A garagem cognitiva do pai de Steven Jobs II

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Com Luciene Santos.

As demais dietas da listagem (cognitiva, midiática, informacional e gamificada) funcionam como um composto cognitivo básico no sentido de balancear o funcionamento do nosso cérebro. Quando se fala em uma dieta cognitiva logo se pensa em mídias eletrônicas, como videogames, TV, cinema, e nos esquecendo das mil e uma possibilidades oferecidas pela garagem cognitiva do pai de Steven Jobs. Como já dissemos, antes de tudo, é imprescindível haver um espaço de cognição básico.

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Por definição, mídia é todo em qualquer suporte de transmissão de conteúdo. No Brasil, cerca de 70% da população assistem apenas TV. Muito de nossas mazelas sociais reside em uma dieta de mídias desbalanceada. Para a maioria, ler um livro (que mantém a sua importância numa dieta cognitiva básica) é algo ainda muito raro. Mas até a massificação do e-book em tablets, o livro físico (histórias em quadrinhos, revistas, romances, livros de didáticos) deve ser uma mídia valorizada.

Nutrição cognitiva desproporcional

As velhas mídias impressas ainda devem ser usadas como composto cognitivo básico, embora nenhuma mídia deva sobrepor a outra em tempo de utilização para bem de uma cognição saudável. É justamente a partir de uma nutrição cognitiva desproporcional que nasce a maioria dos problemas relacionados ao uso excessivo dos videogames. Em função de sua grande atratibilidade (basta comparar o joystick e o lápis), alguns games comerciais acabam por ‘entorpecer’ crianças e jovens.

Os heavy gamers são identificados pelo excesso de horas que passam diante da tela do jogo, seduzidos pela profusão de imagens geradas pelas multinarrativas emuladas pelos games. Quando isso ocorre cabe aos pais agirem como gestores da dieta cognitiva dos filhos. Afinal, cada mídia deve preencher o espaço necessário dentro da dieta cognitiva básica, para que não se corra o risco de embotar o motor cognitivo de alguém que está em plena fase de crescimento.

Experiências multidimensionais

Na contramão dessa dieta de mídias, alguns estudos apontariam que a aprendizagem por meio de recursos audiovisuais é muito menos efetiva do que aquela mediada por pais ou educadores. Bebês e crianças aprenderiam muito mais sobre o mundo quando interagem com as pessoas. Ao longo da evolução, a construção do cérebro humano tem sido calcada na interação social.

Segundo essa linha de pesquisa, seria pouco provável que algum aparato tecnológico consiga substituí-la de maneira satisfatória. Contudo, segundo Daphne Bavelier, pesquisadora da Universidade de Rochester, em Nova York, não faz sentido falarmos em consequências unicamente positivas e negativas de assistir televisão ou jogar videogames. Como toda experiência humana, essas também são multidimensionais. Por outro lado, pesquisas revelam diferentes tipos de aprendizes:

Os aprendizes visuais correspondem a cerca de 40% das pessoas, e apresentam facilidade de aprendizado por meio da visualização. Dessa forma, slides com poucas palavras e muitas imagens são mais proativos. Os aprendizes auditivos representam em torno de 30%. Devem ser usadas técnicas verbais e retóricas, através de histórias pessoais ou exemplos eloquentes para apoiar as mensagens principais. Os aprendizes cinestésicos são aqueles que aprendem fazendo, movendo-se e tocando.

Devem ser usados objetos, exercícios escritos, ou fazendo-os participar das demonstrações. Os sinais não verbais causam maior impacto em uma apresentação. Por sua vez, o tom de voz é o segundo fator mais influente e as palavras realmente ditas são o terceiro. Mas, num grande universo de pessoas, como saber quais das três formas de aprendizagem sobressai em cada um separadamente? Por meio de simples testes de aptidão e apreensão de conteúdo dentro do ambiente escolar.

Dieta informacional

Estamos na Sociedade da informação. Alguns pesquisadores, como o sociólogo americano Daniel Bell determina que a Era da Informação começou em 1956, quando o número de ‘colarinhos brancos’ ultrapassou o de operários nos Estados Unidos. Já outros, como Castells, apontam o início dos anos 1960 e meados dos anos 1970 como marco dessa mudança, usando como parâmetro o advento da internet. Diferente de antes, o homem atual está mergulhado em sistemas tecnológicos de informação.

Interconectado em rede, o homo connectus vive em função do poder de suportes cognitivos (smartphones, tablets e games) e midiáticos (TV interativa, internet e redes sociais). Por causa disso, não podemos ser mais ingênuos e continuar a encarar as mídias como mero suporte de entretenimento e lazer. Com o avanço tecnológico, as mídias estão cada vez mais complexas e onipresentes nas nossas vidas.

Lidando com hexabytes de dados

Nesse cenário midiático caótico, como lidar com uma massa infindável de informações todos os dias sem comprometer a nossa dieta informacional? Funcionando como um editor do velho jornal? Não sei, não! A quantidade total de informação produzida no mundo dobrou de 1999 a 2002 e aumenta 30% a cada ano. Mal-comparando, é como se um tsunami informacional se abatesse sobre São Paulo diariamente.

Um estudo feito pela Universidade de Berkeley, dedicado a medir quanta informação há no mundo, estimava que, em 2002, foram produzidos e estocados cinco hexabytes de dados de todos os tipos, somente em meios físicos (papel, filme, meios óticos e magnéticos). Cinco hexabytes equivalem a cinco milhões de terabytes; uma locadora de vídeos de tamanho médio guarda em torno de oito terabytes de vídeo. Um byte equivale a 8 bits, portanto um terabyte equivale a oito trilhões de bits (dígitos binários).

Equivalente a 500 mil bibliotecas

Portanto, um terabyte equivale a oito trilhões de bits. Um bit é a menor unidade de informação no mundo digital, equivalendo a um 0 ou 1 (desligado/ligado), numa sequência numérica binária. Simplificando: cinco hexabytes equivalem aproximadamente ao conteúdo de 500 mil bibliotecas do Congresso Nacional dos Estados Unidos. Cada uma delas com 19 milhões de livros e 56 milhões de manuscritos.

Como editar a informação que você realmente interessa a bem de sua dieta informacional diária? Em primeiro lugar é preciso priorizar aquilo que será útil na sua perspectiva pessoal, familiar e social. À medida em que avançam as tecnologias de recuperação de informação (robots de busca, filtros mais sofisticados) menos teremos a sensação de excesso. Também o uso de novas app’s de feeds e agregadores de conteúdo facilita o processo de seleção da informação que realmente precisamos consumir.

Dieta gamificada

Partindo do princípio calcado no termo gamification (uso de técnicas de jogos fora do universo de games), podemos traçar uma dieta gamificada, através da qual os jogos perdem a sua mera função recreativa, e assumem um viés mais complexo do ponto de vista de sua abrangência social. Os jogos deixariam de ser encarados como tais e assumiriam uma nova função na sociedade, passando a funcionar como ferramentas de ativismo social.

Trata-se de uma dieta específica que utiliza recursos lúdicos de diversos gêneros e categorias de jogos, como forma de trabalhar habilidades e competências direcionadas a objetivos preestabelecidos dentro da comunidade na qual estamos inseridos.O ato de jogar em si deixa de ser um brinquedo de ocasião. Com o advento da tecnologia digital, os jogos tornaram-se uma ótima ferramenta de formatação cognitiva, através da qual são criados novos sistemas de busca de soluções para problemas reais.

No processo de evolução proposto por Darwin, a seleção natural se dá a partir de escolhas aleatórias, sem qualquer controle por parte dos seres humanos. Ou seja, a escolha dos melhores de uma espécie ocorre sem que haja uma intervenção externa ao processo evolutivo. Ao contrário, a proposta das oito dietas busca colocar pessoas comuns no centro de suas perspectivas físicas, emocionais e sociais.

Sistemas de expansão cognitiva

A todo o momento, novos sistemas de expansão cognitiva desafiam o ser humano a buscar novas soluções para problemas cotidianos cada vez mais complexos. Enquanto o autista é escravo de um único algoritmo, o homem atual tem a capacidade de criar sistemas para resolver novos desafios e forjar o seu próprio destino. Na perspectiva da biologia, o homem chegou até aqui não pelos homens que se acovardaram.

Mas, sobretudo, pelos homens que se arriscaram a viver além de seu próprio tempo. É o caso do italiano Filippo Brunelleschi. Há 600 anos, já ostentava um status cognitivo avançado para época. Em 1413, o arquiteto renascentista inventava a perspectiva da imagem. A nova técnica revolucionou a forma como passamos a encarar o mundo e as coisas ao nosso redor.

Com Brunelleschi, aprendemos que a imagem é formada por ângulos, distância e perspectiva. Ironicamente, enquanto buscamos reconhecer a existência entre nós de um novo homem cognitivamente mais capacitado, a TV ainda promove, no seu horário nobre, o rebaixamento do ser humano à condição de mero animal de estimação.

No Big Brother Brasil 9, a novidade era uma casa de vidro instalada em um shopping center, construído numa área nobre do Rio de Janeiro, onde os ilustres desconhecidos eram apresentados como a grande atração num deprimente zoológico humano. Do lado de fora da vitrine, criaturas histéricas também clamavam por reconhecimento diante de uma quimera metafórica de Planeta dos Macacos, que transforma seres humanos em algo menor do que ele realmente é.

A um passo do controle do genoma

No futuro bem próximo vamos codificar o nosso próprio genoma, colocando o homem no centro do controle de sua própria evolução. Portanto, teremos a capacidade de reprogramar o reino da biologia. Ligar e desligar genes ao sabor de nosso próprio interesse e necessidade. Já fazemos isso diariamente com a nossa versão virtual baseada na tecnologia digital, que permite a edição de qualquer código digitalizado. E são as novas tecnologias o fator primordial para as grandes mudanças.

cerebro_provetaEm 2001, o projeto Genoma Humano resultou na publicação do sequenciamento genético do DNA humano, envolveu milhares de cientistas, em centenas de laboratórios em todas as partes do mundo, num esforço conjugado que foi grandemente acelerado e viabilizado pela troca de dados através de redes digitais. Doze anos depois, cientistas da universidade de Edimburgo e Londres conseguiram criar um mini-cérebro humano de proveta, a partir de células-tronco.

A façanha dos cientistas Juergen Knoblich e Madeline Lancaster contou com a colaboração do Instituto britânico Wellcome Trust Sanger. Os resultados foram publicados na edição online de agosto da revista Nature. Se o paradigma tecnológico dobra a cada década, as mudanças, portanto, serão 10 vezes maiores daqui a 50 anos. Você está preparado? Senão, é preciso se preparar para as mudanças que certamente virão. E o que a garagem cognitiva do pai de Steven Jobs tem a ver com isso? Tudo! [Webinsider]

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Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.

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