Vivendo e aprendendo: o tempo e a persistência

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Escola de Teatro Martins Pena, Rio de Janeiro

A vida na faculdade inicia um processo de aprendizagem que nunca termina. A educação continuada é um dos meios para se avançar profissionalmente.

 

A minha saudosa mãe, que foi menina muito pobre em Cabo Frio, onde nasceu, me dizia toda vez que ela se deparava com algo novo no universo de conhecimento que ela desejava ter, e queria saber o que era, que “a gente nasce, cresce e morre, sem saber tudo”. E eu, que quando menino, em vez de estudar, só queria jogar bola e ir ao cinema, só fui me dar conta da extensão deste comentário quando já na faculdade, e sem saber o que fazer da vida.

Lá no campus, havia um constante movimento de estudantes, na busca de algum tipo de arte, e apesar da intensa repressão da ditadura. Grupos foram formados, para conquistar qualquer coisa. Eu já havia montado um cineclube antes, e o meu caminho natural foi me oferecer para montar outro, que, diga-se de passagem, funcionou muito bem, por cortesia, no anfiteatro do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, estabelecido dentro do campus, cujo diretor nos permitiu usar um moderno projetor de 16 mm.

Quem me conhecia, sabia que eu também lidava com áudio, e assim, quando o grupo de teatro foi formado, me pediram para montar, em fita magnética, a trilha sonora das peças. Era uma tarefa super simples: os atores escolhiam as músicas, na sequência desejada, e eu copiava tudo para uma fita de rolo.

Por coincidência, os ensaios eram feitos em um clube perto da minha casa. Lá, um professor, também ator, ensinava o chamado “Método de Stanislavski”, no qual o ator encarna psicologicamente o personagem. Nos ensaios, eu vi este método levar os colegas ao pânico, deitados no chão, acreditando em tudo o que o professor dizia que ia acontecer com eles.

E assim foi, e a encenação da peça que eu ajudei a montar um sucesso. Eu fiquei surpreso com a qualidade da performance dos colegas atores, uma prova inquestionável de que atores deveriam, preferencialmente, ser formados em uma escola de teatro antes de se lançarem na profissão.

A Claudia Jimenez, minha vizinha, filha de uma família sem muitos recursos, estudou na Escola Martins Pena, localizada no centro da cidade, que era estadual e o ensino gratuito.

Curiosamente, uma colega da Faculdade de Medicina, que, ao que eu saiba, nunca participou daquele grupo de teatro, foi a Zezé Polessa. Um belo dia, ao ligar a televisão, eu tomei um susto vendo a Zezé dando uma entrevista, contando que havia abandonado a medicina, para fazer teatro.

Mas, é assim mesmo. Quantos bons compositores não se formaram em alguma faculdade, alguns até largando o curso antes de se formarem, para seguir uma carreira de compositor ou autor?

O cinema precisa de atores que entendam o processo de filmagem

Uma das coisas que aprendi, observando a turma do teatro da faculdade, foi que atores de cinema trabalham de forma muito diferente, e esta foi, sem dúvida, uma das limitações que eu mais vi em atores brasileiros que acabaram no cinema. Uma das honrosas exceções foi a do falecido ator Paulo Porto, que por acaso morava em uma rua próxima.

O ator de cinema tem que ser amado pela câmera. Um dos meus professores de cinema dizia que isso era “fotogenia”, e citou a atriz Audrey Hepburn, que tinha esta capacidade fotogênica. Além disso, o ator de cinema tem que saber como empostar a voz, nas falas do roteiro, que deve ser a mais natural possível, enquanto que no teatro, o mesmo ator teria que levar em consideração a acústica do auditório onde a peça está sendo encenada, antes de dizer qualquer fala.

Um bom ator ou atriz é perfeitamente capaz de trabalhar no teatro e no cinema, a maioria pode dar preferência ao palco, por causa da interatividade direta com o público, mas o cinema tem, disparado, o maior alcance de público, a nível local e/ou mundial, e, portanto, não deve ser desprezado como veículo de comunicação.

As lições que a gente aprende com a vivência

A minha querida mãe tinha toda a razão no que dizia, e me deu um exemplo de como uma pessoa humilde e pobre pode se arrancar na vida. Ela citava o caso de um rapaz igualmente pobre lá de Cabo Frio, que chegou a dormir no banco da praça, mas que se esforçou e se formou em medicina, sendo depois um médico de sucesso.

Manda o bom senso, coisa que eu não tinha quando era menino, de observar com atenção a experiência dos mais velhos, porque deles vem a experiência de vida, que nos falta na meninice e adolescência, esta última uma época de rebeldia e desatenção sobre isso.

Um cientista não sabe tudo, apesar de parecer o contrário. Ele ou ela precisam olhar para os lados, para ver com clareza o mundo que os cerca. Cada mundo de conhecimento tem uma porta que precisa ser aberta. Mas, que depois de aberta, nem sempre precisa ser totalmente assimilada. O importante é a abertura de visão que mundos de conhecimento dão a quem enfrenta um universo diferente do que a profissão nos traz. Termos e conceitos novos tem grande importância na formação e no avanço cultural de qualquer pessoa.

E se alguma coisa se pode e, na realidade, se deve fazer é ter sempre a generosidade de compartilhar a experiência de vida com outras pessoas que estão em processo de formação.

Nas atividades em sala de aula nunca se deve passar ao aluno a percepção de que ele ou ela sejam incapazes de aprender. Eu digo isso com segurança, porque eu fui um aluno Marista, e lá no colégio tinha um tal “quadro de honra”, do qual eu nunca fiz parte. E eu sempre me lembrava disso toda vez que eu me vi de frente com alguém inseguro, e com medo de não assimilar a matéria lecionada. Ninguém precisa fazer parte do tal quadro, mas sim querer aprender e ter principalmente tempo para fazê-lo!

Segundo historiadores, Einstein, um dos maiores cérebros da humanidade, sofreu para se alfabetizar, e nem depois de se envolver com ciência foi reconhecido como um bom cientista. Agora, imaginem se ele não seguisse adiante…

O aprendizado de qualquer coisa exige tempo, cuja duração varia de indivíduo para indivíduo, e não pode comparar ou tornar como parâmetro alguém que assimila tudo mais rápido do que os outros! A curva de aprendizado, e a informática está aí para quem quiser experimentar isso, é às vezes íngreme e difícil para quem nunca tinha se exposto a algo novo.

Segundo uma colega da UFRJ, da área de psicologia médica, a chamada “maturidade” é um processo contínuo, que vai até o fim vida. Ela consiste, principalmente, de arrumar soluções para problemas. Eu ainda acrescento, sem ser da área: a trajetória de vida de qualquer um é tortuosa, quando se escolhe o caminho errado esta trajetória é interrompida e não se vai a lugar algum, mas quando se escolhe o caminho correto, a vida da gente avança, até o próximo obstáculo. [Webinsider]

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A arte de escrever um bom roteiro

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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