Enquanto reprodutores da própria vida somos, coletivamente, anteriores aos patrões.Nos tornamos humanos depois de aprender a agir em coletividade. Na caça. Na agricultura. Até dividirmos as funções entre produtores, distribuidores e consumidores finais. Os gerentes dos processos assumiram as rédeas. Se nomearam patrões. E nós acreditamos. Estava pronta a hierarquia, a seqüência de ordens, a cadeia de comando.Hoje temos tecnologia suficiente para retomarmos, com naturalidade, nossa alma coletiva. Você nunca me viu mais gordo e mesmo assim lê e reflete sobre meus textos. Pode, até, usar minhas sugestões num projeto seu. Terei contribuído com cenários ou sugestões para uma nova fase produtiva de sua vida sem nunca ter sentido a presença de seu olhar.
O patrão (ou chefe, ou dono) é figura que se materializa como cogumelos nos terrenos adequados. Só existe porque se alimenta da gente, de nossa disponibilidade para produzir, da necessidade que nos empurra para a satisfação imediata de comida, de bens, de conforto.
A oportunidade faz o patrão. Ou tem feito ao longo dos últimos duzentos anos. Até agora.
Hoje, o patrão só consegue existir passando primeiro por nosso cérebro. Depois nossos músculos. Depois, eventualmente, nos ocupando no controle de algumas máquinas.
Cada vez mais a reprodução da nossa existência passa por ações que envolvem conhecimento. Muitos donos de empresas já perceberam isso e cedem para seus aliados a participação no resultado dos empreendimentos através de ações.
Essa foi a grande motivação da Microsoft em abrir seu capital. Fundada em 1975, a Microsoft abriu seu capital em 1981 quando estava plenamente capitalizada. Analistas provaram que a abertura de capital foi uma única atitude que permitiu que a empresa sobrevivesse até hoje e se tornasse uma das mais poderosas do mundo.
“Quando abrem seu capital, essas empresas não o fazem para levantar fundos a fim de construir fábricas. Elas o fazem para monetizar o valor dos programas de aquisição de ações de seus funcionários”, escreve Thomas A. Stewart, no livro “Capital Intelectual”.
Aqui no Brasil só recebemos ordens, tapinhas nas costas e demissões. A indiferença dos patrões é tamanha que nos faz pensar em quão inoperantes somos em mostrar para eles nosso valor. Sim. Agregamos valor para os empreendimentos enquanto executores, ao vestirmos a camisa da empresa. Mas não é só isso. Enquanto consumidores, também legitimamos produtos e serviços. E continuamos a garantir sobrevida a estes patrões inoperantes enquanto cidadãos, chefes de família, educadores etc.
É hora, pois, de roubar a alma a estes patrões que nos atormentam nos últimos duzentos anos.
A regra é simples. Vamos começar a pensar antes de executar toda e qualquer ordem. Vamos avaliar o quanto de fato ganhamos com nossa neutralidade diante de um comando estúpido. Vamos, nós mesmos, nos aliar com ex?comandados e tentar coletivamente buscar alternativas.
É difícil. Muito difícil. Mas se até seu patrão consegue, por que não você? [Webinsider]
.
Marco Roza
<strong>Marco Roza</strong> é jornalista e diretor da <strong><a href="http://www.mdm.com.br/" rel="externo">MDM</a></strong>.