Arquitetura da Informação

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O tempo todo, em palestras ou listas de discussão, as pessoas perguntam o que de fato é Arquitetura da Informação. É a bola da vez, como já foram também webdesign e usabilidade.

Talvez porque Nielsen tenha dado a dica, na introdução do popular livro de Rosenfeld e Morville, de 2002: Arquitetura de Informação não é o único, mas é um dos mais importantes determinantes para o sucesso de um site ou intranet e para a boa usabilidade de um design. “Quanto mais as respostas estiverem localizadas nos lugares em que as pessoas procuram por elas, mais fácil o design será percebido pelos usuários e maior o sucesso do projeto”.

Quando resolvi centrar minha pesquisa nesse campo, sem ter lido nada científico a esse respeito ainda, eu tinha dois fortes motivos:

Um: na minha vida profissional ter percebido que o grande calcanhar de Aquiles do processo de desenvolvimento web estava ali, em como organizar e apresentar o conteúdo de forma que o usuário conseguisse navegar e encontrar tudo que ele quisesse facilmente.

Dois: percebi também que não bastava fazer A.I., aprender empiricamente. Era preciso estudar. Escolhi o olhar da Ergonomia. Em função da minha formação em desenho industrial (e a presença da minha “gurua” no mestrado da PUC), entendi que este seria o mais apropriado em relação à usabilidade, constrangimentos na execução da tarefa etc.

A Ciência da Informação, um campo muito maior, contém este item desde os primórdios, mesmo que talvez não fosse assim chamado. É… não se trata de um termo cunhado por Wurman como muitos afirmam. Ele tem um imenso mérito de popularizar o termo Arquitetura da Informação e recortá–lo com uma visão específica, mas não o criou.

Afinal, estamos falando de Informação.

Belkin (1976), numa visão bastante abrangente, diz que informação “é tudo que for capaz de transformar estruturas, em particular da imagem de um organismo, dele próprio e do mundo”.

Saracevic, também na década de 70, complementa: “Criação, aquisição, organização, disseminação e uso da informação são como uma parte vital do desenvolvimento, de forma que sem essas atividades, não existe desenvolvimento”. O autor possuía uma visão social relacionando a forma de poder do conhecimento, falando muito especificamente do valor da informação no desenvolvimento científico, técnico, econômico e social, principalmente em países em desenvolvimento. Não só a informação em si estava em jogo, como a manipulação dela.

No final do século XIX, Paul Otlet queria fazer com que qualquer conhecimento registrado fosse acessível àqueles que dele necessitassem. Com as parcas tecnologias existentes em seu tempo, Otlet criou um sistema de organização para disseminação da informação partindo do princípio que os registros humanos não se resumem a livros! Para enfatizar ainda mais seu vanguardismo, métodos utilizados para arquivamento e transferência de informações principalmente em bibliotecas já incorporavam os operadores booleanos.

Toda a preocupação então era com o acondicionamento, vamos chamar assim, da informação em unidades bibliográficas sabendo, já na época, que isso não estava restrito aos livros. O foco não era apenas o arquivamento da informação, mas sim sua disseminação, através de buscas, trocas e novos registros constantes. Como então fazer isso? Através de um trabalho exaustivo de padronização (sim, só é possível estabelecer uma organização da informação através de padrões – ISOs). Depois, estruturar essa informação sobre essas normas, utilizando instrumentos de indexação (thesaurus; vocabulário controlado).

Nos dias de hoje podemos dizer todos os pontos abordados por Rosenfeld e Morville foram e são também abordados por cientistas da informação: estruturação, organização, rotulagem, procura e gerenciamento, sem falar da informação em si, obviamente.

Claro que a visão do cientista da informação é uma visão abrangente e ao mesmo tempo específica, visto que normalmente esse profissional possui uma formação anterior em alguma área de conhecimento, como medicina ou história, por exemplo. Mas as questões básicas nascem aí. Questões como pensar a informação quase como um produto, seu estoque, sua retirada, fluxo, transmissão, comunicação, como forma de ampliar (disseminar) o conhecimento.

Qualquer coisa que os designers – gráficos, web ou de sistemas – fazem lida com informação. Podemos refletir um pouco sobre isso e valorizar o papel do cientista da informação no processo de desenvolvimento. Na hora de montar uma base de dados ou de desenvolver a interface dela, precisamos de padrões sim, mas não aqueles que estabelecem apenas os vínculos entre ações e dados, o fluxo da informação e suas hierarquias, mas de padrões que já existem para criar a arquitetura dessas informações. Autores e títulos em ordem alfabética, relações com itens afins, organização de conceitos em grupos, nomenclatura comum desses grupos, para tudo isso já existem fórmulas há muito tempo! Fórmulas que se complementam com o profundo conhecimento do assunto em questão.

Os designers carregam, não sei porque, uma enorme ansiedade e necessidade de saber tudo. De entender de tudo para poder solucionar todos os problemas que aparecerem pela frente. Essa outra abordagem da Arquitetura da Informação só me leva a crer, cada vez mais, que o design como desenvolvimento é uma atividade multidisciplinar. E que por mais que se recorte o universo da Arquitetura da Informação, é fundamental (no sentido de fundamentação) a aproximação com a Ciência da Informação. [Webinsider]

Renata Zilse (renata@maisinterface.com.br) é designer com mestrado em design e arquitetura da informação.

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2 respostas

  1. Gostei muito do texto. Parabéns Renata. Sou estudante de Biblioteconomia pela UFAL. É muito louvável o contexto dos últimos versos que a renata fez, pois ela enfatizou a importância que a Ciência da Informação tem em conjunto com Arquitetura da Informação, visto que, essas áreas são formadoras de Profissionais da Informação, claro que cada qual com suas particularidades.
    Queria fazer um comentário melhor, no entanto, temos um trabalho que sua temática preza entre Arquitetura da Informação e a Biblioteconomia, ou seja, esse trabalho me dará respostas e mais respostas. Mais uma vez, parabéns Renata pelo texto. Abraços. Felicidades a todos.

  2. Quero parabenizá-la por esta colocação bem feita neste artigo Renata. O cenário da AI é muitíssimo interessante, eu como estudante de Ciência da Informação estive a encher os olhos diante do contexto histórico que você utilizou para conjugar essa aproximação entre Ciêncida da Informação e a Arquitetura da Informação. Tudo isso só serviu para reforçar ainda mais a importância tanto da CI quanto da AI no cenário digital o qual pertencemos atualmente.
    Um abraço…

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