular dos maiores empresários do país.
Mas não necessariamente você será reconhecido, valorizado, idolatrado pelos pares, se os objetivos do briefing do cliente forem atingidos (quando os objetivos do briefing do cliente também não estiverem contaminados por essas anomalias).
Uma apresentação de campanha não passa, muitas vezes, de uma lição de anatomia idealizada por um estripador grosseiro.
Numa ficha de hotel, o que você preenche no campo “Profissão”? Mídia, Planejamento, Criação, Atendimento ou Publicitário?
É claro que todo mundo que chegou aqui vai responder publicitário. É claro que ninguém veste a carapuça. É claro que todo mundo concorda com o ponto de vista. Mas, no dia a dia, o que seu chefe te cobra? Como seu colega da Sociedade, Clube ou Grupo que você cultua te vê? [Webinsider]
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Uma resposta
Pois é,Fernand, sempre nos “despedaçamos” em subcategorias para enfatizar nossas áreas, acho que para não parecer que “publicitário é tudo igual”. Percebo que isto está a tornar-se uma cultura em o diálogo é mais ou menos assim:
– Você faz o quê?
– Sou publicitário.
– Mas você faz o quê?
– Escrevo, sou redator.
No meu caso, na ficha de hotel, colocaria publicitário – redator.
Talvez assim fique mais fácil de um possível cliente entender o que fazemos na hora de contratar um freelancer também. Afinal, ainda há o pensamento de que “isso até eu faço” sobre a nossa profissão, algo que não acontece com médicos quando o assunto é grave.