Comunidade + desenvolvimento local = poder

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Basta ligar a televisão para que temas corriqueiros sejam citados nos noticiários. É a corrupção que insiste em querer destaque, é a fome e o desemprego que sempre têm cadeira cativa em qualquer pauta jornalística.

Nas rodas de amigos ou no ambiente de trabalho também existem algumas frases clássicas, que hora ou outra aparecem: “Vocês viram que os números do desemprego aumentaram novamente?”, “Seria muito importante que investíssemos mais em educação”, “Como que um país como o nosso, com tantas riquezas naturais, gente trabalhadora e esforçada, não consegue seu lugar de destaque entre os primeiros do mundo?”.

Todas estas frases citadas fazem parte de uma realidade que o brasileiro escuta e repete desde jovem. Porém, se analisarmos friamente a situação, quais foram as atitudes que tomamos para mudar este quadro? O que nós, cidadãos brasileiros, fizemos para sair deste ciclo, além de esperar por providências de pessoas mais poderosas?

Algumas pessoas até possuem boas idéias, mas, por inúmeros motivos, as boas idéias acabam perdidas no íntimo de cada um. Vale ressaltar que esta realidade não é a mesma em todos os lugares. Alguns municípios do interior dos estados encontraram uma boa oportunidade para promover uma mudança significativa nesta situação, por meio do desenvolvimento de um PDL – Programa de Desenvolvimento Local.

O poder dos Programas de Desenvolvimento Local

Este tipo de programa é utilizado para atender às necessidades de uma localidade, concentrando a força dos indivíduos da sociedade local para o desenvolvimento da região.

Segundo a edição número 111 do programa Conexão Sebrae, exibido em 22/09/2001: “O objetivo do Programa de Desenvolvimento Local é exatamente esse: ajudar as comunidades a se organizarem e, elas próprias, decidirem o caminho a ser seguido, aproveitando os recursos locais”. Completando o raciocínio, Tenório (2002), explicou que: “Esta estratégia tem sido praticada nos últimos anos por governos locais a fim de atender o modelo macroeconômico vigente, o denominado neoliberalismo, que privilegia o focus e não o universus, o privado e não o público”. Um PDL tem o poder de mudar a maneira de pensar de uma sociedade, tornando–a mais competente para encarar o fato de que cada pessoa tem que procurar mostrar o seu papel dentro do sistema econômico–social do atual cenário existente no globo.

Basta um pouco de pesquisa para descobrirmos que, em muitas localidades, principalmente municípios do interior dos estados, os principais empregadores são os órgãos públicos ou empresas de cidades vizinhas. Este quadro faz com que as pessoas passem a ter uma grande dependência das políticas públicas. Qualquer necessidade de melhoria depende de alguma medida dos governos. Dentre os motivos para que empresas não se instalem nestes locais estão a falta de incentivos fiscais, a localização pouco privilegiada, fatores políticos e a pouca mão–de–obra qualificada.

Muitas vezes, o que acontece é que pouco acesso à informação de qualidade e barreiras culturais construídas na mentalidade da população fazem com que as pessoas passem a dedicar seu tempo na adaptação da situação, buscando formas de como se encaixar num esquema já proposto há muito tempo.

Sendo assim, não concentram esforços na busca por melhores alternativas ao sistema atual. Este comportamento compartilha de um mesmo erro que negociadores cometem quando utilizam a negociação baseada em posições, pois assumindo uma única posição não se pensa em alternativas para a solução de um problema, o que torna, no caso de uma negociação, muito mais complicado um desfecho positivo. [Fisher, 1994] “A posição em uma negociação freqüentemente obscurece o que realmente se quer. Estabelecer compromissos entre as posições não tende a produzir acordos que atentam efetivamente às necessidades humanas que levaram as pessoas a adotarem aquelas posições”.

Em comunidades com os problemas apresentados, para que seja promovida uma mudança, é fundamental o papel do agente modificador. Esta figura pode ser representada por qualquer indivíduo que consiga mobilizar e/ou articular a comunidade para trabalhar em prol da execução do PDL.

Ele deve transmitir conhecimentos como os contidos neste artigo e ainda contagiar as pessoas através da exposição dos benefícios que podem ser conquistados se todos contribuírem. Isto é, deve transformar os cidadãos em agentes pró–ativos para que assim seja promovida toda uma mudança cultural, fazendo com que a maioria passe a trabalhar para desenvolver fontes de renda alternativa, deixando de buscar apenas uma colocação nas empresas.

Sobre a ocupação e a ocupação de cargos, Schwartzman (2003), comentou: “Perai. Se a gente entra na escola, estuda e um dia alguém dá um emprego pra gente, quem é que dá o emprego pra quem deu o emprego pra gente?”. “Cada vez mais, cada um precisa ser dono do seu próprio emprego, inventar o seu próprio negócio, encontrar o seu único caminho, compreender sua função na cadeia de serviços e fazer com que os outros percebam a sua relevância no sistema”.

Para o sucesso de um PDL é necessário muito mais que boa vontade e participação. É necessário planejar, estruturar e monitorar todos os processos do projeto. Além disso, deve ser criada uma série de estratégias. Dentre estas, algumas merecem destaque, como a pesquisa por programas semelhantes que tenham sido desenvolvidos em outras localidades e a busca de apoio financeiro, tanto para a estrutura do projeto, quanto para aqueles que aderirem a ele.

Outro fator primordial é a criação de parcerias, seja com escolas, faculdades, empresas, municípios vizinhos ou qualquer outro órgão que possa contribuir. Para o sucesso do projeto, é considerada indispensável a participação de órgãos de apoio como Senac e Sebrae, que estudam, divulgam e apóiam ações de empreendorismo há muito tempo.

A estratégia deve contemplar a tecnologia em posição de destaque, pois por meio dela é possível atrair a atenção da população e então comunicar os objetivos e processos do PDL, informar e promover uma grande mudança no dia–a–dia das pessoas. A tecnologia é um fator chave para tirar as pessoas da zona de conforto (em muitos casos, conformismo) e mostrar a elas uma grande variedade de papéis que possam assumir para criação de um ambiente mais favorável para o desenvolvimento da sua comunidade.

Dentre alguns casos de sucesso de utilização de tecnologia, vale destacar o projeto Piraí Digital, do município de Piraí – RJ. Em 1997 este pequeno município, com 22 mil habitantes, se deparou com a situação em que 1200 vagas locais foram extintas com a privatização da companhia energética Light, situada no território da cidade. O prefeito da cidade, Luiz Fernando de Souza, resolveu encarar o desafio de recuperar as vagas perdidas e assim surgiu o PDL de Piraí, que possuía três frentes principais:

a. Condomínios industriais, com a criação de grandes galpões com infra–estrutura favorável e baixas tarifas.

b. O desenvolvimento do pólo de piscicultura, que criou uma estrutura onde os criadores locais poderiam beneficiar o peixe, transportá–lo adequadamente e comercializá–lo.

c. Cooperativa Multifuncional, que reunia pequenos artesãos e profissionais autônomos.

Com este PDL, em 2001 Piraí ganhou o prêmio Gestão Pública e Cidadania, uma iniciativa da Fundação Getúlio Vargas e do BNDES. Em seguida o prefeito idealizou o projeto Piraí Digital, em que uma rede de internet pública, cobrindo toda a cidade, poderia gerar inúmeros benefícios para a população.

Para a realização deste projeto a prefeitura pôde contar com o apoio de muitos parceiros, como a Universidade Federal Fluminense (consultoria em tecnologia), o Sebrae e muitos incentivos da iniciativa privada, o que possibilitou a compra de equipamentos para a rede e os computadores que foram espalhados por toda a cidade.

As 1200 vagas foram recuperadas após quatro anos desde a implantação do PDL de Piraí. Com a implantação do projeto Piraí Digital, a cidade conquistou, entre outros prêmios, o Top 7 Intelligent Communities, em junho de 2005 na cidade de Nova York.

É impressionante o poder de um Programa de Desenvolvimento Local, pois uma comunidade pode chegar a conquistas que jamais passaram pela cabeça dos cidadãos. Toda a cultura e forma de pensar desta sociedade poderão evoluir drasticamente. Sociedades que conseguem colocar um PDL em prática demonstram o que realmente pode ser feito para que o Brasil passe a criar projeção real no cenário mundial, mostrando o quanto sua população pode evoluir. [Webinsider]
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Referências Bibliográficas:

FISHER, Roger. Como chegar ao SIM: A Negociação de acordos sem concessão. Rio de Janeiro, IMAGO, 1994.

TENÓRIO, Fernando Guilherme. Gestão Pública ou social? Um estudo de caso. Lisboa – Portugal. VII Congresso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, 2002.

Sites:

SCHWARTZMAN, Michel Lent. No Webinsider.

Piraí Digital

Software Livre Brasil

Sebrae

Conexão Sebrae

Instituto Cidadania, do Banco do Brasil.

Carlos Henrique Moretti Gorgulho (carlos_gorgulho@yahoo.com.br) atua há 13 anos com gestão de informação e atualmente é gerente de BI da rede de supermercados Dia%.

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Uma resposta

  1. Também tenho formação academica de Economia Doméstica e aprendi muito sobre o assunto de desenvolvimento de comunidade. A comunidade não sabem o força que tem quando voltados para o mesmo interesse. Parabens pelo que conseguiu realizar neste projeo. Após 20 anos de formada começo a ver e sentir que ainda há tempo para as comunidades tanto rural quanto urbana despetar.

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