Quando todo mundo deveria estar batendo palma em pé para a primeira empresa do Governo que cria um site colaborativo, mais dinâmico e que permite comentários, ao contrário, leva tiro de todo os lados (Fatos e Dados, mais conhecido como blog da Petrobras).
Claro, que houve erros iniciais no processo. E erros continuam, mas vamos separar o óleo do petróleo.
O presidente da Petrobras já disse ao Valor, de quinta, dia 10/06, que não colocará no blog as perguntas que o jornalista pedirem sigilo. Ok, muito bom, parabéns!
É simpático, educado e de bom tom, pois não se divulga o trabalho alheio sem permissão. (Detalhe, no novo mundo web é o jornalista agora que tem que dizer baixinho: “Mermão, é off-the-blog-records, ok!?”)
Tudo certo, isso se ajeita. Teve também um filósofo, que disse ao Globo, no dia 10/06, que a Petrobras está praticando no blog ?Terrorismo de Estado?. Recomendo mandá-lo para Palestina em temporada de bombardeio para separar o míssel da missiva.
No fundo da polêmica, lá no âmago, há uma revolta contra a perda de poder da mídia. E um espanto, uma falta de informação, diante das novas possibilidades que a rede permite.
A mídia hoje tem sido obrigada a tirar, com abridor de latas, a armadura pesada que ganhou, a partir de 1450, com o surgimento da prensa do Gutemberg.
O jornal em papel é mono, a rede é polifônica. O jornal de papel é estéril, a rede é, no mínimo, estéreo.
Toda empresa, principalmente do Governo, deve, deveria e deverá prestar conta direta a seus consumidores.
Seria bom, seria ótimo!
Atendê-los em todas as suas dúvidas, pois em última instância são os micro-patrões, pedindo satisfações.
Isso deve ser saudado e não questionado.
E mais: os consumidores estão ganhando o direito de saber o que os outros consumidores perguntaram e o que a empresa respondeu a eles.
Esse é o novo direito humano de expressão e acesso à informação, que surge com a rede: leitor sabe o que o outro leitor reclamou, vide Amazon.
Isso, e apenas isso, é a grande novidade da presença da Petrobras na rede, que, diga-se de passagem, não começou hoje, apenas agora permite comentários dos leitores em um site, digamos, mais vivinho do que o anterior.
O resto é fumaça! Leitor agora lê a opinião de leitor sobre o que rola na empresa, estimulada pela Petrobras, que bom! E com direito a réplica da empresa? Melhor ainda!
São milhares de ?jornalistas-participativos?, indagando, perguntando, sugerindo, denunciando, apurando. Quanto a Petrobras vai economizar em pesquisa de opinião?
Saímos do SAC com fundo (onde a empresa escuta as queixas, mas não compartilha) para o Saco sem fundo, na qual as críticas e elogios são compartilhados com o mundo. Até rimou!
É aí vem a minha crítica ao novo site dinâmico e colaborativo da Petrobras, que muitos gostam de chamar de blog.
Galera, moderar comentário é tiro contra, bola fora, não é assim que rola por aqui no novo mundo colaborativo.
Não aceitem comentários anônimos, isso sim, mas se um brasileiro (ou qualquer outro internauta, já que a Petrobras é multinacional) quer comentar, ele tem o direito de fazê-lo sem censura, sem mediação.
Que digam os maiores absurdos, mas não falem pelas costas, falem diretamente a vocês! Façam como fez o Globo online. Deixe um espaço para denúncia de comentários indevidos, racistas, mentirosos. Coloquem um filtro de palavrões.
É a comunidade que vai afastar os que estão ali para sabotar, para criar ruído e não somar. Na rede, quem define isso é a comunidade e não o ?dono? do site! E quando as críticas forem improcedentes? A empresa tem que trazer dados, abertos, claros, cristalinos.
Ah, bom, e se, digamos, a empresa estiver errando, a denúncia tiver procedência? Aí, meu caro, vem o preço de ser colaborativo, de ser 2.0, tem que mudar!
Pois denúncia no SAC é um fato isolado e no blog é um fato político! Apenas isso.
E aí vem a segunda parte dessa novela, a pergunta que não quer calar:
- Estará a Petrobras disposta a realmente dialogar?
- Além disso, de conversar e assumir seus erros, a partir do blog?
- Será ela capaz de criar um espaço na sua hierarquia para fazer do internauta colaborativo um guia para seu destino, através de ideias, críticas e sugestões vindas da rede?
- Será que o projeto passou por essa reflexão mais profunda e estratégica?
Aviso aos navegantes 2.0 neófitos: ser 2.0 não é um passo tecnológico, mas ideológico. Cultural.
- Se as críticas forem censuradas, é uma empresa 1,2;
- Se as procedentes não tiverem impactos nos rumos da empresa, será 1,5;
- E se começarem a criar um novo canal de participação e decisão, aí sim, haverá um equilíbrio entre o mundo veloz, participativo e dinâmico 2.0 e a Petrobras 2.0.
É esse o desafio saudável que a empresa assumiu no seu novo espaço virtual, repito, que muitos gostam de chamar de blog.
Para o bem ou para o mal, o case servirá de modelo, de discussão para todas as outras iniciativas, tanto no Governo, quanto fora dele sobre empresas colaborativas. É ver no que vai dar! Por enquanto, viva o blog da Petrobras. Concordas? [Webinsider]
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Carlos Nepomuceno
Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.
9 respostas
Creio que a Petrobras escolheu a ferramenta errada. Se queria falar apenas da CPI e divulgar as entrevistas dadas por seus funcionários sobre o assunto, publicasse este conteúdo no site, no setor de imprensa, com a devida moderação.
O princípio, o sentido de um blog existir é a liberdade de cada um escrever o que quiser, inclusive um monte de bobagens que devem estar dando muito trabalho à equipe do blog.
Na web 2.0 – ou colaborativa para os que não gostam das conceituações teóricas sobre a vida prática – os que postam besteiras são naturalmente ignorados, rechaçados ou banidos pelo próprio público, e não pela empresa.
É difícil mesmo aprender a dar voz ao público quando o microfone sempre esteve nas nossas mãos. Mas é uma questão de tempo…
Parabéns pelo texto Nepo!
Paulo,
outra discussão interessante, se você abre o debate pode escolher o tema? Ou se é um diálogo todo tema acaba valendo? O pessoal avalia que é o blog da Petrobras e não um blog contra a cpi da petrobras.
Vamos adiante,
Nepô.
Nepo, captei que a intenção da Petrobrás não é abrir para todo e qualquer assunto, mas especificamente sobre CPI e exibição das respostas para a imprensa. Nada além disso.
Decerto que se tivessem omitido a palavra moderação – mesmo moderando – a coisa teria sido melhor avaliada por todos, principalmente pelos mais exigentes, como vc. rs. Abraço e VIVA A PETROBRAS! aha, uhu, o petróleo é nosso.
Paulo,
concordo com tudo, mas o critério de moderação dos comentários é improdutivo. E dá margem a dizerem que há censura.
Na Web colaborativa, publica-se tudo e deixa o próprio leitor com a função de ajudar a moderar, veja a experiência bem sucedida do globo:
http://nepo.com.br/2009/07/01/video-aloy-jupiara-fala-de-jornalismo-participativo-no-globo-on-line/
abraços,
Nepomuceno
Que coisa mais chata este negócio de web 1.5, 2.0, 6.8, 3.15…
Isso sim, é coisa do passado e parteurizada.
O BLOG (sim, blog) da Petrobrás é inovador no que diz respeito à democratização da informação muitas vezes editada pelos jornalões que até pouco tempo tinham-nos como reféns.
VIVA O BLOG DA PETROBRÁS
Alías, tá muito claro lá qual é o conceito do BLOG, sem nenhuma censura:
Sobre o blog
Esse blog é administrado por uma equipe de profissionais de comunicação da Petrobras. Nele, apresentaremos fatos e dados recentes da Companhia e o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Leia, comente e divulgue para seus amigos.
Política de Comentários
Todos os textos desse ambiente estão abertos para comentários, que passarão pela aprovação de um moderador antes de ir ao ar. O critério para publicação é que os comentários não tenham conteúdo ofensivo ou desassociado do tema do site, bem como não contenham perguntas de jornalistas para elaboração de matérias. Essas perguntas devem ser remetidas à gerência de Imprensa da Comunicação Institucional da Petrobras.
Paulo e Wanderley,
um blog, não tem jeito, leva a uma empresa a mudança ou o blog ao fechamento, ou ao ostracismo, comentem o que quiserem que nem é nosso…
Vamos ver o que nos reserva a boa iniciativa,
abraços,
Nepô.
Grato pelos comentários.
Enviamos algumas perguntas em nome dos empregados da PETROBRÁS para o blog e não tivemos nenhuma resposta. Ou seja, o blog é uma farsa e coloca apenas o que interessa a PETROBRÁS responder e que já vai sair publicado na mídia, se antecipando na noticia, quebrando o furo de reportagem.
Se a administração da PETROBRÁS não responde nem a sua força de trabalho como podemos dizer que há transparência na gestão.
É preciso investigar as irregularidades, independente de CPI, queremos a verdade, onde, nós, funcionários da PETROBRÁS, sabemos que tem muita coisa errada e que precisa ser reparada.
Wanderley Júnior
Diretor da AEPETRO
Especialista em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela UFRJ
Mestrando em Saúde, Ambiente e Trabalho pela UFBA
Também gostei do blog da Petrobras, e já vi varias, criticas, elogios e análise sobre o blog. E claro que também tem vários fatores políticos nestas opiniões, mais suas observações foram cristalinas sobre as criticas e seu comentário sobre o significado (ideologia) do blog me fez ver a de angulo mais agudo estas tendências, obrigado e parabéns.
Concordas.