Sou um jogador de handebol, trabalho com internet

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Não há nada mais difícil para quem trabalha com criação online do que explicar para os pais o que faz. Para os avós, então, nem se fala. ?Meu neto, você está trabalhando com o quê agora, hein? É com computador, né?? Sem contar aqueles tios chatos que só aparecem no Natal e ainda acham que você faz assistência técnica. ?Tá crescido, hein? (tapinhas fortes no rosto). Maior que eu! Lembro quando você era da altura dessa mesa aqui, ó. Agora me diz uma coisa: tua mãe me falou que você tá trabalhando com informática, né? Pô, comprei um Home Theater e não tô conseguindo instalar as caixas de som. Será que você não podia dar um pulo lá em casa e??.

Por essas e outras, sempre busquei formas didáticas e até metafóricas para fazer os habitantes dos troncos mais altos da minha árvore genealógica entenderem, de uma vez por todas, o que eu faço da vida. Tentei até navegar uma vez junto com eles, mas a barreira tecnológica atrapalhou ainda mais ? e me fez ficar horas respondendo a perguntas do tipo ?Mas se é tudo de graça, como esse pessoal ganha dinheiro??. Comecei, então, a generalizar dizendo que trabalhava com publicidade. ?Mas é anúncio de revista dentro do computador??. Aí cansei e resolvi dizer só que trabalhava com internet. ?Como assim? Você faz aquelas coisas do Gugôu? É assim que se diz, né? Viu como eu sei!?

Como o didatismo fracassou, parti para as analogias. ?Vó, sabe os comerciais de TV que passam no intervalo da novela? Então, eu faço a mesma coisa, só que para as pessoas verem no computador.? Nada. Deu até pra ouvir ela pensando: ?Ué, não sabia que computador tinha controle remoto??. Resolvi apelar pro universo dela: ?Sabe quando você vai ao supermercado e compra um produto? Não tem na embalagem, escrito em letras miúdas, um endereço pra você saber mais sobre ele? Então, eu trabalho com isso.? Tadinha. Olhou pra mim com uma carinha de pena, como se o netinho querido dela tivesse virado operador de telemarketing.

Quando já estava quase desistindo de tudo ? e havia decidido que, a partir de agora, se alguém perguntar vou dizer que “manipulo próteses dentárias” (as pessoas costumam ter medo de quem “manipula” coisas) ? eis que outro dia, voltando de um cliente, me deu um estalo: sou um jogador de handebol. Agora foi você que não entendeu nada, né? Calma, eu explico.

O Brasil é, notoriamente, o país do futebol (isso eu não preciso te explicar). Dessa forma, todos os outros esportes são, de certa forma, marginalizados em nosso país. Por mais que vôlei e basquete tenham um público cativo grande ? que é fiel e acompanha de perto os campeonatos ?, nada se compara à comoção nacional gerada pelo esporte bretão ? tanto que até os próprios praticantes de outras modalidades têm seus times de coração. Essa sombra faz com que a grande massa não conheça mais a fundo os outros esportes, e os que mais sofrem, paradoxalmente, são exatamente aqueles que se parecem com o futebol.

Fico imaginando um jogador de handebol explicando para parentes distantes que foi contratado pelo Flamengo. ?Que legal! Você vai jogar esse domingo no Maracanã? O Galvão Bueno vai falar seu nome??? Vou até pedir pro teu primo programar o videocassete pra gravar!?. Aí ele tem que voltar atrás e explicar que, na verdade, ele joga um esporte pa-re-ci-do com futebol e que, mesmo estando em um grande clube, seus jogos não vão ser no Maracanã e as pessoas não vão poder assistir pela TV. E o tio distante, pra não ficar chato (tarefa quase impossível para tios distantes), vai dizer: ?Bom, o que importa é que você está em um clube grande, né meu filho? Parabéns, viu? Todos aqui estamos muito orgulhosos de você!?.

É mais ou menos assim que me sinto quando digo que trabalho em um dos maiores grupos de publicidade do país atendendo clientes multinacionais. ?Já saiu algum anúncio seu na Veja??. Não, não saiu. Nem vai sair. Aí preciso explicar que uso a mesma estrutura dos famosos jogadores de futebol só que o meu esporte, apesar de bem semelhante (vence aquele que marca mais gols todos os dias), tem suas peculiaridades. E o pior não é ter que explicar as regras para os familiares, mas também para os próprios clientes que nos contratam. E alguns ainda fazem questão de comparar: ?Pega o mesmo esquema tático do futebol e só troca os pés pelas mãos?.

Se eu jogasse futebol de salão (marketing direto), acho que até seria mais fácil de entender. O problema é que meu esporte, apesar de parecido na teoria, é bem diferente na prática. Aí eu preciso ficar sempre catequizando o público em busca de novos adeptos: ?Olha só que divertido: todo mundo pode usar a mão! E sai muito mais gol do que no futebol!?. E não entro, claro, em detalhes do tipo ?pênalti se chama tiro de 7 metros? para evitar polêmicas desnecessárias. O dia em que resolverem jogar de verdade, eles vão aprender.

Mas confesso que, às vezes, cansa um pouco gastar mais tempo explicando as regras do que batendo bola. É por isso que os melhores jogadores de internet estão indo disputar campeonatos em outros países, onde nosso esporte é muito mais valorizado. Assim, em vez de montarmos uma seleção nacional poderosa com os times daqui, ficamos fortalecendo o plantel das agências de fora, cada vez mais ricas e repletas de estrelas internacionais. E na hora de representar o Brasil nos campeonatos mundiais, também precisamos recorrer aos “estrangeiros”.

Principalmente para nossa Olimpíada, também conhecida como Festival de Cannes. Essa é a época do ano em que brilhamos tanto quanto o futebol ? às vezes, até mais. Assim como o judô e o iatismo, é o único momento para ganharmos mais medalhas e holofotes do que nossos primos ricos. Ganhamos espaço na mídia (não só na especializada), matérias no Jornal Nacional (com aqueles títulos mais-do-que-batidos: ?Brasil, a pátria de tênis?), damos entrevistas para vários lugares e, de vez em quando, até o Galvão Bueno narra nossos jogos ? quase como um “Dia de Princesa” para publicitários. Depois de alguns meses, porém, tudo volta ao que era antes. E não aparecemos mais nem no “Show do Intervalo”.

Só que essa semana, pela primeira vez desde que virei “federado” em internet, tive uma prova concreta de que as coisas estão realmente mudando. Li um press release sobre o lançamento de um produto dizendo que ?o tema da campanha foi criado pela agência online e adaptado para o offline?. Ou seja, é praticamente como se o juiz tivesse visto que o gol foi de mão mas, por ter sido um lance muito mais bonito do que um mero chute prensado de canhota, resolveu validá-lo mesmo assim. Méritos para o árbitro, que valorizou muito mais o conceito do que a execução. E uma esperança para aqueles que, acima de tudo, apreciam o futebol-arte.

Em tempo: não acho que o handebol um dia será mais popular que o futebol. Isso nunca. Mas não duvido nada que, em breve, o futebol também possa ser jogado com as mãos. E aí acontecerá o inevitável: os dois esportes virarão um só. [Webinsider]

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Eco Moliterno é publicitário.

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Mais lidas

33 respostas

  1. Ola pessoal, gostaria de saber com quem entro em contato para jogar handball em contagem. Queria fazer algum esport e pensei nisso.

  2. Tenho 22 anos morro em Sto André e procuro algum lugar para treinar Handebol e não consego encontrar me ajude porfavor.

  3. Tenho 22 anos e moro em Santo André e gostaria muito de voltar a jogar Handebol só não sei bem onde devo procuar pra fazer testes.
    Desde já agradeço a compreensão.

  4. Adorei o artigo!!

    E eu axo q o Handebol deveria ser mais divulgados pela tv, pois a unica vez que temos a oportunidade de assistir aos jogos e nas olimpíadas.. O brasil e o pais do futebol, mais tbm tem outros esportes que deveriam ser maias divulgados

  5. Mano, eu precisava de uma sombra de um cara arremessando ao gol, tipo karabatic, bruno souza, balic… tu acha que existe??
    TEm como fazer??

    Um grande abss..

  6. quero entrar em uma escolinha de handebol e naum encontro por aqui
    meu sonho é jogar handebol
    mas naum tenho sance de mostrar ..
    vc consegue me ajudar?
    abrços

  7. na minha opnião as tvs brasileiras deveriam dar mais valor aos outros esportes, principalmente ao handebol, pois e um esporte gostoso de se praticar e ao mesmo tempo emocionante aki em contagem tem times de handebol muitos bons jogo em um deles e e legal participar de campeonatos.

  8. Oi.. quero tanto jogar em um time de handebol pena que minha cidade ñ tem esta modalidade…
    mais quando tinha jogos escolares eu sempre jogava handebol…
    Eu tenho 19 anos, 1,86 de altura, 71 kilos..
    se tiver alguém que conheça algum time que queira eu nele…porq falo…vcs ñ vão se arepender eu jogo bem e posso provar isso…
    eu também jogo futsal e voleibol e futebol de campo…mais quero muito é jogar handebol….
    por favor me ajuda….posso jogar no time de sua cidade….se vc me convidar..

  9. PORFAVOR EU ESTOU A PROCURA DE UM TIME DE HANDEBOLL
    QUEM ESTIVER INTERRESSADO ME PROCURE OU MANDEN E-MAILS:WILIAMUTOR2@HOTMAIL.COM

  10. eu sou jogador de handebol aqui em uruguaiana só q n fui em muitos canpeonatos ate pq n existem muitos

    sabe eu tive uma ideia pq nos n juntamos todas as pessoas q gostariam de jogar handebol masculino
    agente formando um time talvez ja seja um grande começo

    meu msn é:jean_cabeludo@hotmail.com
    quem quiser conversar mais sobre esse esport q mais ama add ai

  11. sou jogador de handebol!
    curto muito esse esporte pena que na minha cidade nao existe muito campeonatos de handebol
    e eu acho que no brasil e muito pouco ensentivado

  12. eu queria saber se tem alguma coisa que faça a mão fica mais grudada a bola, tem algum produto que eu possa usar? por favor se alguem souber deixa a resposta no meu orkut!

  13. Ahhh!
    Excelente texto!
    Identificação completa. Sou designer instrucional (ãnh?!). Trabalho desenvolvendo projetos instrucionais para educação a distância… como é que eu explico isso lá em casa? rs
    Imagine a confusão que foi anunciar para a minha família (não meus pais, que já entendem bem o que eu faço) que eu me mudaria de Minas para Santa Catarina para trabalhar…
    – Trabalhar onde menina?
    – Em uma empresa desenvolvedora de conteúdo para educação a distância tia…
    – Mas se é a distância, por que você tem que ir pra lá?

    Já viu tudo né?

    Bjo.

  14. Parabens meu caro! adorei as comparações e as explicaçoes sobre o que é trabalhar com internet vou adotar algumas coisas dessas nas reunioes familiares!

    Um abraço até mais!

  15. Ticontá uma coisa, sou redatora offline em Nova York (sim, óóó, Nova York!) e se aqui (óóó, Nova York) as pessoas têm dificuldade de entender o que EU faço, imagino o que você não enfrente.
    Sorte, pois, e sucesso também.

  16. Adorei o texto. Nao trabalho com informatica nem com computadores no sentido técnico da expressao, mas passo por uma coisa parecida. Moro na Italia e meus sogros sao, como todos os italianos da geraçao deles e particularmente os que moram em areas rurais, completamente ignorantes. Como eu ja falava italiano quando nos conhecemos, e eu sou a unica pessoa que eles conhecem que fala outras linguas, é praticamente impossivel explicar o que eu faço (sou tradutora), porque o conceito de passar uma coisa de uma lingua pra outra esta muito aquém da capacidade deles de entender. Porque a distancia entre uma lingua e outra é incompreensivel pra eles, saca. Entao meio que criamos um acordo bilateral: concordamos todos que eu sou professora de ingles (também dou aulas, mas 99% da minha renda vem de traduçao), que é mais facil.

  17. Realmente… e olha que meu trabalho não é com informática!

    Mas vivo algo bem parecido… tô terminando design de produtos, e todo e qualquer produto que tenha um mínimo de tecnologia aqui em casa é de minha responsabilidade, rsrsrs…

    Muito boa a analogia, criativo paca.

  18. É incrível a maneira como eu me identifiquei lendo este artigo, parece até que tudo o que está na minha cabeça passou para os dedos do autor e ele levou a bola ao gol.

    Quantas vezes meu pai já veio me pedindo para descobrir a senha do e-mail de não sei quem e, depois da negação, dizer … mas você mexe com computador! Como não pode saber disso? Você passa o dia inteiro nessa merda pra não saber nada?

    Parabéns pelo artigo, Eco!

  19. Nossa, muito bom o texto.

    No momento estou desempregado, mas trabalhava em uma agência de comunicação visual.

    Foi graças a esse emprego que eu descobri que é praticamentem impossível ensinar a palavra banner para alguém com mais de 70 anos, hahahah

    Abraço

  20. Kra parabéns por essa matéria, nossa, eu já passei por vária situações dessas. Faço faculdade de análise de sistemas, eu não sou técnico de televisão e não tenho nem idéia porque a impressora não imprime, dá vontade de mandar pro inferno, sempre tem um primo chato que dá dessas: Diego eu comprei uma impressora mais ela não está imprimindo, o que será que é hein?.
    É engraçado mais ao mesmo tempo é constrangedor. Explicar para os tios o que a gente faz eu nem me preocupo, digo que trabalho com informática, eles balançam a cabeça concordando e dizem: Essa é uma boa profissão, tudo é computador hoje. Agora para os mais novos é pior, não adianta falar que eu trabalho com programação para a internet. Se eles perguntam para você o porque que o teclado deles parou de funcionar e você responde que não sabe, vem a frase que, muitos que trabalham com programação e que não entendem nada de hardware já ouviu com certeza: Mais você não trabalha com Informática?. E aí começa tudo de novo…rsrs
    Eu dei muitas risadas lendo sua matéria kra, achei que eu fosse o único a passar por isso, mais fico feliz em saber que não…rsrs

  21. Muito bom, nossa parece que escreveu esse texto baseado nos meus almoços de domingo em familia, pois alem de trabalhar com Midias Digitais fui jogador de handebol proficional =].

  22. Excelente artigo!
    Conseguiu apontar os exatos pontos onde temos dificuldade na hora de explicar nossa profissão.
    Parabéns.

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