Falta de atitude, perigosa doença corporativa

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Vivemos tão preocupados na empresa com a capacitação dos talentos, investimos milhares de reais todos os anos em aprendizagem, treinamos o pessoal, preparamos os executivos, compramos livros, participamos de seminários e tantas outras iniciativas em torno do conhecimento.

Isso tudo realmente têm feito parte do dia–a–dia corporativo; contudo, algumas vezes nos deparamos com funcionários de atendimento em empresas do mercado, vendedores nas lojas e atendentes de balcões que contradizem todo o esforço despendido em torno do conhecimento.

Estaria parte do investimento feito na obtenção do saber não se mostrando útil na prática? Não! O fato é que o êxito maior da gestão do conhecimento – que está em utilizar o conhecimento em favor dos clientes – não é conquistado apenas pela obtenção do saber e sim, também, pelo alcance da motivação que leva o colaborador a aplicá–lo em prol de alguém e em benefício da empresa.

Fica evidente aqui que o desafio da gestão do conhecimento vai muito além da oferta e oportunidade de aprendizado.

Um dia desses fui procurar um depurador de ar para presentear um amigo que iria se casar. Como a loja oferecia dois modelos diferentes, decidi, visto que não entendia nada sobre eles, iniciar minha pesquisa perguntando a um dos vendedores qual seria a diferença entre os dois modelos. Fiquei surpreso em obter como resposta que a diferença estava no tamanho. Não bastasse a resposta inútil, uma vez tratar–se de uma característica aparente e notória, percebi que o vendedor parecia ter completado seu trabalho e se mostrou satisfeito com o resultado alcançado.

Insatisfeito com a resposta obtida, procurei outro vendedor, que de maneira completamente inversa e satisfatória me apresentou informações bem consistentes. Ele disse: “O modelo B possui um design inovador. A capa de sucção é deslizante. Oferece maior capacidade de sucção, com diferentes velocidades, uma para cada necessidade. O filtro é uma espécie de malha metálica de carvão, oferece baixo nível de ruído e um moderno sistema de iluminação. Além de maior capacidade de sucção, comparado ao modelo A, o modelo B é mais leve e consome menos energia que o modelo A”.

Além dessas informações, o vendedor ligou o aparelho para comprovar o baixo ruído, mostrou as velocidades de sucção e o filtro. Acrescentou ainda informações sobre serviços técnicos oferecidos pelos fabricantes (A e B), além de preços, detalhes técnicos e características as quais não consigo lembrar.

Realizei a compra. E sempre que volto àquela loja, faço questão de ser atendido pelo mesmo vendedor. Contudo, o mais importante a enfatizar não é o êxito da segunda abordagem de venda e nem mesmo o fato de que eu poderia nunca mais voltar àquela loja.

O que pretendo chamar a atenção é que a insatisfação do primeiro atendimento ocorreu não por falta conhecimentos, mas pela falta de vontade de colocá–los em prática, o que caracteriza um sério problema das empresas e um desafio à gestão do conhecimento. Por diferenças no padrão de entrega do saber muitas empresas continuam correndo o risco de perder bons clientes todos os dias.

Desde então, tenho observado diferenças alarmantes no atendimento proporcionado por lojas do comércio e empresas em geral e sempre me pergunto: – Por que prosseguimos com decepções deste tipo em uma época de tamanha competitividade e dificuldade empresarial?

Teoricamente, todos os funcionários recebem o mesmo treinamento, são preparados para “enfrentar” os mesmos desafios e teriam as mesmas condições de prestar boa qualidade de atendimento. O que então explicaria diferentes entregas de conhecimento e informação em funcionários da mesma empresa?

A diferença entre aqueles que superam as expectativas e os que estão longe disso está muito atrelada a atitude baseada no conhecimento. Àqueles que perderam a oportunidade de fazer a diferença, faltou–lhes a vontade e não o saber. Faltou a atitude para aplicar o saber, que depende muito de motivação.

Todos reconhecemos que há uma enorme diferença entre aquele que sabe e o que não sabe. Contudo, é interessante pensar que um abismo enorme também existe entre aqueles que sabem e não aplicam o conhecimento que possuem e aqueles que igualmente conhecem e aplicam o saber. A vontade e a motivação dos colaboradores também são ingredientes fundamentais ao êxito de qualquer empreendimento.

Assim, a atitude baseada no conhecimento depende muito dessa vontade e motivação genuína. Apenas saber não é garantia para o sucesso e muito menos condição para descanso. Saber o que os funcionários sabem também ainda não é uma garantia, principalmente porque a falta de motivação pode interromper a entrega do saber e anular todo o esforço da gestão do conhecimento.

É certo que a disposição para aprender se revela mais natural do que a disposição para aplicar o conhecimento. Neste contexto, a disposição natural para aprender também não basta. A disposição para aplicar o saber é fundamental. Posturas favoráveis e atitudes baseadas no conhecimento devem ser trabalhadas com bastante responsabilidade pelas empresas.

É natural aprender mais do que se pode aplicar de fato. Contudo, esta também não pode ser uma desculpa para deixar de aplicar o saber em benefício dos clientes e demais stakeholders. Antes mesmo que se venha constatar pelos clientes que o conhecimento não está sendo entregue ou aplicado devidamente, qualquer empresa deve se antecipar e tentar resolver ou amenizar esta perigosa doença corporativa.

A falta de iniciativa em favor da aplicação do conhecimento, que mata a empresa aos poucos e invalida o esforço da gestão do conhecimento, é tão grave quando não saber. A empresa que sabe, mas não mobiliza e aplica o saber, é igual a empresa que nada sabe.

Você já imaginou preparar a terra, plantar e cuidar de uma extensa área de cultura e deparar–se dias antes da colheita com uma praga que come e destrói todo o fruto do seu trabalho? Assim é a desmotivação em relação à gestão do conhecimento. Ela destrói a produção do saber, impede que o conhecimento seja ampliado, disseminado e aplicado na empresa, neutraliza o surgimento de idéias, desperdiça clientes e negócios e arrasa qualquer empreendimento.

Quantas vezes vamos às lojas, aos bancos, às grandes prestadoras de serviços de telecomunicação, saneamento básico e energia e esperamos encontrar alguém disposto a nos dar atenção de qualidade e nos decepcionamos? Quantos deles se dispõem a nos instruir com conhecimento? Quantos deles estão dispostos a sorrir simplesmente? E quando precisamos de algo e nos deparamos com pessoas que sabem muito bem o que devemos fazer, mas ao contrário de nos orientar, preferem se calar porque isso não faz parte da sua função?

De que adianta investir na obtenção do saber e fechar os olhos para a importância da aplicação dos conhecimentos? Pense nisso ao planejar suas iniciativas de gestão do conhecimento.

Superar a indiferença e atingir a motivação em benefício da aplicação do saber é mais um grande desafio da gestão do conhecimento que se descortina à nossa frente. [Webinsider]

Saulo Figueiredo (sfigueiredo@soft.com.br) é Pós-graduado em Engenharia da Informação, professor de Pós Graduação e Consultor da Soft Consultoria. É autor do livro Estratégias Competitivas para a Criação e Mobilização do Conhecimento Corporativo lançado pela editora QualityMark e co-autor do Livro Gestão de Empresas na Era do Conhecimento lançado em Portugal.

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7 respostas

  1. Prezado Saulo,

    Boa Tarde!

    Achei a apresentação do seu texto impecável. conclui o curso de administração em 2009, por não saber qual faculdade fazer, escolhi Administração de Empresas, confesso que foi sofrido concluir o curso, porém fui até o fim. Sempre senti vontade de ajudar pessoas e sentia que o curso de Administração era voltado para o “capitalismo”, porém, percebi que administração servia para a vida. Minha base educacional sempre foi frágil, e sentia-me um peixe fora d’agua. Fui persistente e consegui aproveitar o máximo que pude. Hoje, com os conhecimentos que obtive, consigo dimensionar quanto o meu esforço foi importante. Contudo, atuo em uma empresa na área da saúde há 08 anos, iniciei como auxiliar administrativa, após um ano e meio participei de um processo seletivo para secretária, então, foi ai que pensei, preciso de uma graduaçãoe e fui fazer o curso de Administração de Empresas. A questão é, sempre fui pró-ativa, comprometida e minhas atitudes sempre encomodava os profissionais mais antigos da empresa, que julgavam e falavam que era burrice minha tanto esforço e dedicação, pois as coisas na empresa nunca iria mudar e a valorização pelo meu esforço nunca seria visto. Enfim, minha conciência era meu guia, e o compromisso contratual que assumi com a empresa era questão de honra e meus valores sempre me fortalezeram. Não recebia elogios, mais percebia que, me olhavam diferente, com o tempo os boicotes e retalhações eram constantes, continuei trabalhando da mesma forma, porém sem me expor muito, para não perder o emprego, pois os meus colegas que já trabalhavam na empresa á anos ficavam incomodados com o meu esforço. Percebia uma desmotivação sem dimensão, das diversas áreas e funcões. Hoje estou pesquisando a área de psicopedagogia e percebo o quanto a educação é importante para a motivação do individuo, mas sempre será necessário ter atitude.

    Pergunta:
    O que você acha da Psicopedagogia Empresarial?

    Abçs
    Mª Rúver

  2. Obrigado Cleber pelo elogio e pela pergunta também.
    TI certamente possui um papel importante e muito pode apoiar as iniciativas de Gestão do Conhecimento nas médias e grandes empresas principalmente. Contudo, há de se tomar os devidos cuidados para se evitar as armadilhas do mercado e a utilização indevida de TI quando se pretende atingir uma GC genuína. Muitos da indústria de TI aproveitando-se do momento mercadológico favorável de GC, ofereceram e venderam gatos por lebres. Seus clientes muito provavelmente não atingiram seus objetivos. Um dos erros mais freqüentes nesta área é superestimar as ferramentas de TI em detrimento das pessoas. As pessoas são os verdadeiros produtores e usuários do conhecimento nas organizações. Eles devem ser o alvo principal e central de GC. Estas sim transformam conhecimento e informação em resultados efetivos. Ferramenta é ferramenta e ponto. Deve ser encarada como um meio e não como um fim.
    Costumo dizer que o envolvimento responsável de TI na GC é um passo importante, mas não o passo mais importante. E está muito longe de ser considerado o único passo relevante.
    Recomendo consultar na Internet outros artigos de minha autoria que ajudam a responder a sua pergunta que é tão recorrente e igualmente importante.

    Artigos:
    1- Para entender o que é Gestão do Conhecimento, publicado no Webinsider.
    2- Desmistificando a gestão do conhecimento, publicado no Webinsider.
    3- Vislumbrando uma “Fórmula” para a Gestão do Conhecimento, publicado no KMOL.
    4- A TI como Alavanca do Capital Intelectual – parte 1 e parte dois. (também publicado no Webinsider.
    Boa leitura.
    Um abraço

    Saulo Figueiredo

  3. Prezado Saulo,

    Primeiramente quero parabenizá-lo por sua ampla sabedoria neste tema tão impolgante que é a GC. Realmente o assunto é extenso e muito gostoso de se discutir. São coisas que estão em nosso cotidiano, no dia-a-dia, e nem damos valor.

    Na sua opinião, qual o papel da Tecnologia da Informação na GC ?

    Forte Abraço !!!

  4. ola bom dia Saulo estou fazendo uma pesquisa sobre
    o C,H,A conhecimento habilidade e atitude.
    li seu artigo gostei muito ele aplica muito bem o conhecimento com a atitude.
    voce teria algum artigo que relatasse tambem a habilidade? só para complementar ..

    obrigada

  5. Ola Saulo! Venho parabenizalo pelo seu trabalho que tenho certeza ser muito importante não só para as empresas, quanto para aqueles que buscam crescimento profissional.
    Gostaria se possível de sua opinião e até mesmo orientação, de como exercer minha atividade utilizando a Gestão do Conhecimento.

    Grande abraço

    DINARTH DUARTE DE AZEVEDO

  6. Boa Tarde Moacir

    Obrigado pelos comentários.

    Infelizmente não tenho uma matéria específica sobre o tema do artigo para lhe indicar. Sugiro consultar o livro: Figueiredo, Saulo – Gestão do Conhecimento – Estratégia Competitivas para a Criação e Mobilização do Conhecimento – QualityMark Ed. 2005

    Além disso, recomendo a busca na web por temas correlatos como, por exemplo: Empowerment, pro-atividade e aplicação do saber ou uso do conhecimento.

    Um abraço

    Saulo Figueiredo

  7. Ola!!!
    Sou me chamo Moacir e sou aluno do curso de Zootecnia do CEFET-Bambuí em Minas Gerais.
    Este artigo me foi apresentado em uma aula da disciplina Gestão de Pessoas.
    O achei muito interessante que resolvi fazer meu trabalho de conclusão de modulo sobre este assunto e gostaria de saber se você teria algum material sobre o assunto pra me passar?
    Desde já grato.

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