NewsGames como moderador entre imagem e linguagem escrita

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Com Luciene Santos.

O poder de penetração dos games comerciais no universo de crianças e jovens foi tão impactante que acabou tirando da linguagem escrita o seu papel de protagonista no discurso narrativo. Ao passar dos anos, a escrita foi colocada em segundo plano e relegada à condição de mera coadjuvante nesse processo. Ou seja, os games “expulsaram” o texto da tela e transformaram a linguagem escrita em uma espécie de código. Certamente, esse foi o maior problema gerado pelos games na aprendizagem tradicional, pelo fato de ele ser quase totalmente norteado pela imagem. A falência do discurso baseado apenas na linguagem escrita foi um duro golpe no processo de ensino como primeira e única interface na perspectiva da aprendizagem.

Esse impacto foi potencializado ainda pela união entre a cibercultura e os games. Como a maior fonte de consumo do ciberespaço, os jogos digitais são responsáveis pela transformação da linguagem escrita em linguagem de programação. Agora, o grosso da informação descritiva se apresenta de forma tácita na tela. A maior parte das linhas de texto do roteiro da narrativa do jogo fica “escondida” em códigos binários invisíveis aos olhos dos jogadores. Com isso, as imagens assumiram a hegemonia da interface e o texto é usado apenas como guia dentro da dinâmica de jogo. Em outras palavras, o texto sumiu! O que parece uma mudança simples é extremamente complexo na medida em que a nossa sociedade vem sendo pautada pela escrita há mais de 600 anos, quando Gutenberg formatou a impressão do livro.

Modelo educacional excludente

O modelo de ensino baseado na escrita no qual Albert Einstein deu seus primeiros passos no mundo do conhecimento encarava o maior cientista da história humana como “burro”. Na escola primária, Einstein foi considerado um verdadeiro fracasso. Tinha muita dificuldade em matérias de memorização como história e geografia, a ponto de um de seus professores dizer que ele não tinha futuro nenhum.

Outro que sofreu na escola foi Thomas Edison, um dos maiores gênios que a humanidade conheceu. Foi expulso da escola porque o seu professor concluiu que ele tinha “cérebro oco” e era “incapaz de aprender”. Realmente, Edison apresentava sérias dificuldades para assimilar pelo modelo de ensino pautado apenas pela linguagem escrita. Na anatomia do cérebro, tanto Einstein quanto Edison explorava o lado direito à procura do conhecimento original. É um tipo de conhecimento que ocorre antes de qualquer conceito pronto e acabado. Na metodologia baseada apenas no texto quem está fora do padrão é excluído. O que nos faz reafirmar que toda aprendizagem causa dor. Mas a maior dor é a exclusão social causada pela miopia do próprio sistema educacional.

NewsGames como sobrevida ao texto

O resultado disso é a queda do interesse do aluno na apreensão de conteúdo de forma tradicional, pois fora da sala de aula ele é formatado pela narrativa dos games comerciais quase totalmente baseados em imagens. Em contrapartida, a narrativa dos NewsGames resolve esse dilema pedagógico de se ensinar na era da imagem com recursos pautados também pelo ato de ler e escrever. Na teoria dos NewsGames, a narrativa do jogo é baseada em três pilares da cadeia produtiva da notícia: produção, publicação e consumo.

As redes sociais funcionam como uma interface descritiva do jogo, na qual os jogadores podem produzir e compartilhar notícias a partir da informação que der origem à trama da narrativa. No campo da imagem, a interface de mapas geoprocessados pode ser associada como tabuleiro de jogo. A iniciativa possibilita transformar linhas de texto de notícia em animação de fatos jornalísticos – são os NewsGames como notícia cartografada. A união entre mapa (imagem) e escrita (texto) potencializa ainda mais o poder informativo do jogo e da própria informação. De forma automática, o que é escrito pelos jogadores se transforma em mapas reais de jogo.

NewsGames como moderador entre dois modelos

A narrativa revolucionária dos NewsGames pode funcionar como um rito de passagem do modelo de linguagem escrita para o modelo dominado pelas imagens. Em função de sua ludicidade, os games baseados em notícia podem reduzir os problemas de aceitação do conteúdo textual dentro da sala de aula, pelo consumo exclusivo dos alunos de imagens de jogos comerciais em casa. Para tanto, o professor deve começar a mesclar games baseados em informação e notícias relacionadas ao conteúdo programático. Nesse sentido, os NewsGames podem ser usados em sala de aula até que a sociedade esteja preparada para assumir, como padrão único, o modelo de linguagem visual.

Aliás, o gênero de games informativos pode contribuir no desenvolvimento da sintaxe visual da imagem. A sua dinâmica pode ajudar na criação de novas metodologias de análise para reduzir os riscos da mudança de modelos de apreensão e compreensão de qualquer conteúdo informativo. Afinal, não podemos negar que caminhamos para o uso exclusivo de imagens como nosso único referencial narrativo. O sucesso dos games se deu muito em contraposição ao uso excessivo do texto como linguagem única de uma época. Na prática de ensino e aprendizagem, a leitura e a escrita foram reduzidas a uma mera reprodução para decifragem de um código linguístico falido.

Devemos deixar de lado a velha ideia de que a linguagem escrita é a melhor forma para definir razões conceituais. No universo da informação, a linguagem da imagem apresenta o mesmo nível de complexidade da linguagem escrita. O mito embutido na frase “uma imagem vale por mil palavras” nos leva a um silogismo que nos induz a erro. Pois escamoteia a ideia de complexidade por trás do discurso imagético, como se a imagem não tivesse uma sintaxe em si. Por trás de toda imagem existe um discurso descritivo que remete a sua contextualização e vice-versa. Na prática discursiva, texto e imagem se revezam no papel de protagonista e coadjuvante da narrativa.

[Webinsider]

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Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.

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