Previsões para o jornalismo digital em 2013 – Parte II

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Com Luciene Santos.

2013 será o ano da consolidação dos processos de verificação. Quem prevê é Mark Little, fundador e executivo-chefe da Storyful – agência especializada em verificar a veracidade de histórias, imagens e vídeos para as agências de notícias. Outra tendência, particularmente pautada em torno do furacão Sandy, é a mudança de foco do papel do jornalista que, por vezes, passará a trabalhar para impedir a disseminação de informações falsas na rede.

“Parece muito contra-intuitivo para os jornalistas, já que não gostam de matar a notícia, mas de espalhar uma história”, justifica Little. Contudo, muitos jornalistas, como Craig Silverman da Storyful, dedicaram boa parte de seus esforços no sentido de desmascarar notícias inverídicas (conhecidas como hoaxes) lançadas nas redes sociais por internautas inescrupulosos, durante a cobertura do furacão Sandy.

Numa delas, Silverman certificou-se de que se tratava de publicação falsa a imagem postada de um tubarão de quase dois metros no jardim de uma casa inundada, em Nova Jersey. “Começamos a ver o crescimento de processos de verificação”, testemunha Little. Ferramentas simples de pesquisa, como Google Maps e TinEye (tineye.com) que ajudam a detectar imagens falsas, estão se tornando comuns na caixa de ferramenta dos jornalistas.

Embora seja uma ferramenta relativamente nova nas redações, o TinEye é um motor de busca de imagens criado ainda no final dos anos 1990. É o primeiro aplicativo a utilizar a tecnologia de reconhecimento de imagens. Para o fundador Storyful, processos de verificação, mesmo ainda tendo a fama de serem ainda muito trabalhosos e demandarem muito tempo da redação, tendem a se tornar cada vez mais industrializados.

YouTube e Instagram para notícias

Se, em 2012, o Twitter foi a plataforma dominante nas primeiras horas de ruptura de uma história, este ano veremos mais jornalistas recorrendo também a outras redes sociais, em busca de vídeos no Youtube e fotos no Instagram. Mas o que é interessante agora, completa Little, é a maneira em que plataformas como o Instagram e, em grande medida o YouTube, estão tentando se tornar o primeiro porto de escala para as pessoas que procuram conteúdo jornalístico interessante em tempos de crise.

O furacão Sandy foi a história do stand-out do ano, quando se trata da ascensão do Instagram. O vimos atuando como uma rede social, não apenas um lugar de postar fotos, mas um lugar onde as pessoas estavam falando em torno de conteúdos, onde as pessoas estavam vindo junto, testando a voracidade do conteúdo, fazendo uma comunicanção com uploaders. [Mark Little, fundador da Storyful]

Little destaca ainda que mais jornalistas foram vistos sentados diante de caixas de comentários do Instagram pedindo permissão para usar mais a imaginação. Com isso, o Instagram se torna, a cada dia, quase uma versão de foto do Twitter, plataforma que ainda manterá o seu grande domínio. Mas o Instagram crescerá bastante para o sucesso da cobertura jornalística em tempos de crise, ou quando houver uma quebra de uma grande da história.

Quanto ao YouTube, Litte prevê que a plataforma vai se tornar mais social do nunca, imitando as características do Facebook. Em 2012, muitos pensavam que a mídia social desapareceria, mas foi o ano em que os profissionais do jornalismo ficaram ainda mais dependentes delas. Agora, Twitter, Facebook, Instagram e YouTube não são mais adicionadores extras, pois se tornaram ferramentas fundamentais para a práticas do jornalismo daqui para frente.

Mais paywalls nos webjornais

Ao apontar as tendências da mídia, Raju Narisetti, editor do Wall Street Journal e WSJ Digital Network, prevê o crescimento do paywalls dos wejornais dos Estados Unidos. “Acho que o conteúdo livre dos jornais vai se tornar mais escasso e formas de cobrança de conteúdo como paywalls tenderão a crescer”, sentencia Narisetti. Contudo, tem a convicção é que mesmo usando paywalls de forma mais calibrada não será a salvação da lavoura da maioria dos jornais.

Narisetti também acha que não haverá uma reviravolta positiva na receita de publicidade. “Receitas de publicidade no jornal impresso e em suporte digital vão continuar a estar sob pressão, por isso redações continuarão a reduzir o quadro de pessoal, apesar da introdução de paywalls.” A boa notícia será que um monte de redações incidirá sobre o negócio do jornalismo mais do que nunca.

Narisetti reintera que 2013 será um ano em que devemos ficar de olho no desempenho de várias empresas. Além de Twitter e Apple no âmbito da mídia, devemos acompanhar também o desenvolvimento de empresas de tecnologia, como a Cisco, Adobe, Microsoft, assim como daquelas de menor porte como Tout, Spreecast e Storify.

E além, é claro, outras empresas, como YouTube, Google Glass e Square, cujos produtos ocupam ainda grande parte da nossa rotina. Sobre o uso de paywalls, Stephen Pinches, gerente de produtos para plataformas emergentes (FT.com), pisa em ovos. No ano passado, a mídia foi sacudida com muitos rumores sobre o uso de paywalls em jornais dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Itália.

Mas, 2013 será o ano em as empresas terão de reavaliar seus modelos de negócios. Pensar cuidadosamente sobre como podem ganhar dinheiro com o próprio conteúdo. Pinches prevê que haverá mudanças no recessivo mercado. “As organizações de notícias terão de adaptar o conteúdo para diferentes tamanhos de tela. Terão que pensar e agir com mais criatividade em torno das formas de apresentação do conteúdo.

Advento da publicidade nativa

Diante das grandes mudanças no ambiente digital, a notícia não pode mais se confundir com spam, sob o risco de perder o seu valor essencial. Do contrário, o conteúdo da notícia pode funcionar como nivelamento da experiência de leitura real com a leitura superficializada. Como solução, John Barnes, presidente da British Association of Online Publishers (AOP), antecipa o aumento da chamada publicidade nativa – anúncio de mensagens que são apresentadas de uma forma amigável e útil.

Um bom exemplo é colocar a peça publicitária em caixas de código captcha (captcha.net). Ao invés de perdir ao usuário para digitar algo sem sentido como ‘gobbledygook’ que muitas vezes ninguém pode ler, é melhor levá-lo a ter uma experiência mais ativa com a marca, fazendo-o digitar uma mensagem publicitária do tipo ‘Eu amo Volvos‘, ou algo parecido. “Você está fazendo uma proposta de publicidade de algo que vive na página já que não vai danificar o valor do site e na verdade é potencialmente muito útil.

E é mais fácil escrever ‘Eu amo Volvos’ do que tentar interpretar um código estranho e excêntrico captcha”, explica Barnes. Como especialista em Business to Business (B2B), Barnes prevê ainda o aumento da tática de uso de anúncios visíveis, que já estão sendo usados pela Forbes.com. “Em anúncios de entrar e sair de vista quando o usuário rola a página, há menos incidência de anúncios na página a todo momento”, explica Barnes.

Forma de visualização de anúncios

“A visualização dos anúncios dentro de uma página de webjornal atingiu um ponto crítico. Segundo Barnes, a confusão é tamanha que o leitor, quando se depara com monte de propagandas, tem muita dificuldade de entender se está diante de uma página de classificados, ou de um site de conteúdo jornalístico.

Se para o anunciante ainda é bastante relativo saber se os anúncios estão funcionando bem na perspeciva da receptividade por parte dos leitores, fica o dilema sobre o que aqueles retângulos e quadrados animados realmente querem dizer. Então, eis a pergunta inevitável que qualquer anunciante deveria fazer a si mesmo na hora de pensar em anunciar: “O que está sendo visto é uma página com anúncios, ou com muito pouco conteúdo?”

Na prática, dependendo de como é formato, o conteúdo jornalístico ganha maior poder de atrair os olhares dos leitores para uma quantidade razoável de publicidade. Uma pesquisa feita pela AOP revelou que a visibilidade de anúncios na parte inferior da página é significativamente mais elevada que no topo. Isso se deve ao fato de as pessoas estarem sendo estimuladas a ler artigos até o final.

Ou seja, estão sendo levadas até a parte inferior da página. “É uma justificativa muito interessante de mudança na forma de visualização de anúncios publicados de acordo com a narrativa moldada pelo jornalismo”, ressalta Barnes. Do contrário, voltamos ao velho dilema: Tostines é mais gostoso porque vende mais, ou vende mais porque é mais gostoso? Porque o dilema do ovo e da galinha já foi resolvido pelos cientistas. [Webinsider]

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Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.

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Uma resposta

  1. Geraldo e Luciene, primeiro gostaria de parabenizá-lo pelos artigos. Li a parte I e II e compartilho da percepção apresentada em cada um. Para mim, três pontos se destacam, e que, por si só, se co-relacionam:

    – estamos nos deparando com um cenário onde o jornalismo se apropria de mídias sociais como ferramentas não apenas de divulgação da notícia, mas de construção efetiva de histórias;

    – essa abordagem possibilita o foco em matérias regionais, engajando comunidades locais, ou seja, ferramentas de alcance mundial segmentadas para lugares específicos;

    – por fim, o desenvolvimento de habilidades por parte dos jornalistas para checar a veracidade dos fatos publicados nessas plataformas tem sido de muita importância, de modo que os hoaxes não prejudiquem o trabalho realizado pelo jornalismo nas mídias sociais.

    Gostaria de convidá-los a ler dois textos que publiquei abordando esses assuntos, em especial o Instagram no jornalismo (http://bit.ly/WpkAK9) e a verificação de hoaxes com a busca avançada do Google (http://bit.ly/TuojlU). Espero que, assim como seus artigos foram comigo, este conteúdo possa contribuir para vocês causando reflexão e surgimento de ideias.

    Obrigado!

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