Inteligência modificada: drogas, estímulos elétricos ou games?

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Com Luciene Santos.

Embora a minha formação acadêmica se limite ao campo dos games como plataformas de informação e notícia, muitos pais brasileiros e italianos têm me procurado bastante preocupados com a dificuldade de aprendizagem dos filhos ainda na primeira escola. De fato, o problema de assimilação de conteúdo na infância e no início da adolescência traz transtornos indesejáveis ao desenvolvimento cognitivo dos jovens com sérios prejuízos na sua vida adulta. Abordamos esse tema em nossa pesquisa de mestrado.

O trabalho resultou na publicação do e-book “Do Odyssey 100 aos Newsgames – uma genealogia dos games como emuladores de informação”. Mas, recentemente, pesquisadores italianos da Universidade de Padova, na Itália, confirmaram que certos games aumentam a capacidade de apreensão de conteúdo. Publicado na revista Current Biology, o estudo afirma que os jogos de ação ajudam crianças disléxicas a lerem melhor.

Doze horas gastas na frente de games melhoram a capacidade de leitura. Mais até que um ano de leitura voluntária, ou através de métodos tradicionais de apreensão de conteúdo. A equipe comandada pelo professor Andrea Facoetti testou a capacidade de leitura, habilidades fonológicas e de atenção de crianças com dislexia, separadas em dois grupos que não eram usuários regulares de videogames. Em nove sessões de 80 minutos, elas foram avaliadas em sua capacidade de atenção e leitura antes e depois de brincar com jogos de ação e não-ação.

Após uma bateria de testes, as crianças que usaram jogos de ação eram capazes de ler mais rápido, sem perder em precisão e também mostraram progresso em outros testes de atenção. Os resultados foram mantidos mesmo após dois meses de sua aplicação. Graças aos games, as crianças disléxicas aprenderam como dirigir e concentrar a própria atenção.  Por esse processo conseguiram extrair a informação relevante de uma palavra escrita de uma forma mais eficiente.

Poder cognitivo dos jogos de ação

Os resultados do estudo são mais uma evidência de que os déficits de atenção visual são responsáveis pelo surgimento da dislexia, uma condição que torna a leitura extremamente difícil para uma criança de 10 anos. “Os jogos de ação melhoram muitos aspectos de atenção visual e favorecem a extração de informações a partir do ambiente”, afirma Facoetti. Essa categoria de jogo age exatamente sobre os circuitos cerebrais ligados à percepção de movimento.

Tal poder acaba reduzindo a excessiva interferência lateral, da qual sofrem os portadores da doença. A narrativa desses jogos funciona como um motor de planejamento de alta carga perceptiva e de precisão, ao criar estímulos extremamente rápidos. Ataca principalmente os problemas de estímulos temporais e espaciais não detectáveis pela visão periférica. Acertar um simples alvo em movimento dentro de um game de ação envolve uma capacidade de percepção do contexto.

Portanto, a rápida atenção aos detalhes em torno do alvo ajuda as crianças disléxicas muito mais do que um simples exercício de leitura. O fato, desses jogos atuarem sobre a capacidade de percepção e atenção e não em competências linguísticas, abre perspectivas para uma intervenção precoce. Ainda não há um tratamento cientificamente testado para a dislexia que inclua esta categoria de videogame.

Contudo, esses resultados são muito importantes para a compreensão dos mecanismos cerebrais causadores da doença. “Não podemos recomendar esse jogo sem o controle ou supervisão de um especialista em reabilitação neuropsicológica. Lembre-se que um tratamento não pode ser improvisado e só deve trabalhar certos tipos de jogos de vídeo”, alerta Facoetti. O estudo é o primeiro passo para a criação de novos programas de tratamento para tentar reduzir os sintomas da dislexia.

Ou pelo menos evitar que o problema atinja crianças antes mesmo que elas tenham a oportunidade de aprender a ler e escrever. A iniciativa surge para amenizar a angústia de muitos pais. Pois, não é raro o abandono do tratamento tradicional por ser considerado chato por muitas crianças. Por esta razão, a equipe de pesquisadores da Universidade de Padova deve lançar em breve um jogo para tablet. O game deve ser adotado em pré-escolas com turmas com até 40 crianças com risco de dislexia.

Inteligência aditivada a choque

Recentemente, a versão online da revista alemã Focus publicou um método de otimização da inteligência sem uso de drogas. Em algumas sessões à base de estímulos elétricos, o cérebro teve a sua capacidade cognitiva aumentada. Mesmo sabendo da natureza eletroquímica do cérebro, os neurocientistas ainda não conhecem os possíveis efeitos colaterais do método baseado em impulsos elétricos. Mas já conseguiram melhorar o desempenho cerebral, sem a necessidade de cirurgia.

Os chamados métodos não-invasivos manteriam o cérebro ‘intacto’. Os cientistas estão trabalhando precisamente em intervenções orientadas para ajudar a atividade cerebral de pacientes nos quais os tratamentos tradicionais falharam. Os primeiros resultados com estimulação transcraniana são animadores. Para estimular certas áreas do cérebro são usados estímulos elétricos em baixa frequência. Até pouco tempo, o mesmo procedimento era utilizado em portadores de inteligência limitada.

Pacientes com depressão e epilepsia também já foram submetidos ao mesmo tratamento. Atualmente, alguns pesquisadores testando em crianças com dificuldades de aprendizagem. E está dando certo! O procedimento é bem simples e aumenta a capacidade de pensar e aprender, inclusive em indivíduos saudáveis. Nos testes realizados houve melhora de desempenho em conteúdos de linguagem e matemática. Aliás, a otimização do cérebro ajudou até na resolução de quebra-cabeças mais complicados.

Pessoas cognitivamente melhoradas

Num futuro não muito distante será possível sintonizar o cérebro a ponto de melhorar o seu desempenho. As pessoas serão mais alertas, mais inteligentes e mais criativas. Mas, no centro do debate, está a questão ética pelo uso indiscriminado do método de estimulação elétrica. Mesmo usado em baixas frequências pode gerar abuso em função da facilidade de aplicação.

A preocupação foi alvo de um relatório do Fórum Econômico Mundial realizado, em Davos, no início do ano. O documento já advertia contra tais formas de dopping do cérebro e um futuro com o mundo dividido entre pessoas normais e cognitivamente melhoradas. Ainda há os efeitos colaterais pelo uso da estimulação elétrica, que serão testados em estudos de longo prazo. O neurologista Vince Clark, da Universidade do Novo México (Albuquerque), já tem opinião formada.

Clark está convencido de que “o estímulo por corrente elétrica em breve substituirá algumas drogas”. Segundo ele, o método de estimulação elétrica é mais seguro porque o procedimento envolve apenas o órgão cerebral, enquanto que as drogas inundam o corpo inteiro e seus efeitos colaterais já são cientificamente comprovados. Apesar da polêmica, novos projetos de pesquisa estão sendo anunciados nessa área.

Um deles é o chamado ‘Projeto Cérebro Humano’ que visa obter uma melhor visão sobre o funcionamento cerebral e está sendo desenvolvido separadamente por cientistas da Europa e dos Estados Unidos. A expectativa é criar um mapa contendo toda a atividade cerebral humana. Estima-se que o orçamento do projeto deva consumir um bilhão de Euros. E qual é o objetivo final dessa pesquisa? A explosão da consciência humana. [Webinsider]

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Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.

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