OhmyNews, exemplo de jornalismo open source

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Bastou que aparecessem aqui no Webinsider algumas idéias de um jornalismo feito por todos e para todos – o talvez chamado Jornalismo Open Source – que comunidades de jornalistas e pesquisadores dessem o tom de satisfação ou repúdio à novidade. Seria ingênuo pensar que a reação fosse diferente.

Autorizar qualquer pessoa a fazer aquilo que você levou quatro anos aprendendo parece, no mínimo, uma afronta! E assim alguns jornalistas da web ergueram os riscos da falta de credibilidade e da balbúrdia que esse novo estilo de imprensa pode gerar.

No início de abril, o OhmyNews (OMN) abriu oficialmente sua “filial” internacional. Mais do que uma tentativa, o projeto de Oh Yeon Ho fundado na Coréia do Sul no dia 22 de janeiro de 2000 é a consolidação de um modelo em que “cada cidadão é um repórter”.

Ecoando este bordão para além do território coreano, Oh lançou o desafio de contar histórias com jeito de notícia a qualquer internauta. O OhmyNews International (OMNI), online desde junho de 2004, possui um sistema de envio de artigos e controle de trabalho para cada cidadão–repórter.

Após um cadastro detalhado, onde até a reprodução do passaporte, carteira de habilitação ou identidade local é requerida via mail ou fax, o membro tem seu pedido avaliado pela coordenação do projeto e, uma vez autorizado, pode submeter artigos acompanhados por arquivos de imagem, vídeo e áudio. O “Reporter Desk” mantém o autor das matérias informado sobre o status de cada trabalho, o número de acessos e comentários dedicados às suas matérias, as mensagens recebidas através do site e ainda presta contas do “cybercash” ganho com as publicações.

A edição, aliás, é um dos pontos fortes do OhmyNews International. Uma dupla de profissionais composta por Todd Cameron Thacker e Jason Sparapani trabalha para adequar os textos vindos de toda a parte do mundo a um inglês compatível à linguagem jornalística padrão.

A revisão e checagem de dados é uma etapa muito delicada e que consome grande parte da dedicação dos editores. A eficiência, nesse caso, independe do tamanho da equipe. Oficialmente, o OhmyNews International conta com cinco pessoas: um editor coreano, um diretor de negócios, um tradutor de japonês–coreano além de Thacker, em Seul e Sparapani, em New Orleans. Pergunto a Todd Thacker se esses profissionais são jornalistas e ele reafirma a filosofia do OMN:

“Are they journalists? Well, every citizen is a reporter, but if you take the traditional definition, then the Korean desk editor and myself are journalists.”

Atualmente, o OMNI recebe cerca de 20 artigos/reportagens por semana, um número que cresce atendendo às expectativas dos coordenadores do projeto.

A honestidade é um comportamento lembrado com certa freqüência, especialmente no ato da publicação. Ao preencher o formulário que enviará a matéria aos editores, o cidadão–repórter é convidado a explicar como fez o trabalho – se apenas cruzou dados publicados por outros veículos, se apurou pessoalmente as informações e até se a peça já foi publicada.

Concordar com o código de ética do OhmyNews é requesito básico para ser aceito como cidadão–repórter. Entre as exigências está a citação exata de declarações obtidas com as fontes, a não–inclusão de informações falsas ou difamações nos artigos, o comprometimento em não usar suposições como base para notícias, a apuração de dados apenas por meios lícitos e até mesmo o compromisso em desculpar–se publicamente quando alguma informação incorreta for publicada.

Mesmo assim, há quem possa perguntar: “Como saber se há informações erradas se apenas duas pessoas dedicam–se à edição e checagem de dados?” Nessa hora não só o OhmyNews caminha sobre a navalha, mas qualquer site de conteúdo aberto fragiliza–se diante do perigo das inverdades.

Quando Ward Cunningham criou o primeiro Wiki nos anos 90, sustentou a conquista da credibilidade pela “síndrome da janela quebrada”. Dan Gillmor, em “Nós, os media” recupera essa história contando que “Se numa rua houver janelas com vidraças partidas que não são substituídas, a rua deteriora–se porque os vândalos e outros indesejáveis partirão do princípio de que ninguém se interessa. (…) Quando os vândalos sabem que alguém reparará os danos dentro de minutos, não deixando, portanto, que eles estejam à vista do mundo, os indesejáveis tendem a desistir e a tentar a sua sorte em lugares mais vulneráveis”.

Thacker e sua equipe de cidadãos–repórteres do mundo inteiro têm mantido as vidraças do OMNI intactas, mostrando que o Jornalismo Open Source pode ser mais que uma idéia, mas um fato. [Webinsider]

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<strong>Ana Maria Brambilla</strong> (anabrambilla@gmail.com) é jornalista, mestre em comunicação e autora do blog <strong><a href="http://www.anabrambilla.com/blog" rel="externo">Libellus</a></strong>. No Twittter é <strong><a href="http://twitter.com/anabrambilla" rel="externo">@anabrambilla</a></strong>

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3 respostas

  1. Fantástico! Parece que o novo Globo-on-line está usando algo parecido, numa escala muuuito menor.

    Será este o futuro do jornalismo na Era da Informação?

    Quem viver verá 🙂

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