A produtividade da equipe de desenvolvimento

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Você é programador e no seu trabalho é você quem atende o cliente no telefone para discutir regras de negócio. Recebe e-mail dos usuários pedindo suporte e ainda visita clientes com frequencia, onde você, com o seu notebook, faz programação “in-loco”. Além disso, diversos usuários vão até você para tirar dúvidas e reclamar sobre a dificuldade de utilizar o sistema.

Dos 30 clientes que a empresa possui, você tem absoluta certeza de que pelo menos 20 deles possuem versões diferentes do mesmo sistema. Quando não é versão diferente de executável é versão diferente de banco de dados.

Já aconteceu de um dia resolver um bug de um cliente e na próxima atualização descobrirem que a correção de um cliente gerou problema em outro que não tinha nada a ver com o que foi feito no passado.

Além de você, a empresa possui outros 17 programadores, divididos em células de trabalho que atendem produtos específicos mas pode-se observar que o problema acima acontece com todos os produtos da empresa.

Com tantos programadores, o sócio-diretor não entende porque a empresa leva tanto tempo para liberar uma nova versão ou corrigir um bug no sistema e então resolve que todo mundo deve começar a preencher uma planilha contendo a data e hora de início e fim de cada atividade que faz, a fim de ter certeza de que os funcionários não estão desperdiçando tempo com Google, Orkut e Messenger e tornar mais evidente aquilo que estão fazendo.

Após muita revolta, todos os funcionários passam a preencher esta tal planilha, ainda que com dados fictícios ou com pouca ou nenhuma fidelidade, o que mostra ao dono do empreendimento que a estratégia não funcionou.

Após conversar com alguns amigos diretores de grandes empresas e com a ajuda de uma consultoria externa, decide que é hora de implantar o CMMI para padronizar as rotinas de trabalho e também um sistema moderno de gerenciamento de helpdesk, baseado no ITIL, com medição de SLA (qualidade de serviço) etc.

Duas semanas de visitas dos consultores externos para disseminar o CMMI e ITIL e no mês seguinte entra em vigor o novo método de trabalho.

O que será que deu errado?

É o diretor quem pergunta, furioso e decepcionado por ter investido milhares de reais em siglas super modernas e ver a qualidade da sua equipe, que parecia ruim, piorar de vez.

Entenda o que poderia ter sido feito diferente.

1. Não faça microgerenciamento de funcionários

O gerenciamento do tempo é indispensável para oferecer previsão nos projetos, mas cuidado.

Estou cansado de ver empresas que não conseguem (ou não querem) alocar um gestor capacitado a coordenar toda a área de desenvolvimento, definindo quem fará o quê e quando e monitorando entregas para saber se estão ou não no prazo. Em vez disso, se limitam a delegar (ou delargar) a responsabilidade de gerente para o próprio funcionário, fazendo com que o funcionário (e não o gerente) seja o responsável por preencher planilhas com o que está fazendo, quando fez, quanto tempo durou, porque fez assim, onde mexeu, etc etc.

Sob o ponto de vista do funcionário, isto soa como microgerenciamento. Segundo o autor Mc Gregor (Teoria Comportamental do X e Y), esta técnica não deve ser empregada em atividades que requeiram criatividade, como desenvolvimento de software, pois causa desconfiança e um sentimento ruim de trabalho monitorado com controles rígidos.

Encontre um bom gestor. Se não quiser buscá-lo no mercado, desenvolva um plano em conjunto com o colaborador que tenha maior vocação para administração e gestão. Não cometa o erro de promover uma pessoa absolutamente técnica para gerente somente pelo tempo de casa, pois ao invés de gerenciar ela vai querer programar, que é o que no fundo ele gosta de fazer, pois será péssimo para a sua empresa/projeto.

2. Siglas como CMMI, ITIL e PMI não vão resolver o problema

Revistas, jornais e a internet não param de falar em siglas que melhoram produtividade, dão consistência e melhoram o controle sob os processos de desenvolvimento. Mas não cometa o erro de achar que somente a sigla vai causar uma revolução na sua empresa ou departamento.

Todas as siglas trazem sugestões de trabalho excelentes mas que nem sempre precisam ser seguidas à risca. Evite pescar algumas siglas, buscar consultores externos para implantação e achar que vai tudo ser resolvido do dia para a noite.

É a mentalidade dos colaboradores que precisa mudar e isso não vai acontecer do dia para a noite, portanto…

3. Quando for implantar uma metodologia ou modelo de trabalho, faça gradativamente

Jamais implante um modelo de trabalho do dia para a noite. Já vi caso em que a empresa fechou numa sexta-feira sem nenhum controle e quis iniciar segunda-feira com o modelo proposto pelo PMI 100% funcionando.

Não é porque você contratou um excelente gerente de projetos, com anos de experiência em diversas empresas e setores, que a implantação das práticas propostas pelo PMBOK vai acontecer do dia para a noite.

A melhor forma para permitir que a mentalidade dos colaboradores acompanhe as mudanças que serão introduzidas com as novas metodologias é fazer com que sua implantação seja feita por partes.

Inicialmente converse com a equipe. Deixe claro que mudanças vão acontecer e determine um prazo viável para concretizar a implantação do modelo de trabalho.

Esqueça a ideia de que será em semanas ou poucos meses. Trabalhe com prazos médios e, dependendo da mentalidade dos seus funcionários, seja realista. O prazo para a mudança será longo, mas ela deve acontecer, ainda que gradualmente.

O segundo passo é começar a documentar, mas ainda sem métricas ou processos muito rígidos e detalhados. Cobre documentos e exija que sejam utilizados, depois siga para a próxima etapa e assim sucessivamente, até que quando você menos esperar a produtividade da equipe estará em níveis excelentes.

Uma sugestão é segmentar ainda mais este processo implantando inicialmente somente em uma equipe ou em um projeto e depois estenda a toda a empresa. Utilize as pessoas que participaram da implantação como disseminadores de conhecimento e vendedores da ideia e de que o modelo dá certo.

Não deixe de sempre medir o resultado do trabalho, mas…

4. Não use os resultados das métricas como arma para criticar os seus colaboradores

Um erro muito comum é verificar que as métricas não estão indo bem e convocar reunião para aterrorizar os colaboradores cobrando melhoras imediatas.

Métricas ruins em geral são sinais de que o modelo implantado não está de acordo com o nível de maturidade da empresa. Reavalie imediatamente o que está sendo cobrado e verifique se os colaboradores sabem exatamente como funciona o processo e se a qualidade e o nível das documentações que estão sendo geradas estão de acordo com o esperado pela equipe de desenvolvimento.

Não deixe de verificar o nível de envolvimento da equipe com o projeto e principalmente a motivação do gestor da área.

Utilize o resultado das métricas para descobrir onde estão as falhas no processo e corrija-as imediatamente.

5. Participe com toda a equipe da implantação

Não faça reuniões fechadas apenas com os líderes para saber como está a implantação. Em geral, se existir algum problema e eles não se sentirem plenamente seguros em relação as mudanças, eles tentarão acobertar por medo de saber qual será a reação da empresa.

Convoque todo o batalhão de colaboradores para discutir e deixe claro que o objetivo não é criticar o erro mas sim detectar falhas que possam ser aprimoradas para que o projeto de melhoria contínua possa seguir adiante e jamais desista no primeiro obstáculo.

Faça parte deste artigo compartilhando comigo experiências de implantação de metodologias e modelos de trabalho enviando e-mail para falecom@renatoucha.com.br.

[Webinsider]

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Renato Ucha é formado em administração de empresas, especializado em gestão de projetos. Possui vasta experiência na área, além de dar palestras e escrever sobre o assunto.

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13 respostas

  1. Ok, bom artigo!
    Para vender consultoria tá show!
    Creio que um livro que já li [ Gerente Minuto ] … tem algo assim:

    “Como conseguir bons resultados, senão através de pessoas?”
    “Pessoas satisfeitas, produzem bons resultados”

  2. Parabéns pelo artigo e clareza nas explicações.. você conseguiu descrever a realidade de muitas empresas. Penso que o que você escreveu deve ser lido e seguido por todos que almejam trabalhar em TI que seja como desenvolvedor, analista ou gerente de projeto.

  3. Ótimo artigo! Realmente temos muito o que aprender com ele, se quisermos ajudar a melhorar o ambiente de trabalho em empresas que estão em pleno crescimento e são interessadas em controlar melhor seus projetos.
    Trabalho com um bom time de profissionais e passamos por essa fase de implementar os artefatos necessários a uma boa gestão, criados com ajuda de uma consultoria externa e dedicação de colaboradores internos. É muito legal fazer parte disso.

  4. Excelente artigo, o problema é que em 90% dos casos é o que acontece mesmo, por conta do próprio mercado.

    Explico melhor:

    a) Sobrinhos – a quantidade de desenvolvedores sem experiência se aventurando no mercado ocupando vagas para as quais não tem capacidade, por culpa muitas vezes da incompetência do contratante em separar os homens dos meninos. Ávidos por lucros, não entendem o velho ditado que diz “Quando a esmola é grande, o santo desconfia”.

    b) Baixa valorização dos serviços de desenvolvimento e criação de websites – O modelo publicitário clássico (agencias e produtoras) está cada vez mais comum, só que com um porém: a mais-valia está sendo muito melhor explorada pelas agências, que vendem sei lá, um banner em flash por R$ 5.000,00 e compram da produtora por R$300,00. Há exceções, claro, mas entre as pequenas e médias, é isso que rola. Isso faz com que os preços médios, fiquem mais baixos, obrigando todo mundo a cometer horrores por um cliente.

    Poderia citar c,d,…z. O grande lance é que há, pasme leitor, carência de bons profissionais e isso acaba em alguns poucos ganhando muitíssimo bem obrigado e uma grande massa de sobrinhos e gente competente lutando por salários de atendente de supermercado junior, com o perdão dos profissionais desta área, pela comparação.

  5. Opa! Acompanhanho o site via Reader do Google, e gostaria de avisar que os conteudos estão aparecendo duplicados. Este artigo por exemplo apareceu mais de 10 vezes. desculpe estar avisando por aqui!

  6. Estou recebendo uma nova cópia desta postagem de 1 em 1h pelo feed RSS. Podem dar uma olhada nisso? Não gostaria de me desescrever no feed.

  7. Meus parabéns, todo desenvolvedor que ler esse artigo vai se identificar em algum ponto, e muito obrigado pelas soluções bem elaboradas.

  8. Só uma pergunta, você já trabalhou na empresa que trabalho atualmente ? rsrs Esse é o dia-a-dia que vivemos, e o que é mais grave, sem muito avanço.

  9. PARABENS pelo artigo!
    Isso ESTÁ acontecendo atualmente na minha empresa. Gostaria que os envolvidos (Chefe e gestor de projetos) lessem isso, mas estou receoso que pegue mal eu mostrar esse artigo. O que vc acha?

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