A Teoria dos Jogos no dia-a-dia das organizações

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Todos se cumprimentam, se falam, tomam cafezinhos, almoçam juntos e vivem em uma aparente harmonia. Isso acontece todos os dias e não se trata de um lugar em especial ou de acontecimentos isolados, mas de muitas organizações em qualquer parte. Pode ser onde você está ou onde estou, mas com certa observação é possível perceber que nem tudo vai ser dito, mostrado ou pensado.

Depois de refletir um pouco sobre o que acontece nas empresas atualmente – isto é, há um bom tempo – acredito que muitas das situações pelas quais cada profissional passa em suas jornadas diárias tem suas explicações na já célebre Teoria dos Jogos.

Certamente reflexo da feroz competição que assistimos em qualquer área do conhecimento, um contraponto à liberalização de idéias das correntes humanistas que pregam o compartilhamento do conhecimento – quase uma utopia.

A Teoria dos Jogos é uma série de ensaios dentro da Economia que atua sobre expectativas e comportamentos. Sendo mais abrangente, trata da cooperação. É uma análise matemática de situações que envolvam interesses em conflito a fim de indicar as melhores opções de atuação para que seja atingido o objetivo desejado. Sua origem está em jogos conhecidos, como o pôquer e o xadrez, por exemplo, mas o foco é muito mais amplo, relacionando–se a temas da sociologia, economia, política e ciência militar.

Os primeiros textos sobre a Teoria dos Jogos foram criados pelo matemático francês Émile Borel, que lançou as raízes desse estudo. Entretanto, foi o matemático americano John Von Neumann e o austríaco Oskar Morgenstern aqueles que conceberam, por volta da década de 20, uma teoria matemática (The Theory of Games and Economic Behavior) apurada mesclando economia e organização social aos jogos de estratégia. É aplicada em áreas tão diversas como logística, guerra e defesa, corridas presidenciais, negociações salariais, política, relações internacionais etc.

Uma relação do tema com o dia–a–dia das organizações em geral são os aspectos geralmente analisados pela teoria: as estratégias adotadas e suas conseqüências, as alianças possíveis entre os indivíduos (“jogadores”), o compromisso dos contratos, inclusive aqueles não formalizados (tácitos), a repetição de cada jogada, entre outras análises possíveis. Sem dúvida que um pouco de abstração é recomendada para que se entenda melhor sobre o tema.

Se fossem observados e analisados os atos de cada profissional em seu ambiente de trabalho, talvez os aspectos citados se desdobrem em outros não falados ou mesmo adormecidos, mas não esquecidos. Como todas as organizações, as empresas são um microcosmo em nossas vidas e têm seus sistemas – técnico e social, segundo classificação do Instituto Tavistock, de Londres – inter–relacionados. Nessa classificação, o sistema das tarefas e métodos de trabalho (técnico) e o das pessoas e suas características e relações (social) interagem nas organizações, movendo–as.

Qualquer alteração em um levará a repercussões em outro e visualizá–los de forma isolada não faz sentido. Dentro dessa abordagem, ambos sistemas seriam um pano de fundo para o desenrolar das atitudes estudadas na Teoria dos Jogos.

O dilema dos prisioneiros

Dentre os temas e jogos explorados por essa teoria, o Dilema dos Prisioneiros se destaca por oferecer uma visão simples e realista de como são medidas as relações humanas na atualidade. Popularizado pelo matemático Albert W. Tucker, trata de uma situação fictícia na qual dois conspiradores e cúmplices de um crime são presos e colocados em celas separadas e sem comunicação.

Eles devem escolher a opção que mais lhes favoreça em um interrogatório, mas o detetive lhes oferece um acordo: se apenas um deles confessar, estará livre e o outro pegará dez anos de cadeia. Se nenhum dos dois confessar nada, ambos ficarão por cinco anos na prisão. E ainda, se os dois confessarem, cada um ficará preso por oito anos. O dilema desse caso é que a melhor opção para um dos suspeitos, confessar o crime, pode ter conseqüências bem diferentes para os dois ao mesmo tempo. Já se mantiver o silêncio, o destino será desagradavelmente o mesmo para eles.

Assim, dentro da Teoria dos Jogos, esse exemplo clássico é uma boa metáfora para o problema da cooperação entre as pessoas dentro das organizações e a ação coletiva. Como se pode prever em diversas ocasiões, a melhor decisão individual pode prejudicar o grupo em sua totalidade, vide os casos recentes de escândalos nas multinacionais, dos quais a italiana Parmalat foi a última a explodir. E mais: se a situação se estende a muitas pessoas e todos se esforçam para conseguir o melhor para todo o grupo, é comum que um se esforce menos ou nem se incomode com a atuação dos demais, conseguindo, ao final, o mesmo benefício sem esforço.

Muitas vezes, em um instante de individualismo inconseqüente e ignorante, nos pegamos pensando sem sobressaltos que, se ninguém faz algo, não nos cabe fazê–lo também. E se ninguém não faz nada, nunca, e cada um pensa da mesma maneira, o bem coletivo se distancia ainda mais. O resultado é fácil de identificar, com uma crescente angústia organizacional, a falta de motivação e a dificuldade em cooperar quando todos estão no (tão falado e pouco visto) “mesmo time”.

A grande dúvida é se vale a pena fazer a parte que lhe cabe no conjunto ou estabelecer uma estratégia nociva em que obtenha vantagem máxima às custas dos outros. Em outras palavras, ser a estrela do espetáculo, nem que seja por méritos obscuros.

Enfim, a cada ano que passa, todos esses fatos nas empresas se repetem como um loop ao infinito. Segue em frente, mas sem direção. O impacto sobre cada indivíduo depende de suas idiossincrasias e seus ideais. Ideal é que tenhamos a competência e rapidez necessárias para marcar nosso espaço e sobreviver. Não obstante, para jogar o jogo sem se ferir é preciso, primeiro, saber as regras, entender como se comportar e estabelecer seu personagem do jeito mais conveniente possível. Ser real não vale tanto nesse jogo organizacional, ou não se poderá comemorar nada.

Quando todos estão sob a mesma consciência e agem de acordo com as mesmas diretrizes, ser autêntico e verdadeiro, mesmo que por convicções e caráter pessoais, destoa e soa inclusive pedante, por mais irônico que isso possa parecer. Afinal, o dia–a–dia nas organizações é mesmo um jogo, mas também um grande paradoxo. [Webinsider]

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Alexandre Bobeda (@dezbloqueio) é redator, professor, designer instrucional, autor publicado. Criou o dezbloqueio conteúdo & ideias.

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28 respostas

  1. OLÁ, MEU NOME É SIMONE ARAUJO DA SILVA
    FAÇO ADM NA UNICID, ESTE É UM TEMA NOSSO NESTE SEMESTRE. PORÉM AGORA POSSO ENTENDER MELHOR O QUE OCORRE DE FATO NAS ORGANIZAÇÕES. “TEMOS QUE JOGAR TODOS OS DIAS”, NESTE MUNDO TÃO COMPETITIVO.

  2. Olá! Gostei do artigo, me ajudou em algumas dúvidas, mas tenho duas dúvidas…

    1-Qual é o fundamento básico na compreensão do dilema do prisioneiro citado na teoria dos jogos?

    2-E qual seria um exemplo aplicavel na teoria dos jogos em situação real, e como posso explicar?

    Agradeço antecipadamente, por sua ajuda
    um abraço

  3. Olá! Gostei do artigo, me ajudou em algumas dúvidas, mas tenho duas dúvidas…

    1-Qual é o fundamento básico na compreensão do dilema do prisioneiro citado na teoria dos jogos?

    2-E qual seria um exemplo aplicavel na teoria dos jogos em situação real, e como posso explicar?

    Agradeço antecipadamente, por sua ajuda

  4. adorei muito claro as explicações.

    Qual é o fundamento básico na compreensão do dilema do prisioneiro citado na teoria dos jogos?

    E qual seria um exemplo aplicavel na teoria dos jogos em situação real, e como posso explicar?

    agradeço se pode me esclarecer

  5. Adorei seu artigo, mas a pergunta da Beatriz foi pertinente:

    Qual é o fundamento básico na compreensão do dilema do prisioneiro citado na teoria dos jogos?

    E qual seria um exemplo aplicavel na teoria dos jogos em situação real, e como posso explicar?

  6. Seu artigo ficou claro e objetivo. Muito bom.

    Que exemplo eu poderia aplicar à teoria dos jogos?

    Obrigda. Minha dúvida seria uma situação aplicável a esta teoria.

  7. Olá! Gostei do artigo, me ajudou em algumas dúvidas, mas tenho duas dúvidas…

    1-Qual é o fundamento básico na compreensão do dilema do prisioneiro citado na teoria dos jogos?

    2-E qual seria um exemplo aplicavel na teoria dos jogos em situação real, e como posso explicar?

    Agradeço antecipadamente, por sua ajuda. Ainda tenho muitas duvidas sobre o assunto…

    Beatriz.

  8. Preciso de uma ajuda URGENTE para solucionar um problema na teoria dos jogos:
    -Podemos pensar nas políticas comerciais dos EUA e o Japão como um dilema dos prisioneiros. Os 2 países estão considerando a possibilidade de adotar medidas econômicas que abram ou fechem seus respectivos mercados a importação. Suponha a seguinte matriz de payoff:
    Japão
    Abrir Fechar
    Abrir 10,10 5,5
    EUA
    Fechar -100,5 1,1

    a) Suponha que cada País conheça essa matriz e acredite que o outro atuará conforme seus próprios interesses.Algum dos 2 países tem uma estratégia dominante? Quais serão as estratégias de equilíbrio se cada País agir racionalmente visando maximizar seu próprio ben estar.

    B)Suponha agora que o Japão não esteja seguro que os EUA agirão racionalmente. Em particular, o Japão estaria preocupado com a possibilidade de que os políticos norte-americanos estejam dispostos a penalizá-lo mesmo que tal atitude não maximize o bem estar dos EUA. De que maneira isso poderia alterar o equilíbrio?

  9. estou analizando esse teorema, pois pretendo dele tirar minha mamografia e quem sabe futuramente minha tese de mestrado

  10. Adorei a sua explicacao sobre a Teoria dos jogos
    nela pude perceber que ela nao serve apenas nos jogos como xadres, pocker ou qualquer outro tipo de jogo, mais tambem nos ajuda no nosso dia a dia.

  11. Ótimo artigo. Estou montando um seminário sobre Teoria dos jogos, e este artigo serviu de mais uma fonte de informação, dessa vez com ênfase empresarial, algo que não tinha visto ainda. Preciso dea aplicação da teoria no Cálculo e/ou na Computação; se alguém souber de informações e sites por favor me enviar email. grato!

  12. realmente a teoria dos jogos tem um ampla aplicabilidade. Estou me familiarizando mutio com ela, bem mais pelo aspecto familiar do que profissional.
    Estou começando a estudar um pouco mais sobre essa teoria por causa da PA de economia da minha faculdade e achei interessante esse artigo alem de bem esclarecedor.
    Parabens…

    Dayane Bonatti
    Estudante de ciencias contabeis -3º periodo
    PUCPR- campus SJP

  13. Achei muito interessante o artigo. O assunto foi muito bem ditadizado para a compreensão de iniciantes. Achei, entretanto, que faltou citar o papel de John Nash no estudo do assunto.
    Parabens

  14. Gosto do artigo, não tanto pela parte académica, mas pelas metaforas, esta muito bem escrito. E embora sendo de outro país concorde em pleno com a discrição come nós agimos dentro das organizações. Cumprimentos

  15. Muito bom o artigo, gostei muito e quem quiser se aprofundar veja a cena do filme Uma mente brilhante onde ele fala da Teoria da Loira, muita legal, quem tiver mais artigos sobre o assunto pode me enviar por e-mail, obrigado e um bom dia a todos.

  16. Gostei muito desse artigo, é uma ótima introdução à teoria dos jogos. Uma das partes mais interessantes é a analogia à situação vivida pelos dois presos, que nos faz refletir sobre as decisões no dia-a-dia corporativo.
    Parabéns!

  17. Muito interessante e real o artigo a respeito da Teoria dos Jogos nas Organizacoes!
    Temos que estar ligados a todos os sinais presentes nos ambiemtes empresariais!
    Saudacoes
    Sergio Abu Jamra Misael

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