Sobre design, interação e o poder da comunidade

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Uma das frases mais repetidas há alguns anos atrás era: ?o cliente tem sempre razão?. Acontece que os profissionais de qualquer empresa, em qualquer mercado, sabem que isso nem sempre é verdade.

Para evitar descompassos de comunicação entre as partes (é, parece texto de advogado), foi preciso criar políticas claras, onde a empresa deixava claro até onde iam os direitos do cidadão.

Trazendo tudo isso para o trabalho de criação de interfaces, trata-se sempre de uma sequencia (quase) linear de passos, com iterações (vulgo consertos) esporádicas, na medida do budget e tempo do projeto.

Não dá para fazer todos os testes, em diversas fases do projeto, como querem os puristas. Não há dinheiro que chegue e o tempo é sempre o recurso mais escasso. Resultado, eventualmente se faz um teste, em algum momento do projeto, com um número limitado de participantes. Sendo assim, os designers e demais profissionais envolvidos no projeto não dividem o projeto com a sua comunidade.

Ouvindo o público interessado

Agora, imagine colocar seu novo projeto de interface para discussão tendo como apoio:

  • o Flickr para mostrar as propostas de mudanças gráficas;
  • um blog para colher os inputs da comunidade;
  • o Twitter para divulgar que uma nova proposta está no ar.

Pois é… o pessoal da Drupal.org fez isso. Para quem não está familiarizado, Drupal é um sistema de gerenciamento de comunidades, com código aberto, à imagem e semelhança do modelo Linux.

Seu primeiro site foi criado em 2001. Em 2005, foi modificado apenas com os inputs internos (que é chamado de gerenciamento por comitê). Em 2008, os dois líderes do projeto de redesign do site da comunidade Drupal – Mark Boulton e Leisa Reichelt – resolveram fazer o redesign solicitando os inputs da comunidade (gerenciamento por comunidade).

Chocado? Bem, então eu convido o leitor para visitar o blog e ler os inputs da comunidade desde o início do projeto. Há coisas ótimas, criativas, que parecem ter o claro propósito de contribuir para o bem da coletividade.

Entretanto, há sinais claros de imaturidade de alguns dos participantes. É como se essas pessoas não se dessem conta que o tom de voz transparece em cada palavra escrita, e agride. Não contribui, não ajuda e, em parte, desestimula outras pessoas a continuar a ler e contribuir.

Tive a oportunidade de conversar com a Lisa Reichert recentemente. Segundo ela, em algumas situações ela se sentiu muito mal por causa desses comentários. Porém, num dado momento do projeto, algumas coisas ficaram claras:

  • 1. Projetos que solicitam a contribuição da comunidade tendem a ter um material excelente. Porém, nem sempre é possível colocar tudo em prática naquela iteração, sob risco de perder de vista as restrições de budget e tempo;
  • 2. Não é bom, nem é produtivo responder a cada contribuição. Definitivamente, use o blog só para colher os posts e ler. Imagine responder 5 mil posts por dia. No way!
  • 3. Acolha as contribuições, mas não se sinta obrigado a acatar cada uma delas. O membro da comunidade, assim como o cliente, nem sempre tem razão. Ainda mais numa comunidade cujo viés é design, interação e programação e o blog serve de vitrine.
  • 4. Determine datas de início e fim de cada fase de contribuição, ou você não conseguirá colher as contribuições no tempo necessário e ir adiante.

Particularmente, creio que é uma grande ideia, muito bem executada, mas pode não servir para projetos onde sigilo e surpresa são parte do negócio.

Ah! Um último ensinamento da Lisa: ?design não é democracia, seja dono do seu projeto!? [Webinsider]

.

Amyriz Fernandez é diretora de Educação e Formação da MediaMath Brasil.

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5 respostas

  1. Excelente artigo..e sem dúvida um grande projeto desenvolvido pelo pessoal do Drupal.

    Sobre as dificuldades, acho que ainda vale considerar que o drupal é um CMS aberto e que só existe por causa da comunidade.

    Acredito que exista um grande desafio em aplicar esses conceitos para dentro das empresas.

    Talvez um local aonde os próprios funcionários da empresa possam sugerir algo aos projetos de setores alheios já seria um avanço incrível..

    E mesmo o projeto sendo de Design, os ensinamentos colocados servem para qualquer projeto colaborativo.!

    Muito bom tema.!

  2. Seria o cliente a voz de Deus como diz o velho ditado?

    Acho que no caso do Drupal, a comunidade realmente ajudou bastante e contribuiu e muito para o desenvolvimento do projeto, porém, se a gente colocar isso para dentro de uma agência e tentar fazer isso com um cliente, fica meio impossível, já que na grande maioria dos casos o que o cliente quer quase sempre é acatado.

  3. Interessante como pesquisa de satisfação, coleta de opinião e afins mas realmente a maioria dos projetos possuem como parte do negócio sigilo ou surpresa.

  4. Olá Amyriz,

    Interessante colocar esse assunto em discussão. Trabalho como webdesigner há mais de dez anos e aprendi muitas lições neste meio. Concordo com a Lisa quando diz que design não é democracia. O profissional de criação tem que ter um eixo que oriente seu projeto e penso que a colaboração deve orbitar em torno disso. Claro, se você expõe seu projeto a uma comunidade, tem que estar preparado para receber críticas e elogios e considerar os diferentes pontos de vista, mas nunca sem perder o bom senso. Penso que conduzir um projeto de criação em uma comunidade aberta deva ser como mediar uma reunião, há um objetivo a ser alcançado e o mediador deve saber orientar a discussão sem perder o foco do assunto. No fim da conversa, ele deve ser capaz de avaliar as contribuições e descartar os devaneios com muito discernimento e bom senso.

    Abraço,

    Gabriel.

  5. design não é democracia, seja dono do seu projeto! – Não sei não…

    Acho que basta saber ouvir a comunidade, como você disse, selecionando o que realmente vale. Sabendo que democracia está aberto a ignorantes, e nós fomos um deles um dia, e estes tem um espaço para errar para aprender a fazer parte da comunidade.

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