O computador sumiu!

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A última edição do Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade (veja ao lado) teve muitas caras conhecidas do mundo da pesquisa interativa, palestras e sessões técnicas recheadas de assuntos IHC – design de interface, banda larga, arquitetura da informação (euzinha) e usabilidade, claro. Mas teve também algumas surpresas…

O primeiro dia começou com a palestra do professor John Long com o sugestivo título “HCI is more than a usability of web pages: a domain approach”. Depois de uma longa discussão no evento de confraternização na noite anterior à abertura, o próprio Prof. John Long decidiu que “domain” seria traduzido como domínio. Eu particularmente acho essa tradução perigosa e prefiro usar “assunto”. Pois bem, minha versão para o título: IHC é mais do que usabilidade de páginas web: é uma questão do assunto”.

Se você, leitor que não esteve no congresso, refletisse um pouco sobre o título e estivesse de frente pra mim neste momento, certamente já iniciaria uma discussão sobre o tema. “Como assim uma questão de ‘assunto’”?

É… o que vimos foi uma série de demonstrações sobre como tratar o assunto, ou domínio, em questão para ter uma interação tranqüila e fácil. Nenhuma vez escutei a palavra “usuário”. Apenas o tema era: “domain”…

A mesma linha seguiu outro palestrante internacional, Prof. Barret Caldwell. Com a palestra “Information and Communication Technology Support for Community Services abd Local Government”. Caldwell discorreu uma hora sobre um serviço social americano pela internet, onde comunidades locais trocam interesses via web. Como isso é feito, em quantos links, com testes de usabilidade, em flash ou não, nem passou pela cabeça dele falar. O assunto tratado era simplesmente o “assunto” 

O que estava sendo discutido ali era uma visão da “qualidade da tarefa” em detrimento da usabilidade do sistema. O prof. Long inclusive foi taxativo: “usabilidade é um atributo do homem”. A facilidade ou não de um sistema está na capacidade do cara que está interagindo em entendê–lo, interpretá–lo e acioná–lo. O professor acrescentou ainda que muitos computadores fáceis de usar produzem um resultado pobre enquanto que outros difíceis de lidar produzem um bom resultado.

O que ele quis dizer aqui é que tudo bem se o sistema é complexo. Tudo bem também se o humano que vai operá–lo precisa de um treinamento. O que importa é que o computador dê suporte aos interesses do usuário, dentro do universo dele, do assunto que ele domina, para a realização da tarefa que ele precisa realizar, com qualidade.

Seja sincero… existe coisa mais irritante do que ligar, por exemplo, para um provedor de internet comunicando um problema na sua conexão e o cara te tratar como um “beócio”, dizendo em be–a–bá o que você deve fazer? Existe algo mais irritante do que um software sem atalhos de teclado? Se você é designer e usa o Photoshop, vai me dizer que o bichinho é fácil de usar, é um primor da usabilidade? Mas é muito bom e você, que já deve usá–lo há um bocado de tempo, não vê a menor dificuldade nele. Mas contrate um estagiário novo! Manda o cara, que nunca abriu o software na vida, se virar sozinho, sem manual sem nada! Coitado…

E daí? Você vai querer fazer um teste de usabilidade com pessoas que nunca usaram o micro pra testar a eficiência do programa? Ele vai receber nota zero, aposte! Daí os engenheiros de usabilidade vão tentar colocar milhões de itens extras só pra poder ajudar o pobre do usuário iniciante a se virar sozinho – coisa que ele vai precisar no máximo em 10 dias de uso (sem curso, mesmo assim se ele for muito imaturo mesmo) e depois ficar de saco cheio de ver!

Algumas pessoas lá presentes devem ter achado chatérrimas as colocações dos palestrantes. Mas eu realmente fiquei muito animada com o que elas podem estar acenando. Se de fato estamos algum tempo atrasados com relação aos gringos e se, de fato – isso eu não tenho dúvidas – o mundo acadêmico anda anos luz na frente do mundo dos negócios, me parece que o computador (ou o que entendemos por isso hoje) está sumindo mesmo.

Tirando a tecnologia do foco da atenção e voltando as luzes para o homem, o trabalho humano, o conhecimento do cidadão, a tarefa a ser realizada, certamente usando a tecnologia para dar suporte, estamos caminhando para um mundo melhor! Me parece que estamos nos distanciando daquele mundo Kubrick com computadores Hal controlando nossas vidas. Estamos caminhando para um mundo onde as relações humanas, o respeito à carga horária de trabalho, ao limite de capacidade e portanto estresse, a adequação do conhecimento e capacidades humanas à realização de tarefas são prioritárias.

Os ergonomistas devem estar rindo um bocado… Afinal há tantos anos que eles pesquisam e se dedicam a isso! Me parece que finalmente chegou a hora deles fazerem a festa! Eu, enquanto “ergodesigner” e ser humano agradeço 😉 [Webinsider]

Renata Zilse (renata@maisinterface.com.br) é designer com mestrado em design e arquitetura da informação.

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Uma resposta

  1. eu, apenas uma pessoa estudando arquitetura das informações, tenho a sorte de cair nesses 6 diabos e nos braços e carinho de uma mente privilegiada, capaz de nos mostrar com uma lucidez admirável uma tendência que me parece inequívoca.Parabéns, Renata

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